18 de novembro, de 2025 | 16:30

Deputados mineiros destinaram R$ 7,7 milhões a instituto investigado pela PF por fraude no INSS

Divulgação PF
A investigação aponta que entidade recebeu R$ 708 milhões do INSS entre o início do convênio e a deflagração da operaçãoA investigação aponta que entidade recebeu R$ 708 milhões do INSS entre o início do convênio e a deflagração da operação

Três deputados federais de Minas Gerais destinaram emendas parlamentares ao Instituto Terra e Trabalho (ITT), entidade alvo da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF), que investiga desvios e deduções indevidas em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os repasses somam ao menos R$ 7,7 milhões entre 2022 e 2024. A informação foi publicada pelo jornalista Lucas Ragazzi, do site O Fator, de Belo Horizonte.

Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), Eros Biondini (PL-MG) e Ana Paula Leão (PP-MG) indicaram recursos ao instituto em diferentes exercícios orçamentários. Pettersen foi alvo de busca e apreensão realizada pela PF na quinta-feira (13).

Além dos três parlamentares, consta uma quarta emenda de R$ 285 mil, indicada pela bancada de Minas Gerais em 2024. O autor individual não é identificado por ser uma emenda coletiva.

Pettersen destinou R$ 2,5 milhões ao Instituto Terra e Trabalho em duas ocasiões. Em 2022, indicou R$ 1,5 milhão. No ano seguinte, enviou R$ 1 milhão. Os valores foram integralmente pagos.

Biondini destinou a maior quantia individual ao Instituto Terra e Trabalho: R$ 5 milhões em 2024. O valor foi empenhado e pago. Ana Paula Leão encaminhou R$ 477,5 mil recursos ao instituto em 2024.

O presidente do instituto, Vinícius Ramos da Cruz, foi preso preventivamente pela PF durante a operação de quinta-feira, dia 13/11.

Apesar dos valores indicados à entidade suspeita, somente Euclydes Pettersen é, até aqui, investigado formalmente pela Polícia Federal. Os outros parlamentares, no entanto, podem ainda ser convocados pela CPMI do Senado no Congresso para prestar informações.

>> Siga o canal do Diário do Aço no Instagram

Leia também:
-Fraudes no INSS: ex-ministro de Bolsonaro e deputados são alvos da PF
-Deputado mineiro investigado em fraude do INSS teria recebido R$ 14,7 milhões em propina

Campeão de propinas

A Polícia Federal aponta que Euclydes Pettersen recebeu ao menos R$ 14,7 milhões em propinas para fornecer proteção política ao esquema de fraude no INSS. Segundo a investigação, Pettersen era figura essencial para manter os desvios em funcionamento.

A análise de dados bancários revelou repasses sucessivos a empresas ligadas ao parlamentar, coincidindo com os períodos de liberação de lotes de pagamentos do INSS à Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). O deputado recebia os valores mediante transferências fracionadas para empresas como a Fortuna Loterias, de Governador Valadares, e a Construtora VLH, de Inhapim.

De acordo com a PF, Pettersen era citado nas planilhas de pagamento de propina da Conafer pelo apelido “Herói E” e recebia valor mensal intermediado por um assessor. O relatório policial aponta o deputado como a pessoa mais bem remunerada na estrutura de pagamentos do esquema.

Em troca, conforme a investigação, Pettersen fornecia proteção política à Conafer para impedir investigações contra a entidade e concedia acesso a Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da confederação, a pessoas com influência na indicação de nomes para a Presidência do INSS.

Lavagem de dinheiro público

Para a Polícia Federal, o ITT é identificado como peça-chave da organização criminosa ligada à Conafer. O instituto servia para controlar o fluxo de dinheiro desviado da confederação.
Vinícius Ramos da Cruz, o presidente, é cunhado de Carlos Roberto Ferreira Lopes, apontado como líder do esquema. Vinícius atuava como operador financeiro do grupo.

Segundo a investigação, o instituto recebia milhões de reais e transferia os valores para empresas de fachada que integravam a rede criminosa.

O instituto foi beneficiado por Pedro Alves Corrêa Neto, ex-secretário do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ele liberava recursos públicos para a entidade. Em troca, recebeu mais de R$ 1 milhão em propina do operador financeiro da Conafer, segundo a PF.

A investigação aponta que a Conafer recebeu R$ 708 milhões do INSS entre o início do convênio e a deflagração da operação. Desse total, a confederação desviou 90% dos recursos – R$ 637 milhões – para empresas de fachada e contas de operadores financeiros.

A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em 63 endereços em 15 estados e resultou em 10 prisões. A ação foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal.

Pedro Alves não teve prisão decretada, mas foi submetido a medidas cautelares, entre elas usar tornozeleira eletrônica.

O que dizem os investigados?

O deputado federal Euclydes Pettersen afirma que “Reitero que toda operação representa, para alguns, um fim, e para outros, uma libertação. Já fui alvo de duas operações: em uma delas, fui absolvido, e na outra, o Judiciário sequer recebeu a denúncia, por falta de provas que comprovassem qualquer prática criminosa”, apontou.

“Deixo claro que apoio integralmente o trabalho das autoridades competentes e me coloco à inteira disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários. Acredito na justiça, na verdade e na importância das investigações sérias, conduzidas dentro da legalidade e com total transparência”, completou.

Já, Eros Biondini afirmou que a proposta de emenda ao instituto chegou a ele durante reunião da bancada mineira no Congresso Nacional, ocasião em que entidades costumam apresentar projetos para execução por meio de recursos destinados pelos parlamentares. Veterinário de formação, o deputado disse ter avaliado a iniciativa como uma oportunidade de apoio técnico a pequenos produtores, sem saber que o ITT era vinculado à Conafer.

“Assim que tomei ciência da possível irregularidade em alguns desses planos, busquei o cancelamento da emenda. Não sendo possível, acionei imediatamente o Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF), solicitando rigoroso acompanhamento”, garantiu.

Também em nota ao Fator, a deputada federal Ana Paula Leão, afirmou que destinou o recurso focando na defesa e promoção dos produtores rurais: “A deputada, subscritora do requerimento da CPMI do INSS, atua em defesa e na promoção dos produtores rurais, especialmente dos produtores de leite. Por isso, no ano passado, destinou uma emenda voltada ao fomento do Programa de Melhoramento Genético do Instituto Terra e Trabalho, recurso que ainda não foi pago. Diante dos desdobramentos envolvendo o Instituto, ela já oficiou o Ministério da Agricultura e Pecuária solicitando que não faça qualquer pagamento à entidade, suspendendo a execução da emenda”, afirma a nota.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário