14 de julho, de 2021 | 15:00

Parque Estadual do Rio Doce completa 77 anos

Unidade de Conservação da Mata Atlântica resistiu ao avanço das motosserras no século XX e hoje tem reconhecimentos internacionais como reserva da biosfera

Divulgação IEF
O Perd possui 42 lagoas naturais e a maior delas, a Lagoa do Bispo, é também a única com acesso de visitantes O Perd possui 42 lagoas naturais e a maior delas, a Lagoa do Bispo, é também a única com acesso de visitantes
Alex Ferreira - Repórter
Uma das mais importantes unidades de conservação do Brasil, o Parque Estadual do Rio Doce (Perd) completa hoje 77 anos de criação. E pode-se dizer que o parque resistiu ao avanço da ocupação urbana e da industrialização por essas bandas do rio Doce, pelas mãos de um homem. Mais adiante vamos falar do salvador das matas virgens. O Perd é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e tem no marlierense Vinícius de Assis Moreira o seu gerente-geral.

No emblemático filme pós-apocalíptico de ficção científica Waterworld, o Segredo das Águas, dirigido por Kevin Reynolds, produção lançada em setembro de 1995 e estrelada por Kevin Kostner, as calotas polares da Terra derreteram-se e toda a superfície foi coberta por água. Os humanos que sobreviveram passaram a viver precariamente em barcos e atóis flutuantes.

A busca de todos passou a ser pela “terra firme”, pois acreditava-se que algum lugar havia ficado sem ser tomado pela água. Logo depois do meio do filme o personagem vilão (interpretado por Dennis Hopper) que comandava um navio petroleiro em ruínas, faz um discurso para reanimar a patuleia, cansada de remar a gigantesca barcaça: “Vamos encontrar a terra firme. Onde houver árvores, vamos cortá-las”.
Alex Ferreira
Por do Sol visto do Mirante do Perd Por do Sol visto do Mirante do Perd

Pois vejam que, mesmo em meio a tamanha desgraça, “onde houver árvores vamos cortá-las” é um dos estímulos aos membros da gangue esfarrapada. O ímpeto humano em destruir a natureza não tem limite na realidade, e é muito bem retratado pela ficção no cinema. Pois, em 1930, um homem sabia muito bem disso. Atribui-se ao bispo Dom Helvécio Gomes de Oliveira a luta para que uma extensa área de floresta nativa, do bioma Mata Atlântica, fosse preservada do avanço das motosserras que faziam tombar, dia e noite, gigantescas árvores, transformadas em carvão para alimentar a boca insana dos fornos da antiga siderúrgica Belgo Mineira, em João Monlevade, entre outras.

A luta do bispo não foi em vão. Localizado entre os municípios de municípios de Dionísio, Marliéria e Timóteo, o Parque Estadual do Rio Doce, considerado uma das mais importantes reservas da Mata Atlântica do Brasil possui 35.976 hectares e foi criado pelo Decreto Lei 1.119, 14/07/1944 e Decreto 5.831 de 06/07/1960. Aos 77 anos a unidade de conservação foi a primeira criada em Minas Gerais e uma das primeiras também do Brasil.

Historicamente essa data de criação do Perd era comemorada com a Cavalgada Ecológica Dom Helvécio, em que cavaleiros saiam das sedes, de Timóteo e Marliéria e se encontravam na capela, na entrada da unidade, onde era feita uma celebração religiosa e festiva. Desde 2020 o evento está suspenso em função das medidas sanitárias contra a pandemia.
Divulgação IEF
Portaria do Centro de Visitantes e centro administrativo do Perd, localizado no Km 20 da MG-760, em Marliéria Portaria do Centro de Visitantes e centro administrativo do Perd, localizado no Km 20 da MG-760, em Marliéria


Um freio ao desmatamento galopante

As primeiras iniciativas no sentido de preservar o Parque Estadual do Rio Doce surgiram no início da década de 1930, por ação do arcebispo de Mariana, mas só em 1944 a área de mata que tinha sobrado tornou-se oficialmente um parque. Antes de tudo, é preciso entender que na primeira metade do século XX, a derrubada das florestas naturais avançava de forma acelerada pela região do rio Doce, para – entre outros fins - abastecer de carvão a indústria siderúrgica já instalada em João Monlevade. Essa região foi uma das últimas a ser povoada em Minas Gerais, a partir do século XVIII e, por isso, ainda no começo do século passado tinha grandes áreas cobertas por mata nativa.

O Parque Estadual do Rio Doce foi, portanto, a primeira unidade de conservação criada no Estado de Minas Gerais e uma das primeiras do país, além de ser considerada a maior área contínua de Mata Atlântica preservada no estado, detém uma biodiversidade e árvores centenárias. É reconhecido como Reserva da Biosfera pela Unesco e detém outro importante reconhecimento internacional, que dá ao Perd o título de Sítio Ramsar, Zona Úmida.

Além das 42 lagoas, as bordas à Leste e Sudoeste do parque são banhadas pelos rios Doce e Piracicaba. O seu principal bioma é a Mata Atlântica, que adentra regiões com florestas altas e estratificadas, sendo possível encontrar o jequitibá, a garapa, o vinhático e a sapucaia. Também abriga espécies raras e ameaçadas de extinção tanto da flora como da fauna.

