18 de dezembro, de 2025 | 07:30
As dores que realmente me preocupam
Ailton Cirilo *
Estou chegando aos 60 anos. Muita gente associa essa fase da vida a dores nas costas, nos joelhos, às limitações físicas que o tempo acaba impondo. No meu caso, curiosamente, não é isso que mais pesa. Não convivo com dores constantes, não sofro com artrite nem acordo todos os dias reclamando do corpo. As dores que hoje mais me incomodam são outras. São as dores nas articulações políticas do nosso país.
Falo das articulações feitas nos bastidores, longe do interesse público, conduzidas por interesses pessoais, conveniências e acordos que pouco ou nada têm a ver com o bem coletivo. São movimentos que não aparecem nos discursos, mas que influenciam decisões importantes e afetam diretamente a vida da população.
Essas articulações doem porque travam o funcionamento da política. Doem porque enfraquecem instituições, alimentam a descrença e afastam o cidadão comum da participação. Doem, também, porque atingem áreas essenciais, como a segurança pública, a saúde, a educação e tantas outras políticas que deveriam servir às pessoas, e não a projetos de poder.
Ao longo da vida, aprendi que quando uma articulação do corpo não funciona bem, todo o resto sente. O mesmo vale para a política. Quando Executivo, Legislativo e sociedade deixam de se conectar de forma responsável, o país perde equilíbrio, perde ritmo e começa a andar com dificuldade, mancando.
"Que nossas escolhas ajudem a corrigir articulações políticas adoecidas e a fortalecer aquelas que sustentam a democracia, a justiça e o interesse coletivo"
O próximo ano será de eleições, e isso por si só já deveria nos fazer parar e refletir. Mais do que escolher nomes ou partidos, precisamos pensar no tipo de postura que queremos ver representada. Precisamos observar quem constrói de verdade e quem apenas articula para se manter no jogo. Não se trata apenas de escolher nomes ou partidos. Trata-se de refletir sobre projetos, posturas, histórico e compromisso real com o bem coletivo.
Votar com consciência não é repetir slogans nem se deixar levar por promessas fáceis. Exige atenção, memória e senso crítico. Exige olhar para o histórico, para as atitudes e para a coerência entre discurso e prática. Exige, principalmente, que se observe quem articula para construir e quem articula para se beneficiar.
Essa responsabilidade não é só dos políticos. É nossa também. Cada voto fortalece ou enfraquece as articulações políticas que vão definir os rumos do país. Não dá para reclamar depois se, antes, a escolha foi feita sem reflexão. Cada decisão tomada na urna reflete diretamente no funcionamento do Estado e na vida de quem está na linha de frente do serviço público.
Quero falar, de forma especial, aos policiais e bombeiros militares de Minas Gerais. Somos nós que sentimos, na ponta, os efeitos das decisões mal tomadas, da falta de planejamento e do uso da segurança pública como discurso, mas não como prioridade. Sabemos, talvez melhor do que muitos, o peso de uma política que não funciona.
Que possamos, juntos, refletir com maturidade e responsabilidade. Que nossas escolhas ajudem a corrigir articulações políticas adoecidas e a fortalecer aquelas que sustentam a democracia, a justiça e o interesse coletivo. O país precisa voltar a andar com firmeza e isso começa pelo voto consciente de cada um de nós.
* Coronel da reserva da PMMG, especialista em Segurança Pública.
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Gildázio Garcia Vitor
18 de dezembro, 2025 | 09:15Excelentes ponderações! Artigo muito bem escrito! Parabéns!
Não esperava reflexões deste nível de uma liderança das Direitas, ainda mais sendo de um Oficial da Polícia Militar.”