
06 de março, de 2025 | 08:40
Na prevenção ou ação em situações de emergência: as histórias de quem se dedica a proteger Ipatinga
Enviada ao Diário do Aço
Christiane é quem recebe os chamados da população que se encontra em emergência
Por Isabelly Quintão - Repórter Diário do Aço 
Na madrugada de 12 de janeiro, o município de Ipatinga enfrentou uma tempestade com um acumulado de 204mm de precipitação pluviométrica em apenas uma hora. A tempestade foi capaz de provocar transbordamentos de córregos, alagamentos e vários deslizamentos de encostas. Alguns moradores ficaram ilhados, desaparecidos, e dez pessoas perderam a vida. No entanto, a chuva não foi um susto somente para aqueles que residiam nas localidades atingidas. Os trabalhadores que estavam por trás da força-tarefa montada para atender as demandas do temporal também levaram um choque”, detalham em entrevista ao Diário do Aço.
Os profissionais da Defesa Civil atuam diariamente para proteger e assegurar a vida da população. Previnem desastres, reduzem riscos e recuperam danos. Christiane de Oliveira, por exemplo, é oficial de administração há 10 anos e está na Defesa Civil desde 2021. Ela é quem atende aos chamados da população. Christiane conta que esse é um trabalho desafiador, visto que lida com pessoas em situações geralmente complicadas, de emergência, e todas querem uma solução imediata. Às vezes os nervos estão à flor da pele devido ao acontecido, e durante o atendimento precisamos acalmar na medida do possível o munícipe, até para que ele possa explicar melhor qual é a situação e possamos dar um melhor atendimento. Dá um misto de emoções e sensações. A gente sempre se coloca no lugar do outro, para além de servidores, nós também somos pessoas”, detalha ao jornal.
Eu vejo alguma mudança no tempo, já começo a mandar mensagem perguntando se tem previsão de chuva, quantos mm, e já penso nos locais onde geralmente temos ocorrência. Cada mudança de tempo é uma mudança na minha cabeça, principalmente depois da tragédia do dia 12/1. A frase Defesa Civil somos todos nós' é uma verdade. Quando a população entende que, muitas vezes, ao darmos uma orientação num primeiro momento pode parecer ruim, mas é a melhor solução, e nem sempre é fácil para nós, quase nunca é, mas é necessário. Os voluntários, trabalhadores de outros locais da cidade e que estiveram conosco no 12 de janeiro disseram que nunca mais verão um uniforme da Defesa Civil da mesma forma pela nossa rotina de trabalho”, acrescenta a oficial de administração.
Apreensão
O gerente da Defesa Civil, Brayann Urils Azeredo, é engenheiro civil por formação e reforça que a equipe está sempre alerta, especialmente nos períodos chuvosos, quando acontecem mais situações de risco ou sinistros. Quando começa a chover e ventar, a gente tem uma preocupação muito grande e toda equipe fica muito apreensiva, pensando se as pessoas estão em um lugar seguro. Às vezes temos um sentimento muito grande, mas não queremos transparecer um para o outro, para não causar mais preocupação. Queremos transparecer sentimentos da forma mais serena possível para que as pessoas não criem pânico ou desespero que, às vezes, geram uma situação de risco ainda maior” enfatiza.
Acolhimento
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A arquiteta e urbanista Anna Bárbara foi cedida para a Defesa Civil após o desastre do dia 12/01

Já a arquiteta e urbanista Anna Bárbara atua na Seção de Licenciamento de Obras (Selo) e foi cedida para a Defesa Civil após o desastre que marcou a vida de muitos ipatinguenses no início deste ano. Para ela, o trabalho é diferente de tudo que já viveu. É uma realidade que a gente nem sequer conhecia aqui em Ipatinga. Após a tragédia, a gerente convocou nosso setor e falou que todo mundo precisaria ir para a rua, então foi arquiteto, fiscal, engenheiro e até administrador para participar das vistorias, já que foram mais de 3 mil chamados. Tinha que ter tido mesmo um comando, como Ipatinga nunca tinha acontecido nada disso, foi um susto muito grande”.
Anna ressalta que, nesses momentos, é preciso agir e acolher o outro de forma humanizada. As pessoas vinham, contavam toda a história, e pediam informação. E tínhamos, assim como temos no dia a dia, que nos colocar no lugar deles, que estão passando por uma dificuldade. Às vezes, uma pessoa perdeu tudo o que tinha e trabalhou anos, a vida inteira para conquistar. Tínhamos que ter sensibilidade para conversar, orientar”, enfatiza.
Emergencial
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Euder foi contratado emergencialmente por conta da chuva que atingiu Ipatinga em janeiro

O engenheiro Euder de Souza Marques foi um contrato emergencial da Defesa Civil. Euder pontua que o simples” é o que funciona durante as abordagens aos atingidos. Muitos imóveis receberam uma notificação de interdição no mês de janeiro na nossa primeira intervenção. Fazendo a revistoria, avaliamos que ainda havia pessoas residindo nessas casas com alto risco. E como engenheiros temos observado que, se usarmos uma linguagem muito técnica, as pessoas não absorvem e não aceitam aquela informação. Então tentamos usar uma linguagem simples, para que elas entendam que precisam abandonar o local, e que o principal bem delas, que são os filhos, a esposa ou o marido, estão em risco”.
Fomos numa casa que estava na lista de demolição, chegando lá a gente viu que além de não demolir o imóvel, porque avaliando tecnicamente não havia risco estrutural, poderíamos liberar a família a voltar. Vimos a alegria no olhar daquelas pessoas. Ao lado dessa residência, havia outra que sofreu um colapso total, e lá dentro duas pessoas que foram a óbito. Recebemos o filho delas, e nele vimos o olhar de tristeza. Temos que ter uma estrutura emocional grande para dar amparo. A gente é ser humano. Quando é bem material, ainda conseguimos orientar as pessoas que elas conseguem recuperá-lo, mas quando é uma perda humana, o impacto é maior e também sentimos a dor dela”, complementa o engenheiro.
Dever cumprido
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Júlio César ressalta que é muito gratificante trabalhar protegendo as pessoas

O secretário adjunto da Secretaria de Segurança e Convivência Cidadã, Júlio César Teodoro, destaca que os trabalhos desempenhados são árduos, mas gratificantes. Todo trabalhador sai de casa para defender o seu trabalho. Às vezes, deixa o filho passando mal, uma esposa doente, seus problemas em casa. Mas chega no serviço e consegue desempenhar um trabalho maravilhoso, enfrentando situações que requerem uma atenção redobrada e até mesmo imediata. Há dias em que não conseguimos voltar para a casa, visto que temos que monitorar uma área de risco para salvar a vida de uma pessoa. Quando chegamos, estamos exaustos, mas felizes porque fizemos o que queríamos, que é ajudar o próximo. E o reconhecimento da população dá um ânimo. Acordamos no outro dia ainda mais comprometidos. Proteger as pessoas é muito gratificante”, conclui.
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