23 de dezembro, de 2020 | 14:26
A vacina e a democracia
Maria Inês Vasconcelos *
Uma série de movimentos antidemocráticos vem mostrando a urgência de se recosturar o pano democrático, rasgado”A esta altura não nos interessa a origem, queremos apenas tomar a danada da vacina”
Uma democracia não morre de uma vez. Ela derrete aos poucos pelo anacronismo das políticas públicas, desconfiança com as instituições e insatisfação popular. Nosso telhado de vidro não esconde a dificuldade de se vacinar a população nesse país continental, que teima em persistir nos mesmos erros.
Sou prudente, sobrevivemos 21 anos de ditatura instalada depois de um golpe de Estado. Desde 1985 a democracia brasileira segue arrimada em compromissos e concessões. O povo acompanha e segue o baile.
Uma série de movimentos antidemocráticos vem mostrando a urgência de se recosturar o pano democrático, rasgado. Se não dá para atenuar as forças do capital sobre o trabalho, super atingido com a reforma trabalhista, com as promessas de caixa da reforma da previdência que pelo menos, cessem o infantilismo da guerra política em torno da vacina.
A paródia da vacina, alarga-se a cada dia e o povo segue morrendo como se isso fosse questão de segunda ordem. Nessa democracia holográfica, a verdade está no programa de Tom Cavalcanti, aliás, imperdível.
O povo está morrendo de medo de que essa vacina não chegue nunca. Se é vachina” ou vacina pouco importa. A esta altura não nos interessa a origem, queremos apenas tomar a danada da vacina.
A briga piegas, imoral dos governantes e o excesso de burocracia, só rememora o governo da esperança”. Nesse governo, de um lado ficam os manda chuvas, de outro, os esperantes: o povo, de braço pronto para agulhada que nunca chega. Somos os esperantes da Pfizer, Curevac ou o que for.
A população esperante, espera e aqui não há redundância, que a democracia cumpra sua missão, e que haja concorrência real entre as diferentes versões do interesse público.
O sol nas bancas de revistas”, cantado por Caetano Veloso é a esperança do povo brasileiro que tem direito a ser poupado dos esquadrões burocráticos que querem transformar a questão da saúde em campanha eleitoral é mero fetiche.
Não há espaços para que esse sol não seja para todos, existe uma parcela considerável de cidadãos esclarecidos. Nesse cenário de incompetência com o gerenciamento da questão da vacina, o famigerado governo da esperança, vai provocando conflitos de toda ordem, pela falta de posição e coerência. E claro religa ideias: nova constituinte.
Preocupado em confiar-lhes o seu futuro e a sua imunização, o povo se torna apático, desconfiado e triste. Em meio ao campo das incertezas é preciso ancorar providências e reduzir ambiguidades.
O que se vê por aí são Estados lutando para tentar convencer o povo, cada um a seu modo e de forma customizada de que a vacina um dia chegará”. Muito mais preocupados com seus mandados, ou com as negociações sempre lucrativas dos contratos relacionados com a vacina para a Covid-19, ou com o ego - que os leva a externar posições públicas sempre divergentes aos seus oponentes potenciais- vemos que realmente a democracia, vai aos poucos se erodindo.
O início pode ser imperceptível. Políticos mantêm assentos no Congresso, tudo parece estar funcionando bem. E os passos, grandes, parecem insignificantes. Mas se não for remendada, torna-se meramente teórica, a democracia não existe na prática.
Já sofremos demais em aspectos de corrupção que insiste em durar em vários aspectos de nossa vida, já passamos por duas reformas trabalhistas, reforma previdenciária e já vimos a educação ser tratada como quarta grandeza. Ou seja, o Brasil adota uma retórica que não cola mais.
Ainda que a democracia seja sempre um ideal e que seu conceito envolva um grande dinamismo, há sempre um termômetro. Esse termômetro é a insatisfação popular; que hoje refuta as enganadoras miragens e déjà vu dos governantes.
Democracia não é basquete de rua. Não dá para ficar jogando a bola na rede e dando trombada. Estamos bastante castigados e por isso não inventem nossos próprios pecados, como fizeram com as reformas. Queremos apenas viver e não sermos culpados. Apenas vacinem-nos. É o que queremos e precisamos.
* Advogada, especialista em Direito do Trabalho, professora universitária e escritora
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Tião Aranha
26 de dezembro, 2020 | 12:41A pergunta que não se cala é se o povo ainda irá apoiar esses indivíduos com essa estirpe, desse estranho caráter, em 2022. Também, á pessoa que teve o privilégio de estudar a palavra divina a cobrança e a responsabilidade serão bem maiores.
Porque numa fonte ou você bebe água limpa - ou você bebe água suja. Nunca se bebem as duas águas numa mesma fonte.
Todos querem relacionar com pessoas iluminadas que vivem o presente, mas que têm os seus pés plantados firmemente na Eternidade. A Democracia é algo em constante construção pelo ser humano que ainda tem esperança; acontece que as pessoas acham muito mais fácil exprimir seus ódios e raivas do que partir pra luta tentando construir um mundo mais humano onde a participação de todos é de suma importância.”
José Antônio da Silveira Drumond
25 de dezembro, 2020 | 20:27Fico abismado quando lemos comentários realizados por pessoas de nível considerado superior, já que em políticos socialistas e pessoas de nível inferior e médio é fato comum, mencionar os "21 anos de ditadura". Os ditos "21 anos de ditadura" ocorreram quando nossos responsáveis comandantes do glorioso exército nacional vislumbraram a iminente tomada do poder e da nação por Russos, Cubanos, e outros países comunistas, Foi graças aos Governantes Militares Castelo Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, que hoje temos liberdade total de escrita e expressão, tendo inclusive que tolerar políticos corruptos ladrões do povo Brasileiro, e um judiciário superior arcaico igualmente e lamentavelmente político.”
Tião Aranha
23 de dezembro, 2020 | 15:20Vacina casa com democracia. Quem está perdido não caça mesmo caminho. Loucura mesmo é autorizar uma vacinação em massa sem saber se a mesma causa alguma rejeição no corpo humano. Depois, caso haja algum problema quem será responsabilizado? Nós admiramos as pessoas pelas qualidades e as amamos pelos seus defeitos.
Parece-me que estão todos na escuridão, todos, como um louco a gritar desvarios a um mundo igualmente louco. Os justos sempre pagam pelos pecadores.
Quem sou eu para desvendar os mistérios de Deus; quem sabe todas as tragédias e absurdos acontecem porque a Fé do Homem está cada vez mais diminuída? "Homens, Irmãos"! E um Deus que continua desconhecido...
É verdade que a vida, obrigatoriamente, se transfere num nível mais avançado da História, mas é verdade que a evolução do Homem é marcada por um esforço para encontrar outros modos de competição na Vida, menos brutais, mais humanos e menos destruidores.”