15 de dezembro, de 2025 | 08:23

Direitista José Antonio Kast vence eleição presidencial no Chile

Sob o lema "Make Chile Great Again", uma promessas de campanha do novo presidente é deter e deportar rapidamente imigrantes em situação irregular

O candidato de direita José Antonio Kast venceu neste domingo (14) a eleição presidencial no Chile, em um pleito marcado pelo debate sobre segurança pública e imigração. A apuração divulgada na noite de domingo indica que Kast obteve 58,30% dos votos no segundo turno, contra 41,70% da candidata de esquerda Jeannette Jara, com mais de 95% das urnas apuradas.

A candidata derrotada reconheceu oficialmente o resultado e afirmou que a decisão das urnas foi clara. “Conversei com José Antonio Kast e lhe desejei sucesso para o bem do Chile”, declarou à imprensa local, ao confirmar a vitória do adversário.

A eleição representa a guinada mais acentuada do Chile à direita desde o fim da ditadura militar, em 1990. Kast baseou sua campanha em propostas de endurecimento no combate à criminalidade e no controle da imigração, temas que ganharam centralidade diante do aumento recente da violência e da entrada de migrantes em situação irregular no país.

Destaque econômico na América Latina

Com cerca de 20 milhões de habitantes - estimativa que aponta para aproximadamente 20,1 milhões em 2024/2025, segundo dados de institutos internacionais -, o Chile é considerado uma das economias mais competitivas da América Latina. O país lidera a região em riqueza financeira per capita, estimada em cerca de US$ 21,7 mil por pessoa, mais que o dobro do registrado no Brasil.

A economia chilena é fortemente impulsionada pela mineração, especialmente a produção de cobre, da qual o país é o maior produtor mundial. Outros minerais, como lítio, iodo e molibdênio, também têm peso relevante. O setor de serviços, que engloba comércio, finanças e turismo, além das exportações de frutas, vinhos e salmão, completa a base econômica, com a China como principal destino dos produtos chilenos.

Histórico político

Essa foi a terceira vez que Kast disputou a Presidência da República. Em 2021, ele foi derrotado no segundo turno pelo então candidato de esquerda Gabriel Boric. Considerado por parte do eleitorado como um político de posições extremas, Kast ampliou sua base de apoio entre eleitores preocupados com o avanço da criminalidade e com o aumento da imigração nos últimos anos.

Na noite de domingo, apoiadores se concentraram em frente à sede de campanha do presidente eleito, em Santiago, agitando bandeiras do Chile. Alguns usavam bonés vermelhos com a inscrição “Make Chile Great Again”. Entre eles estava o estudante de engenharia Ignacio Segovia, de 23 anos, que afirmou ter vivido em um país mais seguro no passado. “Cresci num Chile pacífico, onde você podia sair à rua sem se preocupar. Agora você não pode sair em paz”, disse.

Embora o Chile ainda figure entre os países mais seguros da América Latina, dados oficiais indicam um crescimento expressivo da criminalidade violenta, associado à atuação de grupos do crime organizado. Essas organizações se aproveitaram, segundo o governo, das fronteiras extensas e pouco vigiadas no norte do país, de portos marítimos estratégicos e do fluxo de imigrantes vulneráveis ao tráfico de pessoas e à exploração sexual. A maioria dos imigrantes em situação irregular é oriunda da Venezuela.

Novo presidente anuncia deportação de imigrantes

Entre as propostas do novo presidente está a criação de uma força policial inspirada no Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE), com a finalidade de deter e deportar rapidamente imigrantes em situação irregular. Kast também defende cortes significativos nos gastos públicos e políticas econômicas com menor nível de regulação estatal.

Alex Ferreira/Arquivo DA
Palácio La Moneda, sede do governo chileno, no Centro da capital, Santiago

Apesar da vitória expressiva nas urnas, Kast deverá enfrentar um cenário de equilíbrio de forças no Congresso Nacional. O Senado está dividido de forma igualitária entre parlamentares de esquerda e de direita, enquanto, na Câmara dos Deputados, o voto decisivo pertence ao Partido Popular, de orientação populista. As principais conquistas da direita nas eleições legislativas de novembro vieram de partidos tradicionais, o que pode limitar o avanço de propostas consideradas mais radicais.

No campo social, Kast já se posicionou contra o aborto e o uso da pílula do dia seguinte. Eventuais mudanças na legislação sobre o tema, no entanto, dependeriam do apoio da maioria absoluta do Congresso, o que torna incerta qualquer alteração no curto prazo.

No mercado financeiro, a expectativa de políticas mais favoráveis ao setor privado e de redução de regulações já provocou reações positivas, com valorização do peso chileno e do mercado de ações após a confirmação do resultado eleitoral.

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