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21 de julho, de 2019 | 11:00

Estação ferroviária de Pedra Mole completa 97 anos

Há alguns anos José Augusto se dedica a pesquisar a história dos primeiros habitantes de Ipatinga e de fatos históricos da cidade

Acervo José Augusto
  Foto recente do local mostra início de trabalhos na fundação Foto recente do local mostra início de trabalhos na fundação

No dia 1º de agosto, a Estação Ferroviária de Pedra Mole, a primeira de Ipatinga, completa 97 anos de sua inauguração. Fundada em 1922, está localizada entre os bairros Cariru e Castelo, nas proximidades da foz do rio Piracicaba no rio Doce. Conforme relatos de José Augusto Moraes, na história da então Estrada de Ferro Vitória a Minas e na da atual Vale, essa estação é a única que não possui fotos e nenhum relato oficial sobre sua existência. Dentre outros títulos, José Augusto é autor de Ipatinga: Cidade Jardim, obra que empresta alguns trechos para este texto. Há alguns anos José Augusto se dedica a pesquisar a história dos primeiros habitantes de Ipatinga e de fatos históricos da cidade.

“Talvez tenha sido pelo erro estratégico em construir uma estação em um local totalmente inadequado para passagem dos trilhos, como foi provado logo em seguida. A Vale contou a história até a Estação de Ipaba, inaugurada no mesmo ano de Pedra Mole. Porém, saltou a estação de Ipatinga e passou a contar a história a partir da Estação do Calado (Coronel Fabriciano). Saltou, inclusive, a Estação de Nossa Senhora, uma estaçãozinha de madeira, inaugurada também em 1922, no atual bairro Horto. Na ocasião, era o ponto final do trem até que a construção da estrada prosseguisse rumo a Belo Horizonte”, recorda José Augusto.
Simulação da restauração na Estação Pedra MoleSimulação da restauração na Estação Pedra Mole

Ele conta que quando sua família foi morar no bairro Cariru, em 1963, a abandonada estação Pedra Mole era o fundo de quintal das casas. “O Rio Piracicaba era nosso mar. Nas nossas incursões pelo então desconhecido sítio de Pedra Mole, encontramos pontas de flechas, garruchas enferrujadas, pedaços de arreios, colheres enferrujadas e várias outras peças que garantiram que, por ali, passaram os índios e outras pessoas”, relata.

Parada do trem

Diante do fato de a ferrovia representar um símbolo da modernidade, visualiza-se um desenvolvimento que a exportação do minério de ferro poderia trazer para a região. Então, o governo federal, com os investidores estadunidenses, inauguram a Estação Ferroviária de Pedra Mole no dia 1º de agosto de 1922, a primeira de Ipatinga, junto à foz do Rio Piracicaba, apontam as anotações do autor.
Reprodução
Projeto arquitetônico deverá manter características originais da construçãoProjeto arquitetônico deverá manter características originais da construção

O historiador Norberto Baiense conta em seu livro ‘O Caboclo Bernardo – O Naufrágio do Imperial Marinheiro’, a odisseia por ele vivida na inauguração da estação de Pedra Mole. Ele destaca que a data de inauguração previamente combinada com o governo tinha que ser respeitada. Mas na hora e dia aprazados, nem as pontas dos trilhos haviam chegado ao local. “Levávamos em um vagão o material indispensável, inclusive o agente que lá ficaria sob o temor da febre (malária) que era impiedosa. Anoitecia, e nas trevas que surgiam, a turma da construção, utilizando seus archotes, avançava, palmo a palmo, dormente a dormente, trilho a trilho”.

Febre Mortal

Na construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas, foi aproveitada a mão de obra provinda da Estrada de Ferro Leopoldina e da Central do Brasil. Vários trabalhadores chegaram, e a febre impiedosa atacava. Essa febre era a malária, também chamada de sezão ou maleita.

“Num só dia morreram 30 operários no trecho, e mesmo aumentando a dose de quinino - que tem funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas -, a febre continuava. Foi assim que os construtores liderados pelo engenheiro chefe do trecho, Benedito Otoni, solicitaram da empresa Vitória a Minas o embarque para Pedra Mole de 300 operários da Bahia. Dias depois, quase todos morreram, sobrevivendo somente o baiano Lino Paulo do Nascimento, nas proximidades, sendo enterrados em cova rasa, quase que sobrepostos”, aponta o texto de José Augusto.

Barro e o perigoso “Calado”

Quem conheceu também a Estação de Pedra Mole foi Joaquim Felício Sobrinho, mais conhecido por Joaquim Peixeiro. Ele chegou a Ipatinga em 1918, para trabalhar no desmatamento da área por onde iria passar o primeiro traçado da estrada de ferro. Mais tarde, foi um dos empreiteiros contratados pela empresa Vale do Rio Doce, para o desmatamento da área onde está instalada a Usiminas e para a mudança da estrada de ferro da Estação de Pedra Mole para o centro da então Vila Ipatinga.

Segundo ele, o espaço onde está hoje o bairro Cariru era um local barrento. Com o peso das locomotivas que, naquela época, eram chamadas de ‘Maria Fumaça’, os trilhos cediam, exigindo constantes substituições. A mudança foi benéfica, portanto, para Ipatinga, principalmente porque a estação foi construída bem no coração do povoado.
Joaquim Peixeiro também contava que os companheiros de serviço eram chamados de “camaradas” e que o maior perigo na região não eram as feras, mas as idas ao “Calado” (Coronel Fabriciano). “Os camaradas iam lá, a fim de fazer as ‘compras para as cozinhas’ e acabavam se excedendo na bebida. Sempre ficava um estendido em poça de sangue”.

O fim da estação

A primeira estação ferroviária de Ipatinga teve vida curta. Os trilhos margearam o rio até por volta de 1930, período em que a estrada seguia somente até Antônio Dias. Apesar de manter a mesma estação, a estrada mudou um pouco o seu rumo, afastando-se da beirada do rio até que uma ponte apresentou problemas, forçando a criação de uma variante que teria durado poucos meses. Um novo problema surgiu: desta vez a ponte instalada para servir à variante cedeu completamente e uma máquina caiu, ficando presa no buraco durante dois a três anos.
Ruínas da Estação de Pedra Mole antes do início da restauraçãoRuínas da Estação de Pedra Mole antes do início da restauração

A estação funcionou por mais ou menos oito anos. Os motivos de sua desativação, entre as hipóteses estão: o grande susto causado pelas mortes dos 299 baianos, no fim da construção da estação e dos trilhos da região; a proximidade com a Lagoa das Antas ou Lagoa do Roque, onde o mosquito responsável pelas doenças se proliferava com muita intensidade; a exiguidade de espaços para uma expansão e a existência no local de um tipo de solo de fácil erosão.
No fim da década de 1920, a solução foi evitar aquele trecho onde as pontes pareciam ineficazes, mudando-se bastante o trajeto da ferrovia. Foi construído o pontilhão de ferro, sobre o Ribeirão Ipanema, que hoje liga o bairro Veneza ao Centro da cidade, utilizado por pedestres.

A estação se foi, mas Pedra Mole ainda permaneceu como cemitério na cidade até 1942, quando o padre Diolindo instalou um cruzeiro e inaugurou o novo cemitério do pequeno povoado, ao lado da nova estação. No cemitério de Pedra Mole, os corpos eram enterrados enrolados em panos. Nesse período, não eram utilizados os caixões. Na década de 1960, nas proximidades de Pedra Mole, foi construído um estábulo (cocheira) onde ficavam alojados os cavalos dos diretores da Usiminas, principalmente dos japoneses. Eram cavalos das raças Campolina e Manga Larga.

Ruínas de Pedra Mole

José Augusto lembra que, por décadas, as ruínas da estação de Pedra Mole, permaneceram ali, no fim do atual bairro Cariru aos pés do bairro Castelo. “Insistiam em mostrar que por ali passou o primeiro trem que trouxe pessoas para habitar o que seria a então Vila Ipatinga. Conseguiram a primeira vitória quando foram tombadas pelo Patrimônio Histórico e Cultural da cidade. Porém, apesar do tombamento, por muito tempo ficaram abandonadas à própria sorte”.
Entre as partes preservadas da construção ficaram escada da plataforma e paredesEntre as partes preservadas da construção ficaram escada da plataforma e paredes

No terreno de Pedra Mole, sobreviveram o grande paredão lateral da estação, a plataforma de embarque e desembarque e a escadinha de acesso. A segunda vitória das ruínas veio no ano de 2018, quando foram iniciados os projetos para a restauração. A terceira e definitiva vitória ocorreu neste ano. “Enfim, o terreno de Pedra Mole transforma-se em um canteiro de obras. Enfim, a restauração foi anunciada. Felizmente, a Estação Ferroviária de Pedra Mole vai poder contar sua história para a população de Ipatinga e para todos que se interessarem por ela. Assim esperamos que seja”, vislumbra o autor.

Reforma é resultado de TAC

Em 2018, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Ipatinga aprovou o projeto da restauração das ruínas da Estação Pedra Mole. A reforma resulta de um acordo entre Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da 9ª Promotoria de Justiça de Ipatinga, e a Usiminas, que firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que resultará no restauro das ruínas da Estação Pedra Mole, na realização de benfeitorias no local e na abertura do bem tombado à visitação pública.

A obra foi aprovada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico. Estima-se que o investimento da empresa será de cerca de R$ 570 mil. O projeto prevê a abertura de um portal de acesso na rua Itália, no bairro Cariru, e a realização de melhorias na trilha de 650 metros que propicia uma caminhada ecológica pela mata até as ruínas. Durante o percurso e também no local da antiga estação, totens explicativos contarão a história do bem.

Está prevista, ainda, a construção de uma fachada de estação ferroviária, que envolverá as ruínas e permitirá ao visitante imaginar o antigo terminal, e de um deck para contemplação da foz do rio Piracicaba no rio Doce, ponto em que se acredita ter ocorrido o desembarque dos primeiros bandeirantes que cruzaram a região.

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Comentários

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Jones

24 de julho, 2019 | 01:47

“A INTERESSANTE matéria sobre a Memória Ferroviária no Brasil - e, particularmente, em Ipatinga - destaca as centenas de óbitos causados por mosquitos transmissores de doenças fatais na região da Estação de Pedra Mole.
VISITEI o local em 2018 e, apesar de usar repelente, calça comprida, botina e perneira, virei alvo dos furiosos mosquitos que proliferam naquela região de encontro dos rios Piracicaba e Doce.
A PERGUNTA que não quer calar:
COMO os futuros visitantes da edificação repaginada reagirão aos inevitáveis e fulminantes ataques de tantos mosquitos?”

Jose Maria

22 de julho, 2019 | 10:00

“Excelente matéria!
Não conhecia esta parte da história de Ipatinga. Com certeza irei visitar esse lugar após a restauração. Vou ler os livros citados. É muito importante saber nossas origens!”

Lerildo Jadir Ribeiro

21 de julho, 2019 | 13:48

“Tanta história na nossa região e ninguém sabe. Brasil ta nem aí pro povo quiçá pra história....”

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