11 de novembro, de 2019 | 20:30

Gilmarzinho e Nélio do Abacaxi são acusados de nepotismo cruzado

Prática se dá quando dois agentes públicos empregam familiares, um do outro, como troca de favores

Wôlmer Ezequiel
Gilmarzinho foi investigado pelo Gaeco na operação Dolos e responde em liberdade após ter sido presoGilmarzinho foi investigado pelo Gaeco na operação Dolos e responde em liberdade após ter sido preso

O Ministério Público (MP), por meio do promotor de Justiça Fábio Finotti, propôs à Justiça uma Ação Civil Pública (ACP) por ato de improbidade administrativa, em desfavor de vereador ipatinguense Gilmar Ferreira Lopes (Avante), sua filha Gilcélia de Oliveira Lopes Daniel, e também do parlamentar fabricianense Nélio Silva Damasceno, o Nélio do Abacaxi (PTdoB), e de Edilene Rosa de Almeida Silva. A acusação é de nepotismo cruzado, em que a filha de Gilmarzinho e a esposa de Nélio teriam sido nomeadas num acordo entre os edis, favorecendo as duas mulheres.

Gilarzinho (investigado no âmbito da Operação Dolos, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado - Gaeco, que apurou desvio de dinheiro público em gabinetes do Legislativo de Ipatinga) e Nélio articularam, segundo o MP, no sentido de que Gilcélia e Edilene fossem nomeadas para ocupar cargos de provimento em comissão, nas Câmaras Municipais de Coronel Fabriciano e de Ipatinga, respectivamente. E a intenção dos vereadores foi de favorecer, ilicitamente, filha e esposa.

“Visando burlar a vedação constitucional da prática do nepotismo, os demandados Gilmar e Nélio trabalharam para que Gilcélia e Edilene ocupassem cargos uma na Câmara Municipal em que o outro exercia mandato, pensando, assim, que a irregularidade não viria à tona. Contudo, investigações criminais realizadas pelo Gaeco e por esta Promotoria de Justiça, evidenciaram essa situação, que foi confirmada em informações adicionais colhidas no inquérito civil que instrui esta petição inicial”, traz o documento.

Arquivo pessoal
Nélio do Abacaxi é vereador em Coronel Fabriciano Nélio do Abacaxi é vereador em Coronel Fabriciano
Ainda na investigação criminal foi apontado pela equipe de investigadores do Gaeco que “de acordo com as informações, confirmadas através de pesquisas nos sistemas de buscas e diligências em campo, verificamos que no ano de 2019, Nélio do Abacaxi foi eleito para Mesa Diretora da Câmara Municipal de Coronel Fabriciano, para biênio2019/2020, ocupando o cargo de 2º Secretário, onde, em razão disso, ganhou o direito de indicar quem ocuparia o cargo de diretor Geral na Câmara. Conforme levantamentos, as tratativas foram agenciadas pelo assessor do vereador Gilmarzinho, o senhor D.B., que residia e atuava na política da cidade de Coronel Fabriciano, onde sua esposa, A.B., já ocupou o cargo de vereadora. Após as tratativas, ficou acordado entre Gilmar e Nélio que o vereador de Ipatinga iria nomear a esposa de Nélio, a senhora Edilene, como assessora na Câmara Municipal de Ipatinga e Nélio iria indicar a nomeação da filha do vereador, Gilcélia, para o cargo de diretora Geral da Câmara Municipal de Coronel Fabriciano. Diante disso, passamos a verificar as informações junto aos portais de transparência das referidas casas Legislativas, sendo constatado que, realmente, Edilene foi nomeada para o cargo de assessora Parlamentar de Relações Comunitárias na Câmara de Ipatinga e Gilcélia foi nomeada para o cargo de diretora Geral da Câmara de Coronel Fabriciano. Ademais, o ato foi confirmado por testemunhas que prestaram declarações durante a oitiva da sede do Gaeco”, menciona o promotor no texto.

Segundo o documento, Gilcélia, em depoimento gravado, declarou que foi contratada porque enviou currículo e foi selecionada pelo presidente da Câmara de Coronel Fabriciano, Adriano Martins de Oliveira. No entanto, em depoimento prestado ao MP, o próprio presidente esclareceu que Gilcélia foi indicada por Nélio, uma vez que este teria direito à indicação de um servidor, por se tratar de membro da Mesa Diretora. “O depoimento do vereador Adriano é elucidativo, ao noticiar que, quando tomou conhecimento do nepotismo, exonerou, de pronto, a demandada Gilcélia. Que, tão logo o declarante ficou sabendo que Gilcélia era filha do vereador Gilmarzinho, promoveu a imediata exoneração daquela”, aponta o MP.

