15 de fevereiro, de 2023 | 14:25

Homem que matou o ex-genro no Centro de Ipatinga disputava guarda de um neto e bens

A verdadeira motivação para o assassinato do advogado Anderson Clayton Nunes Ferreira, de 38 anos, pode estar relacionada a uma disputa pela guarda de um menino, filho do advogado com a ex-mulher, de quem havia se separado havia pouco mais de dois anos, com o fim de um casamento que havia durado 10 anos.

Atualização do caso: Veja vídeo da entrevista com o delegado que apura o homicpidio. Policial militar da reserva que matou advogado é autuado e encaminhado para prisão no 14º BPM.

A esposa é filha do policial militar da reserva (aposentado em 2009), Joel Pereira dos Reis, de 66 anos, que matou o advogado na quarta-feira (15), no Centro de Ipatinga. A separação tinha virado um litígio a partir de 2020. Na época, o avô afirmou ao advogado que, se não ficasse com a criança pela Justiça, iria conseguir outras formas de conseguir isso. Na manhã desta quarta-feira, o litígio teve esse desfecho trágico, conforme noticiado mais cedo.

Imagens de uma câmera de segurança mostram que no começo da manhã de ontem, Anderson caminhava pela calçada da rua Belo Horizonte. Ao perceber a aproximação do ex-sogro ele tenta correr. O homem, apesar da idade, sai no encalço do alvo, que cai e é alvejado por três tiros. Pessoas que estavam na rua naquele momento correram por lados distintos, sem entender o que ocorria. O SAMU foi chamado, mas encontrou o advogado já sem vida.

Depois do crime, Joel saiu em direção à avenida João Valentim Pascoal, foi preso por policiais militares nas proximidades do banco Itaú, confessou o crime, entregou a arma, um revólver calibre 38 e disse que matou o ex-genro porque ele batida na filha.

Apesar da alegada motivação, inexiste qualquer registro de ocorrência policial que relate a violência doméstica. “Se ocorreu, nunca foi feito qualquer registro policial desses fatos”, ressalta uma pessoa ouvida pelo Diário do Aço que acompanha o caso na Justiça.

Entretanto, no dia 27 de janeiro de 2020, às 21h30, Joel Pereira acionou a Polícia Militar a comparecer a sua então residência, em Belo Oriente, onde relatou que a filha o procurou pedindo suporte para sair da casa em que vivia com o marido, alegando que era agredida por ele. Com o apoio da família, a mulher ingressou com o pedido de separação judicial, foi na residência do casal, no bairro Parque Caravelas e, enquanto o marido estava fora, removeu seus pertences e de seu filho e foi embora para a casa do pai em Belo Oriente.

Ao descobrir esse fato, do qual alega que não foi informado, Anderson Clayton procurou a residência do então sogro, querendo ver a mulher e o filho. Joel não deixou. Por causa disso, houve um desentendimento entre eles e foi nesse momento que o advogado descobriu que a família se mudaria para Joinville, em Santa Catarina. O desentendimento acabou em ocorrência policial. Na época, as partes foram orientadas a procurar os meios legais para a solução do conflito familiar.

Delegado vê homicídio duplamente qualificado

O titular da Delegacia de Homicídios de Ipatinga, Marcelo Franco Marino, afirmou que a versão da motivação apresentada pelo autor confesso do crime não tem procedência. O entendimento do delegado é que a filha do policial militar e o advogado se divorciaram e ela foi para Santa Catarina, levando consigo o filho do casal, que na época tinha sete anos de idade.

Em função da distância, o advogado sentiu-se alijado do exercício da paternidade e a criança passa a sofrer alienação parental. Com isso, o pai levou o caso para a Justiça e essa disputa judicial rendeu uma série de ameaças por parte do policial reformado.

Em função das ameaças, o advogado entrou com pedido de medida protetiva contra o ex-sogro. A ameaça de morte acabou cumprida nessa quarta-feira, com a execução do advogado, ainda que a Justiça não tivesse deliberado sobre a guarda da criança, acrescentou o delegado. No processo constam cópias de mensagens trocadas entre pai e filho. A criança sempre revelou ao pai as limitações impostas para o contato entre eles. "A questão ainda estava pendente de decisão. Na verdade, a intenção do assassino era alijar o pai do contato com o filho. E isso motivou a prática do crime de hoje", concluiu o delegado.

Por fim já está apurado que Joel morava atualmente com a família em Joinville e veio para Ipatinga com o propósito definido de matar o ex-genro. Para o delegado, “não se trata de um crime de ímpeto, praticado sob violenta emoção, ou motivado por relevante valor social ou moral, não é homicídio privilegiado, pelo contrário, é um homicídio duplamente qualificado, com disparos em via pública (podia ter atingido outras pessoas) e por emboscada”. Até a tarde desta quarta-feira o delegado aguardava a apresentação, pela PM, do autor confesso da execução do advogado.

Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil acompanha a apuração do homicídio

Em nota, a Subseção da OAB em Ipatinga lamenta "profundamente a morte do advogado Anderson Clayton Nunes Ferreira, OAB/MG 180.428. Informamos que a vice-presidente e delegada de prerrogativas da subseção, Andrea Lamarca de Oliveira, acompanha o início das investigações para apurar se a motivação do crime está ligada ao exercício profissional do advogado. A 72ª Subseção da OAB/MG encaminha as condolências institucionais e se solidariza com a família e os amigos enlutados".

Veja imagens de uma câmera de segurança:

Atualização da notícia: Advogado assassinado pelo sogro, no Centro de Ipatinga, tinha 38 anos. Veja imagens de uma câmera de segurança. https://t.co/8Ym2BenkF4 pic.twitter.com/XwYxocFetr

— Diário do Aço (@diario_do_aco) February 15, 2023