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01 de maio, de 2024 | 10:04

Um dia a mais de trabalho, um dia a menos de vida

Carlos Alberto da Costa *


Neste primeiro de maio, data em que se comemora o Dia do Trabalhador, vale uma reflexão sobre o mercado de trabalho, desafios para as novas gerações que chegam e um futuro incerto em um cenário em que a narrativa neoliberal quase criminaliza a quem trabalha com a carteira assinada.

Quem está há mais de 30 anos no mercado de trabalho já deve ter percebido que os jovens mudam de emprego atualmente como se mudassem de roupa. Os adultos da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) não param nos empregos e isso impacta significativamente a forma de funcionamento das organizações. Com facilidade de manuseio da tecnologia, desprendimento quanto às relações de emprego mais formais e enorme disposição para pensar em todo tipo de solução, estão sempre mudando e os problemas vão se avolumando. Muitos preferem ir trabalhar com os aplicativos e atuam desde o transporte de passageiros até a entrega de encomendas.

Soma-se a isso o fato dessa geração ter sido criada por outra geração, a Z, que teve no trabalho duro uma forma de superar as dificuldades e conquistar o seu lugar ao sol. Ocorre que quando a nova geração chegou ao mercado de trabalho, os valores eram outros. Apenas o esforço pessoal não contava mais.

Soma-se a isso uma precarização crescente do trabalho como um elemento central da nova dinâmica do desenvolvimento do capitalismo, criando uma nova condição de vulnerabilidade social. As condições predominantes de trabalho deixam de ser a assalariada e estável e passa a ser variada e instável.

É neste contexto que ocorre o aumento da força de trabalho flexível, fluida, periférica ou contingente que engloba, sobretudo, os trabalhadores a tempo parcial, temporariamente contratados.

Da precarização vem a instabilidade e a insegurança. “Como vou investir na compra de um bem, se não tenho certeza da renda em médio ou longo prazo”, indagam. Sem comprar o seu próprio lugar para morar, vivem com os pais, tios, avós.

É com essa realidade que tem se deparado a nova geração e daí sua inquietude em busca de algo novo, que nunca chega. Esse comportamento gera uma rotatividade que prejudica processos produtivos. Do outro lado, empresas que necessitam da estabilidade em seus processos passam a adotar a retenção de talentos. Outras, nem sequer acordaram para os prejuízos que têm com a rotatividade.

Por fim, vale uma reflexão da escritora e filósofa brasileira, Marilena de Souza Chauí, para quem o neoliberalismo diz que cada um de nós é um capital humano, cada um de nós deve ser um empresário de si próprio e cada um de nós deve ser bem-sucedido na competição com todos os outros. É uma espécie de “canto da sereia” para atrair incautos.

Chauí esclarece em uma entrevista publicada pelo canal “Central Filosófica”, que a ideologia do empresário de si mesmo é aquela que faz com que se destrua aquilo que havia de si próprio, o sentimento de comunidade, do que é comum, base por exemplo, dos movimentos sociais, dos movimentos populares. “Esse sentimento de comunidade se destrói, é dilacerado pelo individualismo, onde cada um é um empresário de si mesmo, que deve ser bem-sucedido”, em uma competição destrutiva dos outros.

Sem união, sem sentimento de pertencer a uma classe, e em meio a uma crise de identidade, a massa trabalhadora ruma ao incerto. Hoje um descanso para o feriado, amanhã, a incerteza de mais um dia para receber e um dia a menos de vida.

* Professor aposentado

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Comentários

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Zé Doido

02 de maio, 2024 | 11:35

“Parabéns pelo texto e pela reflexão o qual nos faz pensar de onde viemos, onde estamos e pra onde estamos indo.
Parabenizo também à todos os comentário, uns de forma mais formal, outros nem tanto, contudo, todos trazem à realidade nua e crua do que é ser proletário no Brasil, a não ser o do tal "Juazeiro", o qual destoa totalmente, que deixa claro que tem complexo de Dona Florinda, santa inocência.”

Anti Mico

01 de maio, 2024 | 23:40

“E ainda tem bobo que trabalha, trabalha e trabalha, aposenta e continua trabalhando!!! Caixão não tem gaveta meu povo, e o ricardão adora a conta bancária cheia!!!”

Trabalho Escravidão

01 de maio, 2024 | 21:25

“Como uma pessoa pode gostar de ser acordada diariamente pelo despertador às 5:30 manhã pular da cama, se vestir rápido, comer depressa, cagar, mijar, escovar os dentes, pentear o cabelo, lutar contra um imenso engarrafamento ou pegar
ônibus lotado para chegar a um lugar onde essencialmente se faz muito dinheiro para outra pessoa e ainda ter que agradecer por essa oportunidade? Aqui vale do aço e vergonha escravidão mesmo salário 1.420 reais com desconto 1100 reais depois falar faltando mão de obra vc empresários toca vergonha sua cara da salário digno para seu funcionários então não vai faltar mão de obra.boa noite Usiminas e hospital Márcio cunha”

Juazeiro

01 de maio, 2024 | 13:13

“Acho que se todo trabalhador mudasse de Idea fizesse um curso técnico e montasse seu próprio negócio eu queria ver o governo fazer tanta sacanagem com trabalhador isso é escravidão que o governo faz a qui no brasil cara trabalha dedica se uma vida inteira ao governo e a patrões e ele acaba velho cheio de problemas de saúde e desamparado pelo governo e o pior pobre e miserável.ainda bem que eu sempre pensei nisso eu nunca quis ser escravo de governo ou de patrão por isso me capacitei fiz meus cursos tenho várias profissões e nunca a precisei trabalhar pra enriquecer patrão e dar dinheiro para governo trabalho pra min a mais de 30 anos e sou dono patrão e funcionário de min mesmo.graças a deus”

Eu Eu Mesmo e Irene

01 de maio, 2024 | 12:07

“Excelente texto. O trabalhador vende o que tem de mais precioso, seu tempo. Todavia, o neoliberalismo o apresenta como aquele capaz de conduzir seu próprio tempo, o que é uma falácia. Havendo dependência econômica, nenhum trabalhador é livre.”

Gildázio Garcia Vitor

01 de maio, 2024 | 11:35

“Muito bom! Parabéns!
O inteligentíssimo comentário da Senhora Mariane complementa o artigo. Parabéns!
Só alteraria uma frase, para fechar com o título: "Claro, somos gratos pelo emprego que conseguimos e por meio do qual nos MATAMOS".”

Mariane

01 de maio, 2024 | 10:46

“Excelente artigo. Ótimas reflexões. Vivencio no dia a dia, grande parte do que o professor escreveu. Além do tempo que vendemos a quem nos emprega, comercializamos também a nossa saúde, a nossa juventude, os nossos sonhos, a vitalidade, energia, disposição, a capacidade cognitiva, estratégica e o conhecimento. Todas essas coisas vão junto com o nosso corpo para o trabalho. Claro, somos gratos pelo emprego que conseguimos e por meio do qual nos mantemos. Mas nunca nos esqueçamos que, independentemente do salário que conquistemos, somos todos proletários, pobres, base da pirâmide social.”

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