02 de abril, de 2023 | 08:00

Escolas devem ser alertadas para prevenção à violência

Fernando Frazão/Agência Brasil
Sílvia Palmieri, mãe da professora Patrícia, que não foi ferida, deixando a escola  Sílvia Palmieri, mãe da professora Patrícia, que não foi ferida, deixando a escola  
(Stéphanie Lisboa - Repórter do Diário do Aço)
Um episódio de violência dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo, marcou a semana que passou. Um adolescente de 13 anos, de posse de uma faca, matou uma professora e feriu mais quatro pessoas. A morte de Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, que exercia o ofício que amava, comoveu o país e completa, nesta segunda-feira (3), uma semana.

A violência nas escolas é uma realidade no país já há algum tempo. Um estudo publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2014, analisando a violência contra professores e diretores escolares, colocou o Brasil em primeiro lugar na lista, elaborada com base no depoimento de mais de 100 mil educadores ao redor do mundo. Entre os brasileiros, 12,5% relataram ter sido vítimas de agressão verbal ou intimidação pelo menos uma vez por semana. Índice mais alto entre os 34 países pesquisados, que apresentaram uma média de 3,4%.

Atenção
Fatos como o registrado na capital paulista acendem o alerta da sociedade, das famílias e das autoridades. Mas o assunto não pode ser tratado apenas quando ocorrem situações trágicas, defende a professora do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Valéria Cristina de Oliveira, que trabalha de forma direta com o tema violência em escolas. “Esse é um tema que deve ser considerado com bastante atenção também fora dos períodos em que nos deparamos com situação de muita gravidade. Entre outras coisas, porque geralmente até que um evento como esse ocorra ele já deu sinais que aconteceria”, argumentou.

Pequenos sinais
Valéria explica que não necessariamente sempre que alguém é agressivo, ou desrespeita os colegas, pratica bullying ou sofre bullying, vai ter um evento seguinte “Porém, esses são preditores importantes desse tipo de fenômeno”. Segundo a professora, é preciso atenção aos pequenos sinais para construir um processo de prevenção a situações de violência em escolas.

“Que não são necessariamente tão pequenos, mas que são pequenos quando comparados a agressões físicas e ameaças mais evidentes. Muitos problemas acontecem nas relações entre esses estudantes e até mesmo envolvendo pessoas adultas na escola, onde uma observação mais atenta do cotidiano poderia ter informado antes que esses eventos se tornassem algo mais grave”. Um exemplo é a prática de racismo, que segundo Valéria, compromete a qualidade das relações e afeta o clima escolar.

Responsabilidade de todos
De acordo com a professora, para que eventos violentos, que são comuns fora da escola, não se normalizem no ambiente escolar, é preciso a participação de todos: equipe pedagógica, família e estado. “Há um espaço importante para administração desses conflitos no espaço escolar, uma observação atenta da equipe pedagógica para trabalhar com isso. Porém também é fundamental que haja um apoio a essa equipe”, disse.

Mas não basta apenas a participação da escola. “A relação com a família também é central”. Para completar, o Estado pode e deve ajudar. “Aí entra um papel fundamental do Estado, num sentido mais amplo, não apenas as secretarias de educação, mas toda a rede que promove a proteção das crianças e adolescentes precisa ser mobilizada para acompanhar a saúde desse grupo num sentido mais amplo”.

E o professor?


Os alunos sempre são lembrados, as famílias também, mas e os profissionais que estão diariamente em sala de aula? O professor de Geografia e História, Gildázio Garcia Vitor, que atua nas redes municipal e privada de Ipatinga, com 41 anos dedicados ao Magistério, acompanhou bem as mudanças e o crescimento na violência dentro das escolas nessa jornada: “Aumentou muito”.

Para Gildázio, o modo como o aluno vê os educadores mudou nesse tempo. “Falta respeito, empatia, carinho e, uma coisa interessante, no meu tempo de adolescente, os professores eram admirados e amados só por serem professores. Isso acabou, já faz tempos”, lamentou. Ele lembra que já chegou a receber ameaças. “Fui ameaçado várias vezes, principalmente no Laura Xavier, no Bom Jardim. Trabalhava à noite com ensino médio. Alguns alunos já estavam no mundo do crime”, recordou.

Ver casos como o ocorrido em São Paulo causam medo ao professor. “Muito medo. Talvez, no meu caso, pode ser a idade, são 62 anos e meio. Mas muitos colegas, jovens, também têm ficado amedrontados. Sei porque muitos me pedem conselhos, alguma dica. O que mais dói é a certeza da nossa impotência diante de um aluno agressor/violento”, contou.

Mesmo diante de um cenário desanimador, Gildázio afirma que vale a pena ser professor. “Em qualquer lugar, na Dinamarca ou no Brasil. Os professores ensinam/auxiliam as crianças, os jovens e os adultos a inventarem chãos onde os sonhos deles e de suas famílias, e até parte dos nossos, irão florescer e dar bons frutos”.

Para concluir, Gildázio defendeu a importância de um acompanhamento psicológico. “O que os nossos alunos mais precisam é de apoio psicológico. E muitas famílias também. E nós também. Estamos perdidos, sem rumo”.

Já publicado:
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Comentários

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Elizeu Melquíades dos Santos

02 de abril, 2023 | 20:58

“Na verdade não é um comentário, gostaria de deixar uma sugestão referente aos casos de assassinatos nas escolas. Qual é a sugestão!
Se eu fosse, o Governador e Prefeito dos Estados e Municípios, colocaria PORTA DETECTOR DE METAL, assim conseguiríamos essas situações.”

Bom

02 de abril, 2023 | 16:06

“Gostaria de saber do sistema, qual a dificuldade de colocar um guarda e uma guarita na entrada das escolas, haja vista, que nosso país descambou ladeira abaixo pro mal,
E NINGUÉM SE COÇA, DÁ UMA IDÉIA QUE O CRIME COMPENSA, NESSE PAÍS.”

Gildázio Garcia Vitor

02 de abril, 2023 | 10:17

“Obrigado, mais uma vez, Portal Diário do Aço e Jornalista Stéphanie Lisboa, pela oportunidade de expor parte da nossa realidade, medos e sonhos.”

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