12 de maio, de 2024 | 11:32

Estrada de Ferro Vitória a Minas completa 120 anos conectando histórias e pessoas

Divulgação
O trem de passageiros da Vale passa por 30 estações distribuídas em Minas Gerais e Espírito SantoO trem de passageiros da Vale passa por 30 estações distribuídas em Minas Gerais e Espírito Santo
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
Todos os dias, às 7h, um trem de passageiros parte da Estação ferroviária Pedro Nolasco, em Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, com destino a Belo Horizonte, capital mineira, chegando por volta de 20h30. Ao mesmo tempo, um trem parte de BH com direção a Cariacica com os mesmos horários previstos para saída e chegada.

No Vale do Aço, a população pode embarcar e desembarcar em cinco estações: Antônio Dias, Mário Carvalho (Timóteo), Intendente Câmara (Ipatinga), Ipaba, e Frederico Sellow (Belo Oriente - Cachoeira Escura). Mais velha que a maioria dos municípios da região, a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) significa não somente uma possibilidade de transporte, mas também um vetor de desenvolvimento econômico.

Um dos benefícios mais visíveis da operação da ferrovia foi a ocupação efetiva de extensas regiões do Vale do Rio Doce, fazendo surgir cidades como Colatina, no Espírito Santo, e as mineiras Aimorés, Resplendor, Governador Valadares e Coronel Fabriciano, antes pequenos arraiais. A EFVM movimenta por ano cerca de 30% de toda a carga ferroviária do país.

A locomotiva e seus vagões carregaram no ano passado aproximadamente 750 mil pessoas de diferentes idades, raças, credos e histórias. Cada um com seus destinos e motivos. Alguns seguem sozinhos, outros dividem a viagem e compartilham uma boa prosa. Tem quem pegue o trem para compromissos profissionais, outros procuram o litoral capixaba para se divertirem. Há quem vá fazer tratamentos de saúde, e até mesmo visitar familiares.

Saiba algumas curiosidades sobre a EFVM



Duas coisas são certas: há inúmeras diferenças entre as centenas de passageiros que embarcam neste tradicional meio de transporte, mas também, há pelo menos uma semelhança, eles estão no chamado Trem da Vale, percorrendo sobre um trecho dos 664 quilômetros, interligados por 30 estações da EFVM, a única linha ferroviária “sobrevivente” e que ainda faz viagens diárias de um estado a outro no Brasil.

Matheus Valadares
Ponto de partida da reportagem do Diário do AçoPonto de partida da reportagem do Diário do Aço

Ponto de partida
A reportagem do Diário do Aço embarcou no trem na estação Intendente Câmara, em Ipatinga, quarta-feira (8), com destino à Grande Vitória, para reportar os relatos dos usuários da locomotiva que circula pela linha férrea, que completa 120 anos de existência nesta segunda-feira (13).

Ao chegarmos no nosso ponto de partida, encontramos Maria Eunice, de 55 anos, moradora de Ipatinga, que aguardava ansiosamente para embarcar junto com suas bagagens. Ela relatou que iria viajar para visitar uma tia doente e que optou pelo trem por sua segurança.

“Primeiro entregando na mão de Deus, porque com Deus tudo é seguro. Mas o trem é bem mais seguro, é mais confortável, então é por isso que a gente optou por ele. Vou visitar uma tia que não está muito bem de saúde, não vou a passeio”, revelou.

Há vários aspectos tecnológicos e inovadores que garantem segurança e conforto aos passageiros e tripulação. A velocidade máxima é supervisionada de forma automática e ao alcance do maquinista estão recursos como computador de bordo, sistema de freio eletropneumático que proporciona uma rápida e uniforme resposta de frenagem gerando paradas suaves, o que torna a viagem mais confortável. Há ainda um sistema de comunicação de dados via satélite e uma rede de rádio para comunicação direta e exclusiva entre o maquinista e a equipe de bordo, além da comunicação com o Centro de Controle de Operações (CCO).

Viagem em família
Matheus Valadares
Donizete e Maria ficaram encantados com as paisagens que acompanham a EFVMDonizete e Maria ficaram encantados com as paisagens que acompanham a EFVM

Por outro lado, há os que querem se divertir nas praias da capital capixaba, além de andar na centenária via férrea pela primeira vez. O casal formado por Donizete de Lima, 67, e Maria das Dores, 59, saiu de São José dos Campos, em São Paulo, rumo a capital mineira. O objetivo principal foi visitar os parentes. Durante a estadia em terras mineiras, surgiu a oportunidade de embarcar em um dos vagões para irem à Vitória.

