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25 de maio, de 2022 | 09:54

Com greve no transporte, passageiros precisam se virar e gastar mais para chegar ao trabalho

Sem os ônibus da Saritur circulando, moradores do Bethânia precisaram contar com caronas ou desembolsar quase R$ 30 por um carro via aplicativo

Débora Anício
O motorista dessa van cobrou o valor regular da passagem para transportar passageiros do Bethânia para o Bom RetiroO motorista dessa van cobrou o valor regular da passagem para transportar passageiros do Bethânia para o Bom Retiro

A manhã desta quarta-feira (25) começou com chuva, frio e incerteza sobre como ir trabalhar para os moradores do bairro Bethânia, em Ipatinga. Isso porque teve início nesta madrugada a greve dos trabalhadores do transporte coletivo urbano de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, conforme divulgado pelo Diário do Aço.

Em nota a administração municipal informou que a empresa Saritur "foi notificada a adotar em caráter de urgência medidas para que a população da cidade não seja prejudicada pela greve dos trabalhadores em transportes rodoviários".

Entretanto, a greve continuava até a tarde desta quarta-feira, sem avanços na negociação. A reportagem do jornal foi às ruas saber como as pessoas iriam trabalhar neste dia, sem o transporte público. A greve atinge somente linhas urbanas. As intermunicipais operadas pela Univale, por exemplo, já tiveram definidas, correção de tarifa e acordo salarial com os trabalhadores, situação que ainda não foi resolvida no transporte municipal.

Com o anúncio da greve na noite de terça-feira (24), poucas horas antes de seu início, muitos passageiros foram para os pontos de ônibus sem saber da paralisação. “Descobri no ponto que tinha greve. Tava lotado e muita gente resolveu pegar um Uber para ir trabalhar”, conta Gabriel Chaves, que foi para o ponto na avenida Alberto Giovanini, em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bethânia.

O jovem trabalha numa concessionária de carros na avenida Pedro Linhares Gomes, no Horto, e aguardava a linha 600.2, que geralmente passa às 7h15. Porém, diante da notícia da greve e da espera de dez minutos, ele e uma colega, que trabalha no Shopping Vale do Aço, resolveram pedir um carro via aplicativo, já que precisavam estar no serviço às 8h. “Já chamei há mais de dez minutos e ninguém aceita a viagem. Além disso, está custando R$ 26”, contou Gabriel, que desembolsaria quase 520% a mais do preço da passagem, que é de R$ 4,20, para ir trabalhar.

Débora Anício
Layla e Gabriel ficaram sabendo da greve ao chegar ao ponto de ônibus, no BethâniaLayla e Gabriel ficaram sabendo da greve ao chegar ao ponto de ônibus, no Bethânia
A colega de Gabriel, Layla Cristina, também não sabia da paralisação e nem do motivo da greve (cobrança de reajuste salarial dos empregados do transporte coletivo) e ficou no ponto aguardando o carro via aplicativo.

Outra que foi pega de surpresa no ponto da avenida Alberto Giovanini foi Lucrécia Ferreira da Silva, que sempre espera pelo 600.1 que passa às 7h20, para assim estar no local de trabalho, no bairro Cariru, às 8h. “O pessoal do ponto começou a pegar Uber e eu estou tentando pegar o meu, que está custando R$ 24. Espero que essa greve acabe rápido, porque preciso trabalhar”.

Transtornos

Débora Anício
Os únicos ônibus circulando nessa manhã eram da Univale, e eles ficaram lotadosOs únicos ônibus circulando nessa manhã eram da Univale, e eles ficaram lotados
A manhã não foi fácil mesmo para quem sabia da greve, mas que aguardava que a Saritur disponibilizasse ao menos uma quantidade mínina de carros rodando. “Já são cinco para oito e meu ônibus ainda não passou, mas vou continuar esperando mais um pouco porque não consigo pegar o Univale”, contou Franciele Luciano, que estava no ponto de ônibus em frente o Campo Itamarati, aguardando o transporte para ir ao Centro, onde trabalha.

Ela se referia aos ônibus da Univale, empresa que reajustou o valor de suas tarifas recentemente e está circulando normalmente. “A gente que tem cartão de vale transporte não consegue pegar ônibus da Univale. Já passou um aqui, mas não tenho dinheiro pra pagar. Só tenho o cartão que a minha empresa me fornece”, explicou a passageira. “Também não dá pra pegar Uber e mototaxi, que é mais caro e hoje com a greve está ainda mais caro”.

Diante da dificuldade de ir trabalhar, Franciele entrou em contato com sua gerente, que se disponibilizou a pegá-la, mas no bairro Canaã. Para chegar até o bairro vizinho, ela teria que caminhar, ao menos, de 20 a 30 minutos. Sobre a greve, a passageira quer que ela acabe logo. “Acho que precisa voltar como era antes, com cobradores, e talvez aumentar um pouco a passagem. Acho justo aumentar, mas acho puxado ser mais de R$ 7. Se aumentar até R$ 5,50 eu acho justo, porque o combustível está bem caro agora”.

