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13 de dezembro, de 2025 | 07:00

Já somos reféns das grandes empresas de tecnologia

Miguel dos Santos *


Provavelmente você percebeu ou leu que, nesta semana, contas de políticos simplesmente sumiram da busca por Instagram. Não, as contas não foram apagadas, não foram suspensas; elas continuavam ali, existindo, mas não apareciam na busca por Instagram. Não era possível, por exemplo, marcar algumas pessoas. Os usuários começaram a relatar que perfis de políticos, inclusive do presidente Lula, não apareciam na busca por Instagram na manhã de quarta-feira (10). O primeiro alerta veio da esquerda, mas logo ficou claro que políticos da esquerda e da direita também foram atingidos.

Perfis como o do governador Tarcísio de Freitas não apareciam, enquanto outros nomes, como Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Boulos, surgiam normalmente.

O resultado foi uma grande confusão desinformacional, em que pessoas da direita acusavam a esquerda de censura e vice-versa. Mas a verdade é outra: o que aconteceu foi uma espécie de shadowban. O Etnógrafo/Antropólogo da área de Tecnologia, David Nemer, explica que Shadowban é quando uma plataforma reduz ou “esconde” o alcance de uma conta sem avisar ninguém. O perfil existe, fica invisível na busca, nos feeds, nas hashtags. Não é um cancelamento por completo; é um silenciamento invisível.
“As contas não foram apagadas, não foram suspensas; elas continuavam ali, existindo, mas não apareciam na busca por Instagram”


Outra gigante da tecnologia, o Google também tem adotado medidas radicais. Desde o mês de dezembro de 2024 implementou mudanças radicais em seus algoritmos. Alguns sites de notícias que dependiam do Google para monetização por meio de audiência, enfrentaram grandes dificuldades. Até hoje algumas não se recuperaram do impacto sofrido. As empresas fazem o que querem e não há a quem recorrer, a não ser adotar paliativos para mitigar os estragos.

Agora, o fato desta semana ilustra bem a discussão a respeito da necessidade de regulação das redes. E aqui vai algo muito importante: quem diz que sabe exatamente como o algoritmo da Meta funciona está mentindo. Os algoritmos do Instagram, por exemplo, funcionam como uma espécie de “caixa-preta”. A gente só vê o que entra e o que sai. Nunca o processo, nunca o que acontece ali dentro, porque esses algoritmos são opacos por definição.

A Meta até soltou uma nota alegando que estava ciente do problema técnico, que isso atingiu a busca por contas no Instagram e que o problema já foi resolvido. Mas será que foi realmente um problema técnico ou será que foi um teste de algoritmo?

Na prática, a gente aprendeu a operar as redes sociais e os recursos de inteligência artificial, mas não sabe como o mecanismo funciona. E esse é exatamente o problema. O episódio desta semana deixou claro o poder informacional da Meta.

O Instagram é a segunda rede social mais usada no Brasil, com 147 milhões de usuários ativos. Se a Meta quiser esconder vozes importantes, ela consegue - como conseguiu na quarta-feira - sem excluir contas, sem deixar rastros. E isso é gravíssimo em um país que terá eleições no ano que vem. A propaganda política no Brasil é regulada na TV e no rádio aberto. Entretanto, na internet, segue sem transparência real. O WhatsApp está em quase todos os celulares, e o Instagram em mais de 90%. Eles entregam conteúdo diretamente às pessoas, mas ninguém sabe como isso é feito.
“Se a Meta quiser esconder vozes importantes, ela consegue - como conseguiu na quarta-feira - sem excluir contas, sem deixar rastros”


Por isso, a regulação não pode ser uma pauta da esquerda ou da direita, porque é sobre soberania nacional. Se você ainda acha que regulação das redes sociais é coisa de esquerdista, está na hora de mudar de opinião. Hoje não há nenhuma forma de provar que as grandes empresas de tecnologia favorecem um lado ou outro. E isso ocorre porque os algoritmos são opacos, fechados e protegidos como segredo comercial. Ou seja, sem transparência algorítmica, não há como garantir eleições justas. E, pior, não há como provar quando o silenciamento acontece - e isso é o verdadeiro perigo. Portanto, a regulação das redes sociais é uma questão de democracia e soberania nacional.

Está na hora de reavaliar a oposição à regulação das redes sob o argumento de que isso é uma ameaça direta à liberdade de expressão e um risco de censura estatal. O argumento central - de que a criação de regras rígidas de moderação pode ser usada para silenciar opiniões políticas divergentes sob o pretexto de combater a desinformação ou o discurso de ódio - não funciona mais. Quem já faz isso hoje, e da forma que lhe interessa, são as chamadas big techs.

* Economista.

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