“Muito bom, muito bom mesmo”, respondeu Donizete ao ser perguntado sobre as paisagens. Durante grande parte do trajeto, a estrada de ferro margeia o rio Doce, que em alguns trechos esbanja seu volumoso curso d 'água, encantando quem o vê. “Passando por mato, por rios, é bom mesmo”, continuou Donizete.
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Pico do Ibituruna, em Governador Valadares, visto do trem de passageirosPico do Ibituruna, em Governador Valadares, visto do trem de passageiros

Em alguns momentos foi possível ver Maria levantando de sua poltrona para apreciar a vista do lado oposto de mais perto. Um destes momentos foi quando a composição passou por Governador Valadares e o Pico do Ibituruna se mostrou imponente.

“Ao todo, somos cinco pessoas da família na viagem. A gente já tinha expectativa de fazer essa viagem há mais tempo, e agora coincidiu que a família vai junto, o que torna melhor ainda”, contou feliz Maria das Dores. A família planejou ficar por cinco dias em Vitória e, para o retorno, a passagem de trem já está garantida

Bate-volta
O motorista Fernando Provatti, de 57 anos, e sua esposa Raquel Provatti, 49, embarcaram na estação de Belo Horizonte na quarta-feira com um objetivo bem claro: viajar de trem pela primeira vez. De férias, o casal de Saltos-SP decidiu fazer um turismo diferente.
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Fernando e Raquel Provatti fizeram a viagem exclusivamente para conhecer o trem de passageiros e a EFVMFernando e Raquel Provatti fizeram a viagem exclusivamente para conhecer o trem de passageiros e a EFVM

“Tínhamos realmente outro plano. Compramos moto, fizemos tudo para ir para o Sul do país. Não é o forte dela viajar de moto, mas nós íamos para o Sul de moto para fazer umas serras que é o meu desejo. Compramos roupa, preparamos, mas como a gente depende das férias de trabalho, tinha que ser agora. Mas com essa catástrofe (chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul), descobrimos pelo YouTube que essa estrada é a maior linha de passageiros do país. Então não deu certo o Sul. Falei para ela: vamos fazer algo diferente”, revelou Fernando.

Os dois estavam na classe econômica, e relataram que não haviam encontrado passagens na executiva. O retorno para Belo Horizonte já estava programado para quinta-feira (9), e o passeio era exclusivamente para conhecer a EFVM e o trem de passageiros.

Raquel se mostrou encantada com a viagem, as paisagens e a estrutura do trem, mas sentiu falta de mais produtos ofertados no restaurante.

“Muito bom o atendimento, mas acho que tinha que ter mais opções. De resto, espetacular”, afirmou.
O casal também revelou os passos seguintes para as férias. Ao retornar para BH, iriam pegar o carro e viajar por cidades históricas e pequenos vilarejos mineiros. Ouro Preto e Ouro Branco estavam no roteiro.

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Paisagens que margeiam a EFVM chamam a atenção dos passageirosPaisagens que margeiam a EFVM chamam a atenção dos passageiros


A história da linha
O projeto da EFVM foi aprovado em 1902 e as obras começaram no ano seguinte. Em 13 de maio de 1904, foi inaugurado o primeiro trecho com 30 quilômetros entre as estações Porto Velho, em Cariacica (ES), e Alfredo Maia, em Santa Leopoldina, na região serrana do estado. O trem de passageiros é mantido pela Vale como contrapartida social à sua desestatização, em 1998. No transporte coletivo há um carro que funciona como lanchonete, outro para restaurante, carro exclusivo para cadeirantes, ar-condicionado e serviço de bordo.

Quanto custa viajar no trem de passageiros?
O preço das passagens varia de acordo com as estações de embarque e desembarque e com as classes do vagão. Confira abaixo os valores da estação Intendente Câmara a Belo Horizonte e da Intendente Câmara a Cariacica.
Classe Econômica Ipatinga - Cariacica R$ 52 (Somente ida)
Classe Executiva Ipatinga - Cariacica R$ 82 (Somente ida)
Classe Econômica Ipatinga - Belo Horizonte R$ 35 (Somente ida)
Classe Executiva Ipatinga - Belo Horizonte R$ 58 (Somente ida)
Já o trajeto completo, saindo da capital mineira à Grande Vitória, ou vice-versa, variam de R$ 73 na classe Econômica a R$ 105 na Executiva.



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