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17 de setembro, de 2022 | 13:00

O que de fato traz felicidade?

Marcelo Santos *

Desde que nos entendemos como seres humanos, dotados de racionalidade, nos preocupamos sobre onde e como buscar a felicidade — talvez ela seja um dos nossos anseios mais incessantes. A cada dia que passa, vale sempre questionar: o que de fato traz felicidade?

A palavra significa, de acordo com o Dicionário Houaiss, o estado de “estar feliz”, uma consciência plenamente satisfeita. Boa fortuna, sorte, êxito, acerto e sucesso.

O tema “felicidade” é tão importante que, em 2010, tivemos a PEC da Felicidade, que alterava o artigo 6º da Constituição Federal e incluía o direito à busca da felicidade, individual e coletiva, mediante a dotação do Estado e da própria sociedade nas adequações das condições de exercício desse direito.

O assunto sempre foi abordado ao longo do tempo, mas ultimamente se tornou ainda mais necessário. Entende-se que a felicidade sempre será algo que o ser humano busca para o seu estado de bem-estar, porém, ela é apenas uma parte disso; um estado afetivo e virtudes positivas é que vão levar as pessoas a terem emoções positivas. Podemos entendê-la como uma busca contínua por essas emoções positivas, podendo, sim, mudar de indivíduo para indivíduo, justamente por poder ser vista de uma maneira diferente para cada um.

Uma crítica que se faz às pessoas felizes é o fato de elas, teoricamente, não estarem ligadas à realidade das coisas e aos perigos que o mundo oferece. No entanto, tal análise não se sustenta. Se o meio em que se vive é favorável, se as relações estão satisfatórias, o indivíduo estará feliz mesmo diante de crises mundiais, como a pandemia ou a guerra russa. Não significa que as pessoas se tornarão insensíveis às outras realidades ou não empáticas aos sofrimentos alheios. Por ser um estado de espírito, a felicidade é considerada algo sensível e mutável. Portanto, qualquer distorção, disfunção das relações humanas ou dificuldade, independentemente de fatores externos ou internos, impactarão o estado de espírito.

“Podemos entendê-la [a felicidade] como uma
busca contínua por essas emoções positivas,
podendo, sim, mudar de indivíduo para indivíduo”


Por outro lado, a nossa capacidade de adaptação, otimismo e até mesmo a realização com as conquistas do próximo podem fazer de nós, seres humanos mais felizes. Isso porque fatores externos, atrelados a mudanças, podem nos tirar de um estado ruim para um estado de melhor qualidade. Logo, quando tratamos de adaptabilidade, pensamos em algo flexível.

Voltando à subjetividade que o termo traz, vale destacar a relação com o dinheiro. É comum associarmos riqueza à felicidade. Insisto que isso é muito relativo, pois se fosse uma regra, pessoas afortunadas não passariam por doenças mentais ou sofreriam com o luto, por exemplo. Viveriam em estado de êxtase constante.

É claro que o dinheiro pode amenizar algumas situações, favorecer algumas mudanças, proporcionar um estado mais confortável para poder ultrapassar as dificuldades da vida, mas, por si só, não garante um estado de plena satisfação a vida inteira, sem passar por infelicidades.

O psicólogo Abraham Maslow fala que no momento em que alcançamos a autorrealização, um novo desejo surge. Dessa forma, o estado de felicidade é momentâneo, porque alcançamos um objetivo, só que logo em seguida, outro surge e, toda aquela vontade, todo aquele sofrimento, toda aquela mudança, se apresentará novamente.

Pode-se concluir que a felicidade é sempre um estado mutável. Portanto, o dinheiro pode trazer facilidades e momentos de felicidade, não a sua plenitude, pois seria algo impossível de ser alcançado por se tratar de um estado transitório de humor.

A busca da felicidade não segue uma fórmula pré-definida. É algo pessoal. Com base na psicologia positiva, o engajamento, o sentido da vida e as realizações positivas ajudam neste caminho, assim como o bem-estar nas relações, satisfações (trabalho, relações, saúde física e mental, estudos, religião, esportes), capacidade de mudanças e adaptabilidade. As emoções são direcionadas para a relação que o nosso “eu” estabelece com o mundo.

*Psicólogo clínico e professor do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

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