11 de junho, de 2025 | 17:59

Ponte queimada volta a ser alvo de incêndio criminoso

Ligação entre Marliéria e Pingo-d'Água sobre o rio Doce está interditada desde agosto de 2023; falta consenso sobre formas de uso da estrada dentro do Parque Estadual do Rio Doce

Enviada ao Diário do Aço
Incêndio no que restou da ponte interditada foi descoberto no começo da manhã desta quarta-feira Incêndio no que restou da ponte interditada foi descoberto no começo da manhã desta quarta-feira
Alex Ferreira - jornalista do Diário do Aço
A histórica Ponte Queimada sobre o Rio Doce, entre os municípios de Marliéria e Pingo-d’Água, voltou a ser alvo de incêndio criminoso no começo da manhã desta quarta-feira (11). Brigadistas foram mobilizados para apagar as chamas, pois o fogo poderia saltar dos dormentes de madeira, que formam seu tabuleiro, para a vegetação do Parque Estadual do Rio Doce. Ainda não se sabe a extensão dos danos na ponte, cujas vigas são de aço, sustentadas por pilares de concreto. Assista vídeo ao fim da reportagem.

Conforme foi noticiado pelo Diário do Aço, em 21 de agosto de 2023, a ponte foi alvo de um incêndio que destruiu um trecho de 10 metros no lado de Pingo-d’Água. Desde então, está interditada.

A reforma nunca saiu do papel, e a estrada rural que liga o distrito de Cava Grande, em Marliéria, ao município vizinho de Pingo-d’Água foi totalmente fechada no dia 23 de agosto de 2023, sem previsão de reabertura. Do total de 30 quilômetros entre os dois lugares, 22 quilômetros são percorridos dentro do Parque Estadual do Rio Doce, a partir do posto de fiscalização da localidade conhecida como Salão Dourado. Por causa disso, há entraves técnicos para reabrir a estrada.

O que diz o IEF

Procurado pela reportagem do Diário do Aço, o Instituto Estadual de Florestas (IEF),que administrado Parque Estadual do Rio Doce limitou-se a informa que: "A ponte atingida por incêndio nas proximidades do Parque Estadual do Rio Doce está localizada fora dos limites da unidade de conservação. Ressaltamos que as áreas protegidas do parque não foram impactadas, permanecendo preservadas e com funcionamento regular", concluiu.
Enviada ao Diário do Aço
A ponte já tinha sido alvo de um incendio em agosto de 2023 e, desde então, está interditada A ponte já tinha sido alvo de um incendio em agosto de 2023 e, desde então, está interditada

Importância histórica e turística

A atual estrutura em pilares de concreto armado, que têm em média 30 metros de altura e segura vigas de aço da Usiminas, foi construída por volta dos anos 1970.

Durante muitos anos, a ponte sobre o Rio Doce foi o único caminho para o escoamento da produção de carvão vegetal da época, para abastecer a usina siderúrgica Belgo Mineira, em João Monlevade, e, posteriormente, a Acesita, em Timóteo.

Antes, havia no local outra ponte, com uma história ainda mais antiga. Teria recebido o nome de “Ponte Queimada” em razão de um incêndio ocorrido na primeira ponte, construída por volta do século XVIII, ao lado do local onde está a atual estrutura. A autoria deste incêndio tem várias versões, todas sem nenhuma confirmação oficial.

Atualmente, a ponte tem interesse mais turístico e ambiental do que de logística e, antes de ser fechada, era usada pelas equipes do IEF, ciclistas e moradores das comunidades no entorno.

A ligação oficial entre as localidades atualmente pode ser feita pela MG-759, que liga essa região à BR-458.
Notícias do Antigo São Domingos do Prata/Arquivo
Depois da primeira ponte, construída em madeira no fim do século XVIII, foi construída uma segunda ponte, no começo do século XX, substituída depois por outra estrutura, que está no local até hojeDepois da primeira ponte, construída em madeira no fim do século XVIII, foi construída uma segunda ponte, no começo do século XX, substituída depois por outra estrutura, que está no local até hoje

Ligação sobre o rio Doce existe desde o Brasil Colônia

A história oficial mostra que a ponte queimada tem em torno de 250 anos de história. Consta em documentos oficiais que o então governador de Minas Gerais, Antônio de Noronha, mandou abrir uma estrada que, passando pelo vale formado pelo Rio Doce, fosse até a barra do distrito Cuieté, no município de Conselheiro Pena. Ele governou a capitania de Minas Gerais, pertencente à Coroa Portuguesa, de janeiro de 1775 a fevereiro de 1780.

Os operários romperam cerca de vinte léguas em meio às "Matas Nacionais", das quais existe hoje apenas um pedaço: o Parque Estadual do Rio Doce. Foi seu sucessor no governo, Dom Rodrigo, quem completou e inaugurou a obra.
A via ficou conhecida como Estrada Aberta ou do Degredo. A "Aberta", como era chamada, atravessava quatro grandes pontes neste sertão: a do Piracicaba (Antônio Dias), a Ponte Alta (Ribeirão Mombaça), a Ponte Queimada, no Rio Doce, e a do Sacramento Grande (Bom Jesus do Galho).

A ponte do Rio Doce, inaugurada no fim do século XVIII, ficava pouco abaixo da atual, numa corredeira entre os saltos Jacutinga e do Inferno. O nome veio quando a ponte foi incendiada em meados de 1793, tomando então o nome de "Ponte Queimada". Na época, os soldados da colônia acusaram os índios, que acusaram os soldados.

Depois da primeira versão da obra de arte rodoviária, foram construídas mais duas pontes no mesmo lugar. A atual, que hoje precisa de reformas e foi novamente queimada, seria, portanto, a terceira construção.
Alex Ferreira
Posto de controle e fiscalização no Salão Dourado, entrada do Parque do Rio Doce no distrito de Cava Grande, MarliériaPosto de controle e fiscalização no Salão Dourado, entrada do Parque do Rio Doce no distrito de Cava Grande, Marliéria

Ambientalistas querem uso restrito da via

Ambientalistas ouvidos pela reportagem do Diário do Aço afirmaram que, embora haja interesse dos municípios de Pingo-d’Água e de Marliéria na reabertura da ponte após uma reforma, a estrada da mata, entretanto, não deveria ser aberta para o tráfego da mesma forma como era no passado.

A proposta dos ambientalistas é que a estrada tenha, além do posto de controle de acesso no Salão Dourado, na estrada dos limites do parque, também um posto de controle de acesso na ponte, para evitar os problemas históricos do lugar, como caça e pesca ilegais e danos eventualmente provocados pelo tráfego de veículos pesados.

Conforme as fontes ouvidas pela reportagem, a estrada de 22 quilômetros percorre uma área de Mata Atlântica primária e preservada, abrigo de espécies da flora com até 400 anos e da fauna que só existem naquele trecho em função do nível de preservação que o lugar detém.

A ideia é que a estrada da mata seja reaberta para facilitar o acesso ao interior do parque por parte de brigadistas e agentes ambientais para o combate a incêndios, monitoramento da biodiversidade, fortalecimento do turismo de observação de aves, cicloturismo e prospecção científica. Atualmente, o parque abriga vários projetos científicos, alguns deles com financiamento internacional.

O entendimento, acrescenta a fonte, é que a estrada seja aberta como uma ferramenta de educação ambiental e também sirva para iniciativas sustentáveis de ecoturismo, de forma a gerar emprego e renda para a população no entorno.

A reportagem também apurou que os termos para a reabertura da estrada, quando a ponte for reformada, estão numa fase incipiente e ainda sem consenso entre os representantes do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e dos municípios do entorno. Por causa disso, em agosto de 2024 a reforma da ponte teve um pedido de impedimento por parte de entidades não governamentais do meio ambiente.



O que diz a administração de Pingo-d'Água?

Em contato com uma fonte ligada à administração de Pingo-d’Água, o Diário do Aço apurou que haverá uma reunião entre os conselheiros e representantes de entidades ambientais às 9h, no município, para retornar a discussão sobre a liberação do fluxo de veículos e pessoas no local, após uma possível reforma da ponte.

Administração de Marliéria repudia o incêndio e pede investigação do caso

A administração de Marliéria manifestou repúdio ao novo ato criminoso que resultou no incêndio de parte da estrutura da ponte queimada.

Abaixo, a nota divulgada pelo governo:

Trata-se de um ato de vandalismo inaceitável, que atenta contra o patrimônio público e contra os legítimos interesses da população local, especialmente produtores rurais, trabalhadores, turistas e famílias que historicamente utilizam essa via como rota de escoamento de produção e acesso a pontos turísticos da região, como o Parque Estadual do Rio Doce (PERD).

