14 de maio, de 2022 | 08:32

O 13 de maio não é apenas uma data, mas uma demarcação de resistência e luta por emancipação, liberdade e igualdade

Márcia Silveira *

Após 134 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, permanece necessário refletir sobre a nossa história e o quanto ainda estamos longe de termos uma sociedade livre do racismo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 56%dos brasileiros se declaram negros. Somos o país com mais habitantes negros e, ainda o que mais mata a nossa gente. A desigualdade racial se perpetua nos indicadores sociais da violência ao longo do tempo. Segundo informações do Atlas da Violência 2021, a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2%, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2%.

Como falar de liberdade se somos encarcerados e sem perspectiva de vida? Como exaltar a falsa democracia racial enquanto o racismo atinge nossa existência em tantas instâncias?

No ambiente de trabalho isso não muda muito. Ainda há um abismo salarial que continua separando negros e brancos e os cargos são totalmente díspares. Segundo um levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado em 2021, a média de ganhos de nós, negros, equivale a 57,7% da renda de brancos e, além disso, 31% dos cargos de diretoria são ocupados por pessoas negras, enquanto os não negros somam 69%.

No ramo empresarial temos de agir diferente. Pensando em contribuir para um futuro onde a equidade racial seja o ponto de partida para mais lideranças negras, geração de empregos, áreas de capacitação e formação, que o Mover (Movimento pela Equidade Racial), foi criado. Para que a luta contra a discriminação racial produza resultados consistentes, há um passo que precisa ser tomado: se posicionar como anti-racista. Não basta apenas não ser racista, é preciso lutar contra a desigualdade racial que persiste. É preciso atuar pela promoção da igualdade racial e realizar ações para um presente e futuro mais igualitário. Considero que um dos caminhos seja engajar a sociedade. No ramo empresarial, não podemos fazer diferente.

Cerca de 1 ano atrás, 13 das maiores empresas do país se reuniram para assumir um compromisso no combate ao racismo estrutural e na promoção da equidade racial. A partir desse objetivo, iniciamos as conversas com lideranças negras que já atuavam em prol da causa, convidamos outros profissionais a se juntarem e, em poucos meses, somamos hoje 1,3 milhões de colaboradores das 47 empresas que integram o Mover.

“Somos o país com mais habitantes negros
e, ainda o que mais mataa nossa gente”


Um dos principais objetivos do Mover é criar 10 mil novas posições para negros em cargos de liderança até 2030, a partir de modelos inclusivos de recrutamento e desenvolvimento; gerar oportunidades para 3 milhões de pessoas de diversas formas, inclusive com cursos, capacitação, conscientização, conexão com empreendedores negros, entre outras ações; e ser uma plataforma e ferramenta de apoio na meta de ter uma população conscientizada quanto ao racismo, por meio de comunicação ativa para públicos internos e externos, englobando toda a cadeia de valor.

Esse trabalho conjunto inclui o compartilhamento de boas práticas e a aceleração dos processos de diversidade, equidade e inclusão já em curso nas próprias organizações. Muito além de planejar, criar estratégias e orientar direções, o MOVER busca ser uma ferramenta efetiva, por meio de ações que impactem na redução da desigualdade racial no Brasil. As iniciativas são pautadas em 3 pilares: Liderança, Emprego & Capacitação e Conscientização.

Juntas, as empresas possuem enorme potencial para gerar no longo prazo uma mudança positiva na sociedade e no mercado de trabalho, tornando-o mais inclusivo e, principalmente, receptivo ao surgimento de novas lideranças negras. Há ainda muitos desafios a serem enfrentados na luta contra o racismo, e o mundo corporativo pode e deve ser um grande agente de transformação nesta batalha. Vamos lutar cada dia mais para mudar essa situação, atuando no combate ao racismo estrutural e na promoção da equidade racial.

Enquanto estivermos em um país que tem notícias como a da D. Madalena Gordiano, que viveu em situação análoga à escravidão por 38 anos, e hoje não consegue enxergar seu valor como pessoa, temos que seguir atuando como um combatente nesta batalha que é estrutural e só será modificada com o apoio de todos em todas os cargos e âmbitos sociais. Precisamos Mover e promover reais mudanças na sociedade. Seguimos na luta hoje e sempre! Resistir para existir.

* Porta-voz da Mover e head de D&I da L’Oreal

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Comentários

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Tião Aranha

14 de maio, 2022 | 13:40

“O racismo é apenas um dos preconceitos dessa sociedade morta; escrava de mortos, ou escravos do progresso - frutos deste capitalismo selvagem. Herança colonialista, onde o que mais destaca é o preconceito crônico do viralatismo. Reforma cultural como, se não existe nenhum investimento na Educação?! Não precisa esperar que apenas um homem de 76 anos vai conseguir num toque de mágica resolver todos os problemas prementes da nação. Risos.”

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