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11 de junho, de 2025 | 18:00

Professor e geógrafo avaliam crescimento evangélico no Vale do Aço

Arquivo pessoal
Professor, mestre em Cultura e Sociedade, avalia o crescimento evangélicoProfessor, mestre em Cultura e Sociedade, avalia o crescimento evangélico
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
Na edição desta terça-feira (10), o Diário do Aço abordou os dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que evidenciaram crescimento expressivo das denominações evangélicas no Vale do Aço. Agora, no segundo capítulo da apuração, a pergunta central é: por que tantas pessoas têm se voltado às igrejas evangélicas?
Para responder a essa questão, especialistas ouvidos pelo jornal apontam uma combinação de fatores históricos, sociais e estratégicos. De um lado, a atuação comunitária das congregações, por meio de assistência social, grupos de apoio e eventos culturais; de outro, o uso intensivo das mídias sociais e do marketing religioso, que ampliam o alcance e revitalizam o vínculo com fiéis, especialmente entre jovens e famílias em situação de vulnerabilidade econômica.

Teologia da prosperidade
Mattheus Rosa é professor de Sociologia na Escola Estadual Maurílio Albanese Novaes, de Sociologia e Filosofia no Sesi Rinaldo Campos Soares, e mestre em Cultura e Sociedade pela UFBA. Em entrevista ao Diário do Aço, ele pontua que a teologia da prosperidade ajuda a explicar o crescimento evangélico.

O docente lembra que para o sociólogo Max Weber, o protestantismo desde as origens oferecia uma ética da ação no mundo, em que o fiel é agente da própria salvação. “Essa lógica vai se intensificar com o pentecostalismo, que vai prometer cura, libertação e prosperidade imediata e algumas outras coisas. Nós podemos colocar aqui a teologia da prosperidade que é predominante nas igrejas neopentecostais, como a Igreja Universal, Mundial e a Igreja Internacional da Graça, que vai oferecer uma leitura materialista da fé, em que a bênção se manifesta em bens, emprego, saúde e vitória. Essa promessa é altamente sedutora em contextos onde há uma desigualdade econômica grande ou uma crise econômica num dado território”, exemplifica.

Além disso, o profissional pontua que as igrejas evangélicas oferecem mais espaço de protagonismo, principalmente às mulheres, que podem se tornar lideranças, como missionárias e pregadoras. “Isso já foi trabalhado por Cecília Mariz, como empoderamento religioso das classes populares”, acrescenta.

Outro ponto central na avaliação do professor é a linguagem acessível e emocional que os cultos evangélicos apresentam. “Ronaldo de Almeida já descrevia que os evangélicos oferecem uma experiência sensorial marcada pela música, testemunhos, rituais de cura, tudo que vai direto ao coração. Há uma presença territorial efetiva dos grupos evangélicos. Essas igrejas se multiplicam nos bairros, abrem novas congregações com agilidade, cria redes de apoio, que passa pela ajuda alimentar, por visitas, acompanhamento espiritual, enquanto o catolicismo institucional se mantém muito distante das pessoas e ainda dentro da sua lógica centralizada”, avalia.

Política e economia
Quando indagado como mudanças sociais, políticas e econômicas podem influenciar as escolhas religiosas, Mattheus Rosa apontou que a religião é atravessada pela estrutura social, e disse que autores como Karl Marx, Jean Baudrillard já apontavam essa perspectiva.

“Mudanças econômicas como o desemprego, a informalidade, a insegurança alimentar criam demandas por esperança, por sentido, por pertencimento, que são respondidas hoje com muito mais eficácia pelas igrejas evangélicas. A gente tem também outros fatores como o enfraquecimento das instituições públicas, o aumento da desigualdade, que vai gerar uma espécie de terceirização simbólica da proteção social para as igrejas, que passam a representar essa proteção, uma vez que as instituições públicas elas não dão conta disso. Isso tem a ver com alguns estudos feitos por outros estudiosos da religião, não falo por mim, mas posso citar aqui a Cristina Vital da Cunha, Paulo Vitor Lopes, que são alguns estudiosos dessa terceirização simbólica da proteção social", esclarece Rosa.

