18 de dezembro, de 2024 | 18:00
Moradores de Coronel Fabriciano relatam o rastro de prejuízos após inundação
Silvia Miranda
Paulo Roberto se preocupa com o possível aumento na conta de água após a limpeza das casas
Por Silvia Miranda - Repórter Diário do Aço
Após verem as ruas transformadas em verdadeiros rios na noite de terça-feira (17), os moradores de Coronel Fabriciano começaram a quarta-feira com as vias tomadas por lama. Em todos os bairros atingidos, o que se via ontem foram dezenas de amontoados de objetos e móveis perdidos com a inundação. O temporal trouxe tristeza, angústia e muitos prejuízos. A Defesa Civil Municipal estima que a precipitação foi de 80mm num período curto de tempo.
Por volta das 17h de terça-feira, um temporal atingiu a cidade. Em poucos minutos, a água das enxurradas e dos ribeirões inundou ruas, casas e cobriu pontes, passarelas e vários veículos. Foram quase 60 minutos de chuva intensa, ultrapassando 80 milímetros de precipitação, e o caos tomou conta das principais vias de acesso. Até mesmo na principal avenida, José Magalhães Pinto, que liga aos mais importantes bairros do distrito de Melo Viana, o alagamento parecia inacreditável.
Ninguém conseguia passar. Carros enguiçaram no meio das ruas e foram arrastados pela correnteza.
Trabalhadores, na tentativa de chegar em casa, desciam dos coletivos e se arriscavam caminhando na água suja. Em alguns bairros, a situação era de total isolamento: ninguém conseguia sair nem entrar. Nem mesmo os motociclistas, com suas ultrapassagens improvisadas, encontraram facilidade para circular pela cidade.
Não deu tempo pra nada”
No bairro Júlia Kubitschek, um dos mais atingidos, vários moradores ainda tentavam contabilizar as perdas materiais na quarta-feira. Edson Paulino Dutra, que mora na avenida Cananeia, perdeu, além de móveis, perdeu vários alimentos perecíveis que seriam usados na fabricação de lanches no trailer onde trabalha. "Quando eu vi, o córrego já estava cheio. Não deu tempo para nada. Perdi tudo que estava na minha casa. Agora é limpeza e reconstrução, e também preciso de um lugar para ficar, porque tenho que tirar tudo de dentro da casa, tentar aproveitar um pouco e o resto é lixo", lamentou.
O aposentado Davi Barcelos, que mora há cerca de 40 anos no bairro JK, contou que enchente igual a essa só viu em 2013. "Foi a última que passou aqui, arregaçando tudo, igual ontem. Perdi sofá, cama, guarda-roupa, a casa ficou cheia de lama. Uma cunhada me acolheu ontem à noite, e hoje meus filhos estão ajudando na limpeza. Mas agora eu espero que a prefeitura venha ajudar a tirar esse barro da rua, porque só na enxada não é possível", relatou.
Conta de água
Além de perder toda a mobília de sua casa, o morador Paulo Roberto de Oliveira também está preocupado com a conta da Copasa, já que precisará de muita água para limpar toda a sujeira. "Prejuízo material todo mundo teve. Não adianta eu falar que perdi tudo, Deus vai me dar em dobro. Minha preocupação é com as pessoas mais carentes na hora de limpar a casa, às vezes sem material de limpeza. E tem a água. Vou gastar no mínimo 15 mil litros para limpar minha casa. Será que a Copasa vai cobrar tudo isso? Peço às autoridades que isentem a tarifa nesses dias, porque todo mundo vai ter um aumento excessivo na conta por causa da limpeza dos prejuízos", argumentou.
Nem tudo é culpa do aquecimento global, alerta professor
Sejam temporais, inundações ou secas, episódios climáticos extremos dos últimos anos são frequentemente associados ao aquecimento global. Contudo, para o biólogo e professor Flávio Barony, do Cefet-MG, campus Timóteo, atribuir tragédias ao aquecimento global ou a eventos naturais tornou-se um álibi comum, mas pode ser evasivo quando fatores locais não são considerados.
Flávio Barony explica que, embora a intensidade da chuva tenha sido atípica para o período de uma hora, as inundações em Coronel Fabriciano não são novidade, já que episódios similares se repetem ao longo dos anos. Segundo o professor, o aumento da vazão durante a enxurrada decorre de áreas que perderam vegetação, seja por queimadas ou pelo uso inadequado do solo.
"A diferença é que as consequências desses episódios de chuva têm se tornado cada vez mais drásticas. Estamos colhendo o resultado das inúmeras áreas que perderam vegetação por queimadas ao longo de 2024. Ou seja, o aumento da vazão decorre de fatores que vão além da expansão urbana. Uma área sem cobertura vegetal pode apresentar 20 vezes mais volume de enxurrada do que um solo protegido por vegetação rasteira ou floresta. Reitero que não houve nenhuma surpresa nos episódios de ontem", analisou.
Topografia
O professor também destacou que regiões com características topográficas mais sensíveis, como a área da rodoviária velha em Coronel Fabriciano, onde toda a água de uma grande região converge como num funil, precisam de medidas protetivas e/ou compensatórias para reduzir o pico de vazão. "Precisamos ser realistas. A falta de planejamento urbano ao longo das últimas décadas criou um cenário onde será muito difícil encontrar soluções para os problemas", concluiu Flávio Barony.
Já publicado:
Governo de Coronel Fabriciano divulga campanha de arrecadação de donativos
Coronel Fabriciano irá decretar estado de calamidade pública após forte chuva
Governo divulga os pontos de apoios às famílias atingidas por enchente em Coronel Fabriciano
Quarta-feira de trabalho para reparar estragos da chuva em Coronel Fabriciano
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Pedro
19 de dezembro, 2024 | 15:25? nítido que o poder público municipal e estadual tem culpa nessas tragedias climaticas, quais foram as grandes obras na cidade para evitar o pior?
E os sistemas meteorológicos avisaram, o que a prefeitura fez?
O tempo vai estiar e o povo vai esquecer, infelizmente o governo municipal nada fará”
Flewdson Campos
19 de dezembro, 2024 | 13:22O especialista foi pontual!
As mudanças climáticas é uma realidade, fato. Porém, desconsiderar a falta de planejamento urbano e consequentemente os danos ambientais gerados é considerar que essa tragédia foi uma simples casualidade.
As autoridades e a todos nós, cabe a reflexão.
Parabéns a professor Flávio pela análise.”
Renato Carneiro Moreira
19 de dezembro, 2024 | 09:55Parabéns, Flavio Barony, pois atualmente é mais fácil atribuirem a estas chuvas pontuais do que assumirem que não fizeram o dever de casa no planejamento correto para as cidades. Vide as chuvas de 1979 e 1987 que alagaram o Vale do Aço, lembram?”