O Município informa que já está em curso processo licitatório para execução de obras de manutenção e reabilitação da referida ponte. A intervenção prevê a substituição completa do madeirame da estrutura, com a preservação de suas características originais e a implantação de dispositivos fundamentais de segurança, como guarda-corpo e reforços estruturais. O investimento ultrapassa a marca de R$ 1 milhão de reais, o que evidencia o compromisso da gestão com a reconstrução de um elo fundamental para a mobilidade, o desenvolvimento e a proteção e educação ambiental.

Diante do ocorrido, é imprescindível a atuação firme e imediata das autoridades de segurança pública para apurar a autoria e motivação do crime, garantindo a responsabilização dos envolvidos.

Também é necessário que se cumpra com rigor o Novo Plano de Manejo do PERD, que prevê, entre outras medidas, a implantação de uma guarita de controle de tráfego na cabeceira da Ponte Queimada, a fim de garantir maior fiscalização sobre o fluxo de veículos e pessoas na área de entorno do Parque.

A Prefeitura de Marliéria reafirma seu compromisso com a recuperação da ponte e com a promoção do bem público, e conclama os demais entes públicos interessados a contribuírem com soluções permanentes para a preservação da estrutura. Entre essas medidas, destaca-se a necessidade urgente de instalação de sistemas de videomonitoramento e vigilância, especialmente após a conclusão das obras, para evitar novas depredações e garantir o pleno funcionamento da via.

Por fim, reiteramos que a reconstrução da Ponte Queimada é uma demanda histórica da população, que merece respeito, segurança e ações concretas - não sabotagens covardes que colocam vidas em risco e tentam inviabilizar os avanços em curso.
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Comentários

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Roberto Selken

12 de junho, 2025 | 08:40

“Leia no Google:
"Dez motivos para a estrada do Colono não passar - Parque Nacional do Iguaçu."”

Leoncio Simoes

12 de junho, 2025 | 07:28

“No ano de 70, 71 tinha uma vila ai eu tinha 6,7 anos de idade tinha uma pensao eu imagino que viviam ai ums 20 familhas,a acesita tinha um armazem eramos felizes com a vida simples, meu pai era motorista do caminhao fnm amarelo, tinha um pedreira nao me lembro onde. Nesta ponte passavam muitos carros, caminhoes, i os onibus eu me lembro que houve um iniçio de incendio,amo este lugar
Leoncio simoes estados unidos”

Jota

11 de junho, 2025 | 20:48

“Com certeza não é ação de vândalos! Não mesmo. Isso é coisa de quem não quer de forma alguma que a ponte seja reformada, com a consequente liberação do trânsito.”

Bruno

11 de junho, 2025 | 18:56

“Queimar pra que? Já está intransitável. Coitado do queimador,está perdendo tempo.”

Ipatinguense

11 de junho, 2025 | 17:29

“Essa estrada deveria ficar permanentemente fechada. O descarte de lixo na borda da mata ciliar às margens da avenida no bairro Bela Vista é uma pequena amostra de que o homem não sabe conviver com a natureza. A reabertura da estrada seria muito danosa ao parque pois temos capacidade de transformar aquilo em um lixão, sem contar incêndios e a caça ilegal (com esse monte de CAC doido pra atirar).”

Roberto Selken

11 de junho, 2025 | 16:57

“Mesmo dilema da Estrada do Colono no Parque Nacional do Iguaçu. A biodiversidade agradece pela redução do fluxo de carros e de gente.”

Viewer

11 de junho, 2025 | 13:54

“Pergunta que não quer calar, o que leva um individuo a sair de casa, entrar num lugar isolado como aquele para queimar uma ponte ?

Tem que ser muito insano ou estar sendo pago para isso, mas mesmo assim fica a pergunta da razão disso.”

Nativo da Região

11 de junho, 2025 | 12:51

“Uma coisa é extremamente certa. Enquanto a ponte não é reativada e a estrada permanece fechada, a biodiversidade é extraordinariamente beneficiada!

Essa estrada sempre foi um ponto extremamente vulnerável para o parque, utilizada por caçadores, pescadores e outros infratores que predam as riquezas do parque.

Qualquer pessoa do vale do aço conhece alguém que já utilizou a estrada para entrar no parque de forma clandestina e subtrair algo.”

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