Para o professor, o catolicismo também sofreu um enfraquecimento político. “Houve um enfraquecimento da teologia da libertação, que desde os anos de 1970 apoiava às lutas por justiça social e aos movimentos populares. A teologia foi perseguida pelo Vaticano nas últimas décadas, perdeu espaço para a Renovação Carismática, que é muito mais voltada para a interioridade da fé, a fé como algo individual do que a transformação da realidade social. As igrejas evangélicas se alinharam nos últimos anos a alguns discursos que prendem, que são caros as pessoas. Os discursos conservadores sobre a família, sobre a moral sexual, sobre a política, e eles passam a ser atores relevantes nas eleições e na produção de identidades políticas, há uma simbiose desses discursos. O campo religioso vai se tornar um espaço de disputa ideológica também, e isso reflete, inclusive, hoje no que nós chamamos de bancada evangélica no Congresso e nas Câmaras Municipais. Tem uma presença também dos grupos evangélicos na política, que facilita essa construção desse pertencimento, desse vínculo, dessa associação entre os discursos e as pautas políticas”, considera.

Arquivo pessoal
Geógrafo associa os números à questão geográfica e histórica do Vale do AçoGeógrafo associa os números à questão geográfica e histórica do Vale do Aço

Geografia
William Passos, geógrafo e coordenador de Estatística e de Pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço, vinculado ao campus Ipatinga do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), avalia que diferentemente do que ocorre na maior parte do território de Minas Gerais, o Vale do Aço não constitui um território que foi povoado pelo processo de colonização portuguesa, com fundação de igrejas e comunidades religiosas, mas foi um uma região que tem o seu processo de ocupação muito vinculado ao século XX, quando o Brasil já não era mais colonizado.

“Isso explica porque diferentemente de muitas cidades de Minas Gerais, sobretudo as cidades históricas, que herdam ainda todo um legado patrimonial, costumes, tradições, no Vale do Aço, isso não acontece aqui. Inclusive, a paisagem do Vale do Aço é bastante diferente das cidades históricas de Minas Gerais, não há a igreja como um elemento fundamental e de referência da paisagem urbana nas cidades da região, que demonstra exatamente o fato de que primeiro é uma região mais recente no seu processo de ocupação, é uma região industrial e são cidades que foram estruturadas a partir do planejamento urbano das grandes indústrias da região e não teve o seu processo de ocupação associado à colonização portuguesa”, sustenta, em entrevista ao Diário do Aço.
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Comentários

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Rj

12 de junho, 2025 | 10:34

“Ô Jose, quem gosta de beleza interior são os Arquitetos e Decoradores.”

Jose

12 de junho, 2025 | 08:20

“Em Mateus 23: 27 está a definição bem clara de nós como sociedade, salvo as muitas exceções, é claro.”

Leitor

12 de junho, 2025 | 05:50

“Esses dados são importantes para entender o cenário político. Faz muito sentido o resultado das urnas.”

B2@

12 de junho, 2025 | 01:13

“E Deus não está preocupado com este placar. Isso é coisa humana. Só interessa ao homem. Quantos de fatos são cristãos? Quantos entrarão?”

Guimarino

11 de junho, 2025 | 22:40

“Nunca vou deixar o Sol, pra ter seu reflexo num espelho, pertenço a verdadeira Igreja, que nasceu no Cenáculo através do Espírito Santo, instituída por Jesus Cristo conforme Mateus 16,18.”

Homem da Primeira Hora

11 de junho, 2025 | 21:10

“Sr.Gildazio, com certeza é possível, estou só reproduzindo, achei muito interessante essa opinião, em relação se católicos estão diminuindo, e protestantes subindo, eu como católico , pra mim é irrelevante, penso que católicos praticantes, não deve ser nem 10% da população brasileira, viver a fé, seguir a verdade de Cristo, testemunhar o Cristo vivo e ressuscitado, não é pra qualquer um.
Que JESUS tenha misericórdia de mim.”

Gildázio Garcia Vitor

11 de junho, 2025 | 19:46

“Sr. Homem Da Primeira Hora, li este "seu" texto, muito bem escrito, há mais ou menos uns 30 dias.”