Desistência

Sem ônibus, sem carona e sem condições de pagar por outro tipo de transporte, a diarista Marluce Nascimento desistiu de trabalhar. “Quando cheguei ao ponto no meu horário normal, o Univale já tinha passado, e agora não tem outro que vá para o Bela Vista, que é onde tenho faxina agendada”, explicou. “Se eu pegar Uber vou gastar R$ 30. Se pagar esse valor na ida e na volta, não compensa, porque minha diária é de R$ 110. Vou mandar mensagem pra patroa justificando, e se ela quiser amanhã eu vou fazer a faxina”.

Leia também:
Greve paralisa 100% do transporte coletivo municipal em Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano
Administração de Timóteo protocola ação contra a Saritur por paralisação do transporte público

Caronas solidárias e pagas

Débora Anício
O namorado saiu de Timóteo para pegar a companheira e suas colegas no bairro Bethânia, em IpatingaO namorado saiu de Timóteo para pegar a companheira e suas colegas no bairro Bethânia, em Ipatinga
Diante da falta de ônibus, muitos contaram com a ajuda de amigos ou parentes para uma carona. Um grupo de mulheres que vive no Bethânia foi ao trabalho em uma van escolar, cujo motorista cobrou o preço da passagem de ônibus para levá-las ao bairro Bom Retiro.

Quem também lucrou com a greve foi Robson, que pegou seu carro e passou nos pontos de ônibus oferecendo transporte, cobrando R$ 5 para levar os passageiros ao Centro e R$ 10 para o Cariru. Até as 8h da manhã ele já tinha levado três “remessas” ao Centro, como relatou. “Estou tentando lucrar um pouco e devo rodar até às 10h30, quando tenho que parar para trabalhar”.

Se os dois motoristas cobraram pela “carona”, houve caso de quem rodou mais de 20km para ajudar a namorada. Caso relatado pela colega da moça, Patrícia Andrelina. Patrícia e mais duas colegas estavam no ponto do Campo Itamarati na manhã desta quarta-feira, tentando chegar ao bairro Horto. Depois de muito tempo de espera, o namorado de uma das colegas, que trabalha na mesma empresa que a companheira, saiu do bairro Santa Maria, em Timóteo, e foi ao Bethânia buscar as três mulheres para levá-las ao Horto.

Débora Anício
''Se o aumento da passagem for a solução, a gente iria pagar. Fazer o quê? Coitado do trabalhador, é só pagar mesmo'', relatou Patrícia''Se o aumento da passagem for a solução, a gente iria pagar. Fazer o quê? Coitado do trabalhador, é só pagar mesmo'', relatou Patrícia
Depois de garantir a carona com o namorado da colega, Patrícia torce para que consiga voltar com o marido, de moto, no fim do dia, por isso já foi para o trabalho carregando um capacete.

Para Patrícia, a greve precisa acabar e a Saritur precisa voltar a ter cobradores em todas as linhas e fornecer mais ônibus, “porque os motoristas estão muito estressados fazendo mil coisas ao mesmo tempo”. Sobre a possibilidade de aumento da passagem, ela disse que concorda. “A Univale aumentou o valor deles. Se o aumento da passagem for a solução, a gente iria pagar. Fazer o quê? Coitado do trabalhador, é só pagar mesmo”, concluiu.

O que diz a Saritur?



Por meio de nota encaminhada ao jornal, Saritur, que detém a concessão do transporte coletivo municipal em Timóteo, parte de Coronel Fabriciano e em Ipatinga explicou que negocia com os trabalhadores desde fevereiro, respeitando a data base.

"Já chegamos a um acordo em todas as questões sociais, mas no econômico, não temos como evoluir. Os contratos no Vale do Aço estão completamente desequilibrados, em função do aumento de mais de 100% do combustível desde o último reajuste. Só esse item representa mais de 30% de aumento no custo, sem contar outros itens como peças, pneus e folha de pagamento. A média dos índices inflacionários no período foi de 38%. Ou seja, não temos condições de fazer qualquer proposta no momento", informou a empresa.

Ainda conforme a nota, a empresa realizou segunda-feira, a terceira reunião com representantes dos trabalhadores, representantes dos municípios, e Tribunal Regional do Trabalho. "Foi marcada mais uma para o dia 2/6, por decisão do desembargador César Pereira da Silva Machado Júnior. Temos sido transparentes desde o início, mas fomos pegos de surpresa pela greve. Estamos trabalhando para que se resolva o mais rápido possível. Contamos com a compreensão dos trabalhadores para retornarem ao trabalho, para que não haja prejuízo para a população".

Nota da administração municipal

A prefeitura de Ipatinga informa que em relação à greve do transporte coletivo municipal iniciada nesta quarta-feira (25) está em busca de restabelecer o completo funcionamento do transporte público.

A empresa Saritur foi notificada a adotar em caráter de urgência medidas para que a população da cidade não seja prejudicada pela greve dos trabalhadores em transportes rodoviários.

O município reitera ainda que mantém o diálogo com a concessionária responsável pelo serviço, no entanto, é contra qualquer percentual de reajuste das tarifas no momento.
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Comentários

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Viewer

25 de maio, 2022 | 16:53

“Se os esquerdistas tiveram que vir aqui para se justificar é porque está claro que a greve tem motivação politica. (como sempre)”

Amadeu

25 de maio, 2022 | 16:49

“Boa tarde .A greve não tem nada a ver com a vinda do Presidente Genocida, os motoristas tem que fazer mesmo a paralização, as empresas só ficando rica e os trabalhadores na merda....Com a vinda ou sem a vinda do Genocida...tem que parar .Fora BOlso”

Eu

25 de maio, 2022 | 16:01

“EU... TRABALHADOR.
OS FUNCIONÁRIOS ESTÃO MAIS DO QUE CERTOS FAZEREM PARALISAÇÃO.
TEM NADA A VER COM BOLSONARO OU ESQUERDISTAS. ISTO NÃO ENVOLVE POLÍTICAS.
A PESSOA TEM QUE PENSAR ANTES DE COMENTAR MERDA.
MOTORISTAS COM HORÁRIO NAS LINHAS SUPER APERTADOS E TRABALHANDO SEM AUXÍLIO DO COBRADOR.”

Trabalhador

25 de maio, 2022 | 15:54

“Pagar carro de aplicativo para ir trabalhar, está totalmente fora da nossa realidade. As corridas estão super caras. E a qualidade do serviço não corresponde ao valor pago.”

Viewer

25 de maio, 2022 | 13:55

“Será que o povo esqueceu como se anda de bicicleta ? temos uma das melhores malhas cicloviárias do país e mesmo assim é pouquíssimo usada, povo vale muito a pena pra saúde e pro bolso andar de bicicleta !”

Gesse

25 de maio, 2022 | 11:55

“A Univale podia pegar essa empresa saritur melhor empresa e a Univale”

Celio Cunha

25 de maio, 2022 | 11:20

“Bom dia caro redator, até não me surpreenderia caso nossa manifestação não seja publicada. Se a greve é um direito constitucional -sagrado- da classe trabalhadora reivindicar aumento de salários e melhores condições de trabalho. Por outro lado, essa mesma constituição por medida de inteligência assegurou deveres a serem observados pelos atores envolvidos nessa seara; tais como os serviços e atividades essências que deveram ser preservados sua cota de manutenção perante a sociedade o transporte coletivo de passageiro está entre eles. Contudo, por se tratar de atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade - ir e vir- (ir ao trabalho, ir ao médico, ir ao colégio/faculdade, sendo que sua - burla- sujeita seus responsáveis as penas da lei.
Dito isso, duas questões precisam de respostas; se a lei diz que a empresa e os usuário, precisam ser informadas 72h antes da suposta* greve e, a mesma disse neste comunicado que não foi. bom, onde estão nossas autoridades que tem por prerrogativas o dever de defender os direitos da sociedade, onde esta o s.r. prefeito que até agora não se pronunciou?
? O por que da -suposta greve- porque se a empresa reclama de defasagem nas suas tarifas em decorrência dos altos preços dos combustíveis e demais manutenção dos seus autos. Contudo não toma atitude pelo ocorrido ?? falta de comunicação previa do sindicato??. Receio que neste angu tem carroço ou estão cometendo locaute (termo em inglês Lockout) em conluio entre compadres e, isso também nós remetemos a situação da falta de cobradores nos coletivos sem que aja uma ação efetiva por parte da prefeitura vez que existe lei proibindo tudo isso aí.”

Guima

25 de maio, 2022 | 10:52

“Será coincidência esta greve do Sindicato ligado a esquerda logo um dia antes da vinda de nosso Presidente Bolsonaro ao Vale do aço? A verdade é que o Sindicato não está nem aí para os trabalhadores.o negócio deles é política e levar vantagens.”

De Olho

25 de maio, 2022 | 10:26

“Já passou da hora da administração municipal encerrar o contrato com a Saritur em Ipatinga. Essa empresa vem descumprindo cláusulas contratuais de forma recorrente. Lado outro, A administração Municipal não faz a parte dela. Falta responsabilidade e compromisso com os usuários do transporte público de ambos os lados. E o povo fica aí no prejuízo.”

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