21 de dezembro, de 2025 | 08:45

Entre o sonho e o medo: o impacto das novas regras de imigração na vida de uma ipatinguense nos EUA

Enviada ao Diário do Aço
A ipatinguense Keller Silva Araújo é ex-moradora do bairro Limoeiro e vive nos EUA há quatro anosA ipatinguense Keller Silva Araújo é ex-moradora do bairro Limoeiro e vive nos EUA há quatro anos

Dani Roque – Estagiária sob supervisão

Os Estados Unidos vivem um período de tensões migratórias, com o governo Trump promovendo mais controle e deportações, enquanto congressistas propõem leis para regularizar parte dos imigrantes, criando um cenário complexo e em constante mudança para quem vive ou deseja se mudar para o país do Norte. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, cerca de 1,9 milhão de brasileiros vivem nos EUA.

A ipatinguense Keller Silva Araújo, ex-moradora do bairro Limoeiro, vive nos EUA há quatro anos e detalha em entrevista ao Diário do Aço como foi sua chegada e permanência no país.

“Eu saí de Ipatinga no fim de novembro de 2021 e fiquei alguns dias na Cidade do México. Depois viajei de carro até a fronteira e caminhei por horas até encontrar a polícia americana, me entregando no dia 8 de dezembro”, relatou.
“Passei 12 dias em uma cabana e, em seguida, fui transferida para o presídio de Phoenix, no Texas, onde fiquei pouco mais de três meses. Fui liberada em 1º de março de 2022 mediante uma fiança de 1.500 dólares e, junto a outros detentos, caminhei até o aeroporto”.

A brasileira ainda contou como foi o período logo após a detenção. “Durante esse período fiquei sem passaporte por cerca de três meses, mas depois consegui emitir um novo e dar continuidade ao processo imigratório que já havia iniciado na prisão. Hoje ainda não sou cidadã legal, mas tenho alguns benefícios que me dão certa segurança. No entanto, com as novas leis imigratórias, só está realmente protegido quem possui cidadania americana, e até alguns documentos obtidos por casamento na época do presidente Biden estão sendo revogados”, contou.

Tensão
A brasileira relata ainda a tensão que se espalhou entre os imigrantes do país. “Com todas essas mudanças de leis, prisões de imigrantes sem antecedentes criminais, todos nós cidadãos imigrantes ficamos apreensivos e amedrontados pelo fato de que podemos ser presos a qualquer momento. Ser deportado talvez não seja o maior problema, a questão são as situações que estão acontecendo nos presídios onde ficam os imigrantes”, apontou Keller. “Se na época em que eu fiquei presa era difícil, agora está o dobro: fome, dias sem tomar banho, pertences desaparecidos, abuso de poder, entre outras situações que, mesmo com denúncias aos ministérios públicos dos EUA e do Brasil, são negligenciadas. Todos nós sabemos que isso é desrespeito humano”.

Diante de tanta tensão, ela também conta que rejeitou trabalhos por medo de batidas de fiscalização. “Recentemente pedi demissão de um emprego por ser um local de acesso livre ao público, então era fácil haver buscas imigratórias. Com os casos de várias pessoas detidas no estacionamento do estabelecimento, decidi me demitir para não estar no lugar errado na hora errada. Tenho tido acompanhamento durante esses quatro anos com psicólogo e psiquiatra para não entrar em surto. Graças a Deus esses profissionais, minha família pai, mãe, irmão, meu noivo, meus amigos e minha patroa nunca me deixaram desistir dos meus sonhos e objetivos. Eles foram pilares para a minha permanência aqui até hoje”, contou.

Sonho
Para finalizar, Keller deixa um recado para pessoas que vivem na mesma situação que ela ou que têm o sonho de viver nos EUA. “Este é um país de grandes oportunidades, mas para que alcancemos essas oportunidades temos que lutar dez vezes mais do que os nativos. O que os influenciadores e YouTubers mostram é a parte dos benefícios que os EUA têm. Só que a parte da dor, do sofrimento e do abandono são poucos que mostram. O preconceito existe, o descaso existe, a trapaça de brasileiros com brasileiros existe. Tudo que é visto pela internet é maquiado. Se você tem o sonho de imigrar para um país, o meu conselho é que se planeje, estude possibilidades, planos B, C, D, pois muitos de nós aqui tivemos que usar todos eles. Mas também há aqueles para quem as coisas aconteceram de forma mais leve, mas isso não significa que foi mais fácil. Cada um tem um processo para alcançar o propósito. Acredito que as dificuldades são em graus diferentes e intensidades diferentes”.
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