11 de fevereiro, de 2023 | 07:59
Média salarial paga ao trabalhador da RMVA é de R$ 2.733,78
Valor é menor se comparado a outras aglomerações urbanas do interior de Minas Gerais
Bruna Lage - Repórter do Diário do AçoDiário do Aço
Antônio avalia que a relação do trabalhador com o salário sofreu alteração recentemente

Em notícias recentes publicadas pelo Diário do Aço, seja de oferta de emprego ou de falta de mão de obra, a média salarial paga ao trabalhador foi assunto em comentários de muitos leitores, no site e nas mídias sociais do jornal. Para muitos deles, na região, o valor pago aos trabalhadores está abaixo do ideal, o que poderia explicar a dificuldade de empregadores em encontrar funcionários.
Em levantamento enviado ao Diário do Aço, o coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço, geógrafo William Passos, aponta que, descontando a inflação, a média salarial paga ao trabalhador da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), considerando tanto os trabalhadores com carteira assinada quanto os servidores públicos estatutários, foi de R$ R$ 2.733,78, ao fim de dezembro de 2021 (dados oficiais mais atualizados encontrados).
Essa é a média calculada pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho. É o número oficialmente utilizado pela Agência Metropolitana, pelo governo estadual e pelos governos municipais. O dado de 2022 ainda não foi divulgado. Essa é uma informação extraída das declarações das empresas ao Ministério do Trabalho. Por lei, as empresas, inclusive do setor público, governos estaduais e prefeituras, devem informar a remuneração paga ao Ministério do Trabalho todos os anos, numa declaração chamada RAIS.
Setores
Com base nesses dados oficiais, William revela que a indústria é o setor que remunera melhor na região. A remuneração média apurada pela RAIS em dezembro de 2021, considerando Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso, foi de R$ 3.667. Dentro do setor industrial, as fábricas de Produção de Laminados Planos de Aços Especiais pagaram R$ 5.927,11 de remuneração média, sem considerar benefícios como auxílio alimentação e refeição e plano de saúde e odontológico, que não entraram nessa conta. Os trabalhadores deste setor integram o que eu chamo de camada rica do Vale do Aço, a elite financeira da região, do ponto de vista estatístico”, salienta o geógrafo.
Ele acrescenta que não considera a comparação com outras regiões adequada e observa que, geograficamente, o Vale do Aço é uma aglomeração urbana com características de metropolização do interior. Isso é o que temos de concreto. Regiões são agrupamentos genéricos que não necessariamente refletem a realidade. A região Vale do Rio Doce, por exemplo, é integrada pelo Vale do Aço e por Governador Valadares. Embora cidades próximas, não podemos afirmar que Valadares, Ipatinga, Paraíso, Fabriciano e Timóteo sejam uma coisa só. São coisas diferentes. Por isso, defendo a comparação por aglomerações urbanas”, explica.
Bruna Lage
William lembra que oportunidades de trabalho e bons salários desestimulam as pessoas a emigrarem

Nesse sentido, comparando o Vale do Aço com as maiores aglomerações urbanas do interior de Minas, isto é, descontando a Região Metropolitana de Belo Horizonte, a média salarial paga no Vale do Aço perde para Uberaba, que pagou R$ 3.077,19 em 2021. Para Uberlândia, que pagou R$ 3.075,05. E para Juiz de Fora, que pagou R$ 2.886,91. Mas está acima da média paga em Montes Claros (R$ 2.416,73) e Governador Valadares (R$ 2.359,07).
Salário e consumo
Quanto maior a média salarial paga numa região, conjunto de municípios ou aglomeração urbana, maior e mais qualificado é o consumo daquela unidade geográfica. E consumo garante ou aumenta o faturamento das empresas e gera mais emprego formal, que, por sua vez, põe mais massa salarial em circulação. Tudo isso movimenta a atividade econômica, estimula pessoas a empreenderem ou a formalizarem um empreendimento já estabelecido e atrai mais empresas de fora da região.
Quando uma grande empresa decide se localizar numa região, ela levanta informações sobre o tamanho do mercado consumidor, o que inclui, principalmente, a remuneração dos servidores públicos e os salários pagos pela iniciativa privada. Quanto maior a média salarial, maior o potencial de faturamento e, consequentemente, maior o porte da empresa que decide se instalar naquele lugar.
Também é importante destacar que oportunidades de trabalho e bons salários desestimulam as pessoas a emigrarem. E quando emigram, estimulam a retornarem quando mais velhas. Isso é bom porque diminui a separação das famílias ou reaproxima os familiares em algum momento da vida. Nas camadas médias, por exemplo, formada exatamente pelos trabalhadores das indústrias, o Vale do Aço tem um sério problema de jovens que saem da região para fazer faculdade em outro lugar e não retornam mais. Isso quando não vão para o exterior. Com isso, as cidades da região perdem na economia e as famílias perdem na proximidade daqueles que mais amam”, enfatiza William.
Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho


Mão de obra x salário ofertado
O economista de Ipatinga, Antônio Nahas, observa que surgiu no país, recentemente, um fenômeno classificado como uberização do mercado de trabalho: pessoas passando a fazer bicos para conseguir renda variada. E isso por um lado é bom, mas gera um passivo, essas pessoas não estão contribuindo com a Previdência Social, não contribuem com o SUS, é uma bomba relógio que vai explodir”, aponta.
O especialista observa que nesse momento em que há uma expetativa de crescimento, de contratação de trabalhadores na região, as dificuldades de contratação começam a aparecer. As pessoas não querem mais, preferem ficar como estão. Recentemente recebi um panfleto de uma empresa querendo recrutar, acredito que seja um fenômeno local e pode estar relacionado aos salários ofertados, que não estão atendendo ao anseio das pessoas, que passaram a se remunerar de outras maneiras. Pode ser que haja uma rigidez muito grande dos salários, as empresas podem ter errado nesse cálculo. Mas o mais importante para mim é o fato de haver investimentos na indústria de Ipatinga”, opina.
Questionado se a média salarial paga ao trabalhador é ideal, Antônio pondera que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) define o salário mínimo ideal em torno de R$ 6.700, de forma que todas as necessidades do trabalhador sejam supridas (alimentação, moradia, vestuário, lazer). É uma meta a ser conquistada, seja por políticas distributivas do governo, seja na melhoria da escolaridade dos trabalhadores, seja por programa de habitação e que vão convergindo para que haja essa melhora do salário da população. Mas se me perguntar se é suficiente, eu diria que não”, conclui.
Veja também:
-Vale do Aço tem a maior população em situação de pobreza e de baixa renda do interior de Minas
-Empreendedores relatam ausência de mão de obra qualificada no Vale do Aço
-Contratação de mão de obra qualificada e de bons funcionários tem se tornado um desafio
-Camada rica do Vale do Aço acumula patrimônio líquido de mais de R$ 13 bilhões
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Marco
13 de fevereiro, 2023 | 10:23Enquanto as empresas não investirem em salários vai ficar sem mão de obra..o pessoal vai continuar indo pro exterior alguns fazendo bico mais não vão sujeitar esses horários malucos e líderes e supervisores e chefia sendo arrogantes pedem experiência escolaridade e outros mais mais não pagam pra isso”
Marcelo
12 de fevereiro, 2023 | 17:51Hoje em dia exige que a pessoa tem escolaridade de nivel superior,falar outro idioma,ter habilidade em imformatica em nivel avançado,pra pagar um salario de 1500R$.dificil hein.Exigem qualuficacoes mas nao pagam um salario compativel,nem uma Usiminas consegue,um horario escravo,onde nao tem uma folga decente,exige producao e producao,onde nao se tem o minimo de valor e respeito,onde os arrogantes gerentes e supervisorez se acham os donos da empresa,onde eles se acham os melhores,faltam com respeito ao funcionarios,desta forma dificil achar quem queira permanecer na empresa,aqui ta igual a China,porem legalizado.”
Aline
12 de fevereiro, 2023 | 11:12Enquanto existir Amoi, sankyu e convaço pagando pra profissional R$1.200,00, vai ser assim.”
Servidora
12 de fevereiro, 2023 | 00:17Juquinha, bem que eu queria kkk sou servidora municipal e recebo menos de 1000 reais dessa média de Ipatinga aí...”
Juquinha
11 de fevereiro, 2023 | 18:51O Sr William,está média é possível somente por causa do funcionalismo público,mesmo que a mão de obra privada é maior,mais o salário é miserável, então não há estimativa do seu relato.”