23 de julho, de 2019 | 09:33

Reconstituição questiona legítima defesa em Naque

Delegado da PC e Promotor de Justiça apontam indícios de execução de prefeito

Wellington Fred
Testemunhas do crime, em que vereador e prefeito brigaram, participaram da reconstituição Testemunhas do crime, em que vereador e prefeito brigaram, participaram da reconstituição
Atualizado às 16h54
Uma equipe da Polícia Civil, comandada pelo delegado João Luiz Martins Barbosa, fez na manhã desta terça-feira (23) a reconstituição do assassinato do prefeito de Naque, Hélio Pinto de Carvalho, de 55 anos, o “Hélio da Fazendinha” (PSDB). O crime foi praticado dia 13 de julho, durante uma briga entre o prefeito e o vereador Marcos Alves de Lima, de 56 anos, o Marquinho do Depósito (PSDC). Prefeito e vereador, que eram adversários políticos, brigaram por causa de uma porteira que o vereador queria instalar em um imóvel de sua propriedade, vizinho de uma área de propriedade do município.

O propósito da reconstituição foi confirmar, passo a passo, os fatos ocorridos antes, durante e depois do crime. Entre a equipe que acompanhou a reconstituição, estavam dois peritos criminais, o advogado de defesa do autor confesso e um promotor de Justiça. Das três testemunhas oculares do crime, uma é o presidente da Câmara, José Fernandes de Oliveira, o Fernandão, 50 anos (Pros), a outra um comerciante e a terceira o cunhado do comerciante, corretor de imóveis.

O advogado de defesa, Evaldo Braga da Silva, afirmou que a reconstituição era de interesse da defesa, para assegurar a correta dinâmica dos fatos. O advogado também pediu para que seu cliente não comparecesse à reconstituição, por entender que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, o que foi atendido pelo delegado responsável pelo caso. Evaldo acrescentou que a defesa vai recorrer da versão apontada na reconstituição, segundo a qual Marquinho do Depósito provocou a situação. Para o advogado, seu cliente agiu em legítima defesa.
PCES
Marquinho do Depósito está recolhido ao presídio de AçucenaMarquinho do Depósito está recolhido ao presídio de Açucena

Wôlmer Ezequiel
Hélio da Fazendinha foi atingido por disparos de revólver calibre 38, efetuados pelo vereador MarquinhosHélio da Fazendinha foi atingido por disparos de revólver calibre 38, efetuados pelo vereador Marquinhos

O delegado João Luiz contesta a tese do advogado. Em entrevista ao Diário do Aço, ao fim da reprodução simulada do crime, afirmou ter ficado demonstrado que houve uma execução no dia 13 de julho. "Surgiu uma dúvida na sociedade, se as outras testemunhas poderiam ou não ter interferido nos fatos. Impossível que elas tivessem interferido para evitar o crime. O autor tinha domínio completo dos fatos. Ele era o único armado no cenário do crime e efetuou os disparos ceifando a vida de Hélio. Dois dos disparos foram feitos pelas costas da vítima, que ao ver a arma tentou correr, foi atingida a cinco metros e caiu. O vereador então se aproxima e finaliza o crime com mais disparos na vítima já no solo. Então, não há que se falar em legítima defesa, nesse momento", detalhou o policial.

O promotor de Justiça da Comarca de Açucena, Igor Peixoto Marques, acompanhou a reconstituição e afirmou que, ao contrário da tese da primeira versão, de injusta agressão, Marcos Alves provocou a ação de Hélio, conforme explicado por três testemunhas oculares do fato. "Na reconstituição ficou claro que, ao contrário de ser injustamente agredido, foi Marcos quem virou as costas, pediu que o prefeito desferisse os golpes (de relho), retirou a arma da pochete enquanto o prefeito era alertado pela testemunha e começou a correr. A cinco ou seis metros de distância, foi atingido pelos primeiros tiros, pelas costas. O prefeito caiu ao solo e o autor desferiu outros tiros para concluir o crime", informou o representante do Ministério Público.

O promotor acrescentou que deverá oferecer uma denúncia por homicídio qualificado contra Marcos Alves, mas antes vai aguardar a conclusão do inquérito, pois as investigações ainda estão em curso. O prazo para a conclusão termina na quinta-feira (25).

O delegado João Luiz reforçou que, desde o princípio dos fatos, o agente provocador é Marcos Alves de Lima. "Não foi Hélio que começou as agressões. Os depoimentos indicam que inicialmente Marcos desferiu um soco no rosto de Hélio, ainda de cima do cavalo que montava. Em seguida desceu do animal e iniciou a discussão. Há uma segunda provocação, quando o vereador vira as costas e manda que o prefeito bata, para que ele (Marcos) possa matá-lo. Não configura aqui a tese da legítima defesa", concluiu.

Quanto à versão que o vereador correu atrás de uma das testemunhas oculares, o também vereador Fernandão, o delegado afirma que a arma de Marcos já estava desmuniciada e não descarta que o pior poderia ter ocorrido, com mais vítimas no local. Já o promotor de Justiça disse ter o entendimento que a intenção de Marcos ao ameaçar o colega vereador era evitar que o prefeito fosse socorrido, pois a testemunha correu para o carro do prefeito e foi alertada para que se afastasse.

Prisão em Vitória

Marquinho do Depósito está recolhido ao presídio da Comarca de Açucena desde a noite de sexta-feira (19), quando foi recambiado do presídio de Viana, na Região Metropolitana de Vitória (ES), para onde foi dois dias depois do crime. Marquinho foi preso em flagrante em Governador Valadares, no dia 13, para onde fugiu depois que matou a tiros o prefeito Hélio da Fazendinha. Autuado na delegacia de Polícia Civil, o parlamentar recebeu um alvará de soltura depois de participar de uma audiência de custódia no Fórum.

Ele deveria ficar na região para aguardar a conclusão das investigações, mas não foi o que ocorreu. Apesar das recomendações da Justiça, Marquinho foi para casa de familiares em Vitória (ES). Sob suspeita de um plano de fuga, a Polícia Civil requereu junto ao Ministério Público e uma solicitação de mandado de prisão preventiva foi acatada na Comarca de Açucena. No dia 16 o vereador foi preso em uma residência no bairro Mata da Praia, na capital capixaba.


Já publicado:
Preso no Espírito Santo vereador que matou prefeito em Naque
Defesa vai recorrer de prisão preventiva de vereador que matou prefeito



MAIS FOTOS

Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário