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03 de maio, de 2024 | 13:00

Ensino de literatura e plágio

Luiz Carlos Amorim *


Descobrir novos talentos poéticos é importante, mas vezes descobrimos coisas não muito elogiáveis. A biblioteca pública de uma grande cidade catarinense promoveu, há algum tempo, um concurso de poesia entre estudantes de primeira a oitava séries. Iniciativa meritória, incentivar a criação literária e a leitura entre leitores em formação. E até porque o certame é dirigido aos pequenos leitores e possíveis futuros produtores de texto, não seria preferível, quem sabe, chamar de concurso de poesia (no singular) ou de poemas? Porque poesia é o conteúdo e poema é a forma.

Um poema pode não conter poesia (e isso é tão comum de se encontrar!) e a poesia está contida em tudo, na prosa, num gesto, na natureza, etc., etc. Talvez fosse bom enfatizar essa diferença para crianças e adolescentes, para que soubessem a diferença e pudessem entender melhor o que estão fazendo.

Mas o que me fez abordar o tema foi outra coisa. Entre os poemas vencedores encontramos pelo menos dois que são "inspirados" ou "baseados" em músicas conhecidas, uma de Vinicius de Moraes e outra cantada (?) pela Xuxa. Não sei se o grupo de poetas que selecionou os vencedores foi questionado - e acho que deveriam ser - mas a professora que coordenou o concurso justificou como sendo "paródias” as referidas "poesias". Acho temerário um professor incentivar o plágio, justamente quem deve incentivar os alunos e ensinar a maneira mais correta possível de criar o próprio texto, de ser original.
"Não podemos usar a obra de outrem impunemente, sem colocar o trecho que 'emprestamos' entre aspas e citando o autor e a fonte"


Voltamos, então, a um assunto já discutido numa de nossas crônicas, mas muito delicado e que merece ser relembrado. Não podemos usar a obra de outrem impunemente, sem colocar o trecho que "emprestamos" entre aspas e citando o autor e a fonte. Não podemos pegar um texto ou um poema de quem quer que seja, trocar algumas palavras e assinar como sendo nosso, isso é apropriação indébita, é plágio. E plágio é crime.

Já fui jurado de concurso de poesia e encontrei trechos de “Marília de Dirceu", assinado por outro "autor" que não Tomás Antônio Gonzaga, poema de Neimar de Barros e até coisa minha como sendo de outrem. Mas o grupo que estava selecionando os melhores poemas descartou de imediato aqueles nos quais se reconhecia alguma coisa já pré-existente. Espero que tenha sido um caso isolado e que não se cometa mais, onde quer que seja, este tipo de erro.

* Escritor, editor e revisor, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 43 anos de trajetória. Visite o blog

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

03 de maio, 2024 | 15:09

“"Um poema pode não conter poesia", como, por exemplo, nos poemas do Neimar de Barros, que li demais na minha adolescência. O tal do "Deus Negro", cheguei a memorizar. Mas foi bom para eu aprender a gostar de poesias. Não do Neimar, que nunca escreveu poesias, mas do Manoel de Barros, que só escreveu Poesias.”

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