No interior do parque existem 42 lagoas naturais, que abrigam grande diversidade de peixes, que servem de instrumento para pesquisas sobre a fauna aquática nativa, com espécies como bagre, acará, lambari, cumbaca, manjuba, piabinha, traíra, entre outras. De todas as 42 lagoas, a única aberta ao acesso do público é também a maior delas, a Lagoa Dom Helvécio, localizada na sede de visitantes, em Marliéria.
Divulgação IEF
O mirante do Pico Jacroá, obra do arquiteto Eolo Maia, tem a forma de um lagarto (Tiú), um dos integrantes da fauna silvestre do lugar O mirante do Pico Jacroá, obra do arquiteto Eolo Maia, tem a forma de um lagarto (Tiú), um dos integrantes da fauna silvestre do lugar


Infraestrutura para visitantes e pesquisadores



A portaria de visitantes do Parque Estadual do Rio Doce está localizada à margem da MG-760, próximo ao povoado de Santa Rita, em Marliéria.

Na sede estão localizados, o memorial Dom Helvécio (capela); administração do PERD; Centro de visitantes com exposição interpretativa; Mirante; Auditório com capacidade para 102 pessoas; Centro de treinamento com 06 salas disponíveis; Trilhas interpretativas; Área de camping com capacidade para 300 barracas, estruturada com vestiários, pias, tanques, churrasqueiras, base de energia, bebedouros e duchas; Restaurante (atualmente fechado à espera de concessão pública); Alojamento com capacidade para 66 pessoas; Centro de Pesquisa; Viveiro de mudas. O parque pode ser visitado de segunda-feira a domingo, das 7h às 18h.

Toda a estrutura do parque deverá passar por uma revolução, com o aporte financeiro de R$ 93,1 milhões, em um acordo com a fundação Renova, já homologado na Justiça, como compensação pelos estragos ambientais causados pela catástrofe da mineração em Mariana, no ano de 2015.

Acesso

Para quem sai de Belo Horizonte pela BR-262, a rota pode seguir até o entroncamento para São José do Goiabal, entre João Monlevade e Rio Casca. Depois, prosseguir 6,5 km asfaltados pela BR 320. A partir daí, segue-se a sinalização pela MG-760 até a entrada do parque, em estrada de terra, bem conservada. A pavimentação da MG-760 está em andamento, no sentido Vale do Aço/Baixa Verde, em Dionísio.

A alternativa, tanto para quem vem da capital quanto para quem sai da Região Metropolitana do Vale do Aço, o acesso pode ser feito a partir de Timóteo, sentido ao distrito de Cava Grande. Dali, até o Parque são 20 quilômetros de estrada já pavimentada.
Alex Ferreira
Um dos acessos ao Perd é feito pela cidade de Marliéria, passando pelo mirante do Pico do Jacroá, de onde se avista parte da extensão do parque Um dos acessos ao Perd é feito pela cidade de Marliéria, passando pelo mirante do Pico do Jacroá, de onde se avista parte da extensão do parque

Outra possibilidade é seguir para Marliéria, subir 3 quilômetros, passar pelo Mirante do Pico Jacroá, e depois são mais 13 quilômetros até a portaria do Parque, em estrada bem conservada e parte dela já pavimentada.

Reabertura pós pandemia

Durante o período de restrição sanitária por causa da pandemia de covid-19, o Parque Estadual do Rio Doce, assim como demais unidades de conservação no estado ficou fechado, mas reabriu recentemente.

Os visitantes que vierem de lugares mais distantes e quiserem esclarecer dúvidas antes podem fazer contato, pelo e-mail: [email protected] ou telefone (31) 3822-3006. O endereço é Km 20, MG-760, comunidade rural de Santa Rita, Minas Gerais.

Valores de ingressos e tarifas

O valor cobrado pela entrada para visita ao parque é de R$20,00 (inteira), estudantes pagam meia entrada, idosos acima de 60 anos e criança até 6 anos não pagam. Moradores de Dionísio e Marliéria não pagam para passar o dia, e moradores de Timóteo pagam R$2 durante a semana e R$10 aos fins de semana e feriados.

Também é possível acampar no parque. O local é destinado à contemplação e não se permitem atividades que gerem ruídos excessivos, som automotivo ou situação parecida.

A diária do camping custa R$ 40 por pessoa; Alojamento individual R$ 80, Duplo R$ 120, Triplo R$ 150, Quádruplo R$ 180, Quíntuplo R$ 220.

Casa de pesquisador (quando disponível à locação a visitantes - capacidade para hospedar até 6 pessoas) R$ 200; Auditório (capacidade até 100 pessoas) R$ 300.

O que fazer na sede de visitantes

O parque possui diversos atrativos e trilhas que percorrem uma parte da borda da Lagoa Dom Helvécio. Essas trilhas são sinalizadas e são circulares, sempre retornam ao ponto de partida, próximas ao estacionamento do camping.

Também é possível visitar o mirante e banhar-se na praia localizada na península do centro de visitantes. A pesca é permitida, mas somente de espécies exóticas, como cará da amazônia, tucunaré e piranha. Os peixes nativos (como a traíra) não podem ser pescados.

Há ainda, sob o mirante, o auditório Borun do Watu: cujo nome significa “índio do rio Doce”, em dialeto Krenak, onde são exibidos vídeos sobre a unidade e temas ambientais.

Existe uma exposição permanente de quadros, informações, fotos e objetos de uso dos índios botocudos, que foram os primeiros habitantes da região. Os descendentes remascentes da etinia Krenak habital atualmente a margem esquerda do rio Doce, próximo à cidade de Resplendor. (Com informações do Instituto Estadual de Florestas)
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