Apadrinhamento

A proposta de ACP apresentada pelo Ministério Público consta que não foi utilizado nenhum critério objetivo para a nomeação de Gilcélia para o cargo de diretora Geral. A escolha se deu, tão somente, em razão do apadrinhamento político dos demandados Nélio e Gilmar. “Com relação à Edilene, alocada no gabinete de Gilmar, resta evidenciado que a mesma não tinha condições de exercer o cargo de assessoria na Câmara de Ipatinga, seja pela falta de experiência, seja pela total falta de instrução formal. Não por acaso, conforme depoimento gravado de W.E.A.S., a demandada Edilene não tinha qualquer condição de exercer o cargo, pela completa inaptidão para desenvolver atividades, inclusive as mais simples”, aponta o documento.

Finalmente, o MP acrescenta, numa época em que o nepotismo é largamente discutido e rejeitado pela sociedade, que os políticos se associaram ilicitamente, objetivando dificultar a fiscalização da comunidade e dos órgãos oficiais e assim se enriquecerem ilicitamente. “De fato, as demandadas Gilcélia e Edilene, ocupando cargos que lhes eram vedados, enriqueceram-se ilicitamente, fazendo jus, somente, à remuneração pelos serviços que efetivamente comprovem que foram prestados. Os demandados Gilmar e Nélio adotaram uma postura patrimonialista ao legitimar à nomeação das familiares. Estas, por sua vez, aceitaram ocupar os cargos públicos, embora cientes da irregularidade. Assim, temos que os demandados Gilmar, Nélio, Gilcélia e Edilene praticaram ato de improbidade administrativa”, afirma o Ministério Público.

Ao fim, o MP pede a notificação dos quatro, para, no prazo de 15 dias, apresentar manifestação escrita. Procurado, a defesa de Gilmarzinho disse que “com muito pesar tomou ciência da ACP através da imprensa, prática reiterada do Ministério Público em relação aos vereadores de Ipatinga. A defesa declara que tão logo for oficialmente intimada da Ação, apresentará as provas para comprovar a inocência do vereador Gilmar”, afirmou em nota. Por sua vez, o vereador Nélio não atendeu a ligação da reportagem e não obtivemos retorno de sua defesa ou pessoalmente, até o fechamento desta edição.

Já publicado

Comissão Processante ouve vereadores Masinho e Gilmarzinho
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Comentários

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Marcelo Costa

13 de novembro, 2019 | 09:00

“Esse Nélio na política já era, e esse Vereador Adriano também, agora é fácil falar que não sabia de nada e culpar o mais fraco kkk, o cara é presidente da Câmara de Fabriciano e vem falar que não sabia que a Gilcelia era filha do Gilmarzinho de Ipatinga, tá tirando o dele da reta, mas ele com certeza devia responder por isso junto com Nélio e Gilmarzinho, não é justo só eles pagarem, tem que ser os três, pela conduta do Presidente da Câmara de Fabriciano na reportagem dá pra ver que ele não vale muita coisa também.”

Renan Oliveira

12 de novembro, 2019 | 18:33

“Isso mesmo, o GAECO e o Ministério Público de Fabriciano devia olhar isso com mais atenção, essa prática é velha, o Abacaxi e o Gilmarzinho são apenas mais um, como o presidente da Câmara de Fabriciano, Adriano Martins não sabia que, quem ele mesmo nomeou era filha de Vereador aqui de Ipatinga, isso não cola, isso tá cheirando compra de voto pra eleição, pois o mesmo foi reeleito, jogou o Abacaxi no buraco que ele mesmo fez, agora ele paga sozinho, esse vereador Adriano de FABRICIANO tem mais responsabilidade ainda, agora é fácil falar que não sabia de nada. Minha opinião”

Jose de Arimateia Lopes

12 de novembro, 2019 | 17:00

“Uma pena que o trabalho do GAECO está incompleto, porque esta pratica adotada neste caso é apurado é mais antiga que o rascunho da Bíblia; só não entendo porque que o GAECO apurou só este caso. Na prefeitura de Ipatinga, por exemplo está cheio de cargos comissionados ocupados por parentes de vereador e até mesmo do excelentíssimo prefeito.
Então porque só o Gilmarzinho e o Abacaxi, vão pagar esta conta.
O trabalho do GAECO prá ser completo e justo tem que investigar todos.”

Luis Verones

12 de novembro, 2019 | 13:55

“Até parece que é só isso kk todo mundo sabe como funciona esse negócio de indicação política, duvido que esse vereador Adriano Martins não sabia de nada, não tem lógica ele nomear para um cargo importante desse e não saber que ela era filha de um vereador em ipatinga, ele tem tanta culpa quanto o Nélio do Abacaxi e o Gilmarzinho, jogar o cara no buraco agora é fácil pra se livrar kkk. Tudo farinha do mesmo saco.”

Ze de Minas

12 de novembro, 2019 | 08:41

“É a velha prática do toma lá da cá,tudo feito com dinheiro público.Não adianta o eleitor tentar eleger novos vereadores, porque os que entram são orientados pelos antigos a seguirem o mesmo exemplo.O dinheiro sai fácil demais.Mas 2020 vem aí.”

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