Tem Mais Fatores Envolvidos

11 de junho, 2025 | 19:32

“Igreja arcaica, padres novos cada vez mais 'estranhos', enfadonhos e antipáticos, missas arrastadas, sermões cansativos, sem emoção alguma. O próprio padre de uma comunidade do Vale do Aço, que leu a notícia deste jornal e foi ''lacrar'' nas redes sociais, reclamando, é a imagem clara do porquê dessa situação. O tal padre padre não sabe nem sequer diferenciar enquente (sem valor científico) de pesquisa científica (censo). E tem mais. Os dados são do censo de 2022. Se atualizar com dados de hoje o crescimento do "evangelistão" foi maior ainda.”

Homem da Primeira Hora

11 de junho, 2025 | 18:00

“A eleição do Papa Leão XIV:

"Existe um tipo de sabedoria que não é elevada. Ele não procura atenção. Ele não grita para ser visto. Ela simplesmente existe, silenciosa, profunda e eternamente. Esta é a sabedoria da Igreja Católica, um corpo que sobreviveu a impérios, a cismas, suportou escândalos e, ainda assim, permanece de pé, firme e sagrado. A Igreja Católica não é uma tendência. Não é uma onda social. É uma instituição que caminha com o tempo, mas escuta a eternidade.

Enquanto o mundo se ocupava de previsões, elaborando listas de cardeais notáveis, analisando alinhamentos políticos e formulando teorias sobre quem seria o próximo Papa, o Colégio dos Cardeais escolheu um caminho diferente. Ignoraram o barulho. Afastaram-se dos holofotes. Entraram no sagrado e regressaram com um nome que o mundo jamais imaginou. Papa Leão XIV. Um nome que não tinha sido sussurrado nos corredores da especulação. Um homem desconhecido nas manchetes. Uma escolha que silenciou todos os analistas e redefiniu a bússola da seleção divina.

Isto não é uma coincidência. É uma confirmação da ordem divina.

O que o Vaticano fez não foi apenas eleger um novo Papa. Fizeram uma declaração ao mundo. Lembraram à humanidade que Deus não segue tendências. Ele define-os. Que a verdadeira liderança nem sempre se encontra no óbvio. Que por vezes, quem carrega o manto não é aquele que o mundo espera, mas aquele que o céu aprova. Este é o mistério da sucessão divina, envolto em silêncio, revestido de oração e selado em sagrada deliberação.

A cada dia que passa, vejo claramente porque é que esta instituição continua a ser venerada. Não é porque os seus membros são perfeitos. Não é porque os seus líderes sejam imunes ao erro. Isto porque, apesar da imperfeição humana nela existente, a Igreja Católica permanece enraizada na ordem sagrada, na governação estruturada e na disciplina espiritual. É uma instituição que domina a continuidade. A sua longevidade não é sustentada pela conveniência, mas pela consagração.

Nenhuma igreja é perfeita. Nenhuma instituição humana está isenta de falhas. A Igreja Católica não é exceção. Nela existem homens e mulheres com diferentes graus de santidade, sinceridade e luta. Mas no meio de tudo isto, permanece um núcleo profundamente espiritual, um centro que se mantém, um sistema que funciona, um ritmo que não se quebra. Há aqueles que estão dentro dos seus muros que servem a Deus em espírito e em verdade, silenciosa, humilde e fervorosamente. A devoção deles não é uma performance. A fé deles não é uma moda. É uma vida.

O que aconteceu na eleição do Papa Leão XIV não é apenas um acontecimento político ou eclesiástico. É um espelho para o resto do mundo cristão. Expõe, por comparação, o caos que reina em muitos ambientes das igrejas modernas, particularmente no espaço pentecostal. Em algumas destas assembleias, as lutas pelo poder substituíram a oração, e a ambição afogou a unção. A liderança é herdada como propriedade. As eleições são manipuladas como acordos comerciais. O púlpito tornou-se uma plataforma para a performance, não um lugar de transformação. O altar tornou-se um local de exposição, não um santuário.

