21 de dezembro, de 2025 | 07:00

Educação: entre giz e sonhos

Marcelo Augusto dos Anjos Lima Martins *


Entre desafios e conquistas, a escola revela que aprender é também um exercício de humanidade. Fim de ano, pausa na labuta, pausa nos projetos, para renovar as energias e planejar um novo ano, onde velhos e novos sonhos são, pouco a pouco, recondicionados como um jogo de montar.

E assim vamos tecendo a teia da vida. Buscando na memória as experiências que nos moldaram e nos permitiram chegar até aqui. Parece que foi ontem, quando uma criança birrenta, carente de atenção e afeto, cuspiu no rosto de um estagiário de Pedagogia, que, por uma fração de segundo, pensou em desistir. E lá se foram vinte e poucos anos, dedicados à Educação Pública.

Quantos desafios! Do Ensino Fundamental à Educação de Jovens e Adultos (EJA), da criança, ávida por mostrar o que sabe, ao idoso, que não sabendo o quanto sabe, observa atentamente o quadro negro, com mãos trêmulas, ávido por recuperar o que o tempo lhe roubou, sorrindo timidamente ao ouvir a chamada.

Quantas experiências e quantos saberes tive a honra de presenciar! Quando a criança, em tenra idade, aprende a dividir o brinquedo com o colega. Quando o jovem consegue se expressar em sua primeira redação de trinta linhas, ao estilo do ENEM, argumentando e se posicionando diante de temas controversos. Ou o caso do idoso, na EJA, que antes desenhava o próprio nome, agora faz suas listas de supermercado, lê o itinerário do ônibus, faz contas e tabelas ao registrar suas despesas mensais. E o que lhe rende mais orgulho, agora consegue ler as cartinhas que os netos lhe escreveram ainda pequenos.
"O que permanece é a certeza que educar é acreditar no poder transformador das diferenças e na força da resiliência"


Outra experiência que ainda me instiga são os alunos com necessidades educacionais específicas (NEE), deficiências, transtornos, altas habilidades/superdotação, dificuldades de aprendizagem, público-alvo do atendimento educacional especializado (AEE). Muitos chegam sem um diagnóstico concluído. E começamos a trabalhar, baseando-nos nas queixas de baixo desempenho ou de indisciplina.

Chamamos os pais, tios, avós, os responsáveis. Alguns relutam, “em casa ele não é assim”, “na outra escola ele era o melhor da turma”, “não sei mais o que eu faço”. E começamos um trabalho de formiguinha, conversando com o estudante, registrando as intervenções, propondo adaptações, fazendo “mapa de sala”, mudando-o de lugar na turma, separando os indisciplinados e colocando-os próximos de colegas que podem auxiliá-los, formando um mosaico disforme, de alunos com comportamentos, habilidades e dificuldades variadas, criando padrões únicos por turma.

Alguns se sentem um peixe fora d'água em química, física, matemática, dentre outras. Outros sentem que não darão conta. Mas esses alunos tem um diferencial, são resilientes. Persistem, porque gostam da escola, porque se identificam com os colegas, com os professores, com os profissionais de apoio. Ignorando qualquer rótulo ou diagnóstico que a sociedade os impõe, não desistem. E essa é nossa maior lição.

Ao fim de mais um ciclo, o que permanece não são apenas os conteúdos ensinados, mas a certeza de que educar é acreditar no poder transformador das diferenças e na força da resiliência. Que o novo ano nos encontre dispostos a continuar tecendo essa teia de saberes e afetos, onde cada fio, por mais frágil que pareça, sustenta a esperança de um futuro melhor, mais justo e inclusivo.

* Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública - UFJF, Especialista em Psicopedagogia - UCAM, Especialista em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e o Mundo do Trabalho - UFPI
Pedagogo do IFMG Campus Governador Valadares - [email protected]

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário