02 de fevereiro, de 2020 | 10:00

Fabricianense que mora na China fala do coronavírus e não pensa em voltar

Em entrevista ao Diário do Aço, nesse sábado, Rony falou acerca da situação que a China enfrenta em relação ao novo vírus e fez um alerta contra as notícias falsas que circulam nas mídias sociais

Álbum pessoal
Rony Melo era morador do bairro Caladinho de Baixo, em Coronel Fabriciano, e reside na China desde 2015  Rony Melo era morador do bairro Caladinho de Baixo, em Coronel Fabriciano, e reside na China desde 2015

Natural de Coronel Fabriciano, Rony Melo, de 38 anos, mora na China desde 2015. Atualmente, trabalha como educador e tradutor na cidade de Macau, que fica a 936 quilômetros de distância de Wuhan, local apontado como epicentro do surto de coronavírus. Em entrevista ao Diário do Aço, nesse sábado, Rony falou acerca da situação que a China enfrenta em relação ao novo vírus e fez um alerta contra as notícias falsas que circulam nas mídias sociais.

Antes de sair de Coronel Fabriciano, Rony era morador do bairro Caladinho de Baixo. Depois, mudou-se para Belo Horizonte, onde morou por alguns anos, até decidir passar por uma experiência única em sua vida. “Em 2008, eu vim para China ser voluntário em um orfanato. Fiquei três meses, cuidando de crianças. Durante esse tempo, me apaixonei pela Ásia e por sua cultura. Com isso, em 2015, eu retornei definitivamente para estudar e viver na China”, contou Rony.

Não volta
Questionado se pensou em voltar ao Brasil quando começaram a surgir casos do coronavírus, Rony Melo disse que não teve essa vontade. “Não fiquei com medo por dois motivos. Um é que achei muito drama das pessoas fazerem um alarme em cima de algo que não estava concreto. E segundo, pelo fato de eu ter vindo do Brasil, um país que enfrenta surtos de Zika, Dengue, Chikungunya, Febre Amarela, entre outros. Se não fosse o Ano Novo Chinês (data comemorativa na qual muitos viajam), provavelmente não teria esse alarme todo. Mas se for parar para analisar, foram cerca de 250 mortos até agora, em um país que tem mais de um bilhão de pessoas. Deve morrer muita mais gente de gripe, câncer ou HIV por dia aqui”, disse.

Dengue
No Brasil, que tem cerca de 210 milhões de habitantes, houve 689 mortes em decorrência da dengue, até 12 de outubro de 2019, conforme o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, número quase 5,4 vezes maior que as 128 mortes registradas no mesmo período de 2018. Ao todo, foram registrados 1.489.457 de casos notificados de dengue em 2019, até o dia 12 outubro de 2019, número cerca de 690% maior do que os 215.585 casos de 2018. Somente em Minas Gerais foram 154 mortes confirmadas, enquanto em São Paulo foram 247.

Nenhum conhecido infectado
Rony Melo também informou que, até o momento, não teve um conhecido chinês que foi infectado com coronavírus ou com apenas suspeita. “Não conheço ninguém que esteja contaminado, nem meus amigos daqui conhecem. E mesmo porque estamos longe, estou a duas horas e meia de avião de Wuhan. Mas escuto muitas pessoas falando que estão com medo do vírus, principalmente, os estrangeiros, porque não estamos em nosso país. Aqui a cultura é diferente, assim como o sistema de saúde. Então o medo aumenta mesmo. Além disso, precisamos usar máscaras pelas ruas, conforme foi determinado pelas autoridades. E aqui as pessoas seguem as orientações das autoridades. O governo está empenhando ao máximo para cuidar das pessoas, oferecendo todo tipo de ajuda”, disse.
A cidade de Macau, onde mora fabricianense segue ritmo normal: 'aqui as pessoas seguem recomendações das autoridades''A cidade de Macau, onde mora fabricianense segue ritmo normal: 'aqui as pessoas seguem recomendações das autoridades''

''Fake News''
O fabricianense também aproveitou a entrevista para avisar que as pessoas não estão caindo pelas ruas na China ou que falta comida nos supermercados, como foi divulgado nas mídias sociais. “É importante que as pessoas não deem importância para essas notícias falsas, nem compartilhem, porque a situação não está do jeito que muitos falam por aí. É preciso apurar melhor antes de compartilhar informações e para não causar pânico, ou discriminação”, concluiu.

Três casos suspeitos de coronavírus no Brasil foram descartados

Até o fim de semana, o Ministério da Saúde confirmava que o número de casos considerados suspeitos de coronavírus estava em 12, no Brasil. Antes, três suspeitas foram completamente descartadas.

Os casos suspeitos e em investigação estão em cinco estados: Ceará (1), Paraná (1), Rio Grande do Sul (2), Santa Catarina (1) e São Paulo (7). Os casos suspeitos no Rio de Janeiro e Minas Gerais, que constavam no último relatório, foram descartados pelas autoridades de saúde.

Os coronavírus são conhecidos desde meados dos anos 1960 e já estiveram associados a outros episódios de alerta internacional nos anos anteriores. Em 2002, uma variante gerou um surto de síndrome respiratória aguda grave (Sars) que também teve início na China e atingiu mais de 8 mil pessoas. Em 2012, um novo coronavírus causou uma síndrome respiratória no Oriente Médio que foi chamada de Mers.

A atual transmissão foi identificada em 7 de janeiro. O escritório da OMS na China buscava respostas para casos de uma pneumonia de etiologia até então desconhecida que afetava moradores na cidade de Wuhan. No dia 11 de janeiro foi apontado um mercado de frutos do mar como o local de origem da transmissão. O espaço foi fechado pelo governo chinês. No dia 30 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência global em razão da disseminação do coronavírus.

(Tiago Araújo - Repórter)

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Bruno Luiz

09 de fevereiro, 2020 | 13:00

“Fala Rony, o campeão tempos que não te vejo, agora sei porque. Um forte abraço e tido de bom.. excelente esclarecimento.”

Mariane Lima

03 de fevereiro, 2020 | 09:24

“As pessoas se acostumam com a má qualidade de vida no Brasil, com um povo que não cumpre leis, mas ao mesmo tempo pede ação da polícia. Se a polícia age, reclama. As poucas pessoas que conseguem sair, como é o caso desse rapaz, não querem voltar mesmo enfrentando situações como essa, do surto do coronavírus. Outros se submetem à humilhação de ser "estrangeiro", "clandestino", em outros países, e há quem enfrente a neve, furacão, terremos e outros problemas porque, somente indo para outros países que concluímos: O Brasil é um lugar muito, mas muito atrasado. E principalmente com um povo que não respeita leis, não respeita o governo. Eu lamento que tenha corrido atrás de algumas oportunidades e não tenha conseguido sair. Várias vezes tive a chance e abri mão para cuidar de meus pais, depois vieram casamento, filhos e o tempo passou. Mas se você que nos lê tiver uma chance, não a desperdice. O Brasil não vai mudar.”

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