Mesmo entre os chamados irmãos, o amor arrefeceu. A lealdade é transacional. A fraternidade é vazia. É uma tragédia que muitas igrejas pentecostais não conseguem sequer imaginar manter um processo de sucessão tão transparente, espiritual e altruísta. Ajudar um colega ministro é visto como uma ameaça. A ideia de unidade na liderança foi substituída pela competição e pela suspeita. O sagrado está a ser sacrificado no altar do sucesso.

Mas hoje, a Igreja Católica recordou-nos algo que nos esquecemos. Que o reino de Deus não é ruído, mas ordem. Não exibição, mas disciplina. Não a popularidade, mas a pureza. Lembrou-nos que, quando Deus tem permissão para falar, Ele geralmente escolhe alguém que ninguém esperava. Ele ressuscitará o homem que está escondido. Ele levantará aquele que esteve no lugar secreto.

A eleição do Papa Leão XIV é uma lição para a Igreja e para o mundo. É um apelo ao regresso à estrutura, à sacralidade, à tomada de decisões guiada pelo espírito. É a prova de que uma instituição pode ser antiga, mas não obsoleta. Antigo, mas não irrelevante. Tradicional, mas não estagnado. É a sabedoria em ação.

Esta é a sabedoria da Igreja eterna. Este é o mistério da ordem divina. Este é o poder do sagrado. E num mundo afogado em confusão, ela brilha como uma luz que não pode ser escondida.

Que todo o ouvido que ouve ouça. Que todo o olho que o vê aprenda. Que todo o coração que o compreenda regresse ao antigo caminho que conduz à vida.

Verdadeiramente, Deus não pode ser manipulado !! Deus é Deus para sempre!"”

Lu Magalhães

11 de junho, 2025 | 13:52

“Falar que é evangélico é pros fracos...eu quero ver é esse povo hipócrita seguir o que está escrito na Bíblia..seguir um dos principais mandamento que JESUS DEIXOU..amar o teu próximo como a ti mesmo..obedecer o quê está escrito em romanos treze..e ainda fingem quê não enxergam quê o PAPAI DO CÉU não compactua com a podridão quê é a política onde só tem ladrões e enganadores..não querem enxergar quê política e religião não se misturam JESUS foi perseguido por políticos desde o seu nascimento e mais tarde conseguiram se unirem aos religiosos e condenaram o MESTRE à cruz...e detalhe pequeno ignoram o quê o mestre falou em alto e bom tom..."O MEU REINO NÃO É DESSE MUNDO....eita lasqueira..pronto falei.”

Flávio Barony

11 de junho, 2025 | 10:59

“Em que pesem os relatos dos autores citados e bem como os fatores elencados, deve-se também considerar os vários fatos corroborados pela ciência contemporânea e disponíveis em inúmeros artigos científicos, os quais mencionam a Bíblia, que é um livro central nesta relação meramente estatística. Deixo aqui apenas um link a título de exemplo. https://scholar.google.com.br/scholar?lr=lang_pt&q=b%C3%ADblia+e+ciencia&hl=pt-BR&as_sdt=0,5#d=gs_qabs&t=1749649698390&u=%23p%3D2SdsW56T1A8J”

Tião Marreta

11 de junho, 2025 | 10:26

“Acho que esse crescimento tem haver com a evolução da igreja evangélica aos dias atuais e a Católica parou no tempo. Uso de folheto, confissão com padre, pregações e sermões cansativos. Não se ateve a corais jovens na igreja para atrair a juventude para igreja . O celibato não cabe mais nos dias atuais. É a minha opinião, uma análise rasa sem dados ou estudos, mas acho que não errei tanto.”

Geraldo

11 de junho, 2025 | 09:20

“A leitura é simples deste panorama apresentado pelo censo, e os próprios entrevistados colocaram muito bem, a situação, traduzindo.
IGREJA CATOLICA OFERECE A SEUS FIEIS CRUZ,
Protestantes, oferecem , dinheiro, prosperidade,”

Verdade Nua e Crua

11 de junho, 2025 | 09:05

“Evangelicos são a maioria, basta ver o resultado das eleições.”

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