11 de dezembro, de 2025 | 08:00
Vírus HIV e envelhecimento: menos medicamentos podem significar mais saúde e qualidade de vida
Carlos Alberto Costa *
No dia 30 de novembro o Diário do Aço estampou na primeira página a manchete Vale do Aço tem alta de casos de Aids e HIV mantém estabilidade”. A notícia dá conta que os casos registraram alta de 88,89% entre 2023 e 2024 e em 2025 o quadro aponta a sequência da transmissão do vírus, cuja vacina nunca virou realidade. Sem imunização, avançam as pesquisas que priorizam a medicação.
Também esta semana, o jornal da Unesp noticia dados de um estudo conduzido por pesquisadores da própria universidade, em parceria com o Center for Global Health, da Georgetown University, nos Estados Unidos, mostrando que pessoas com 50 anos ou mais com HIV (vírus causador da Aids)têm alcançado melhores resultados clínicos e qualidade de vida quando tratadas com regimes simplificados de terapia antirretroviral (TARV). Os resultados da pesquisa serão publicados na revista científica Brazilian Journal of Medical and Biological Research.
A Aids atinge 40 milhões de pessoas no mundo. A doença é causada pelo HIV e nem todas as pessoas que são infectadas desenvolvem a doença, mas são capazes de contaminar outras pessoas, seja pela transfusão de sangue, seja pelo contato sexual desprevenido. A medicação evoluiu, mas a prevenção ainda é um caminho a ser mantido para evitar a infecção.
A pesquisa analisou 1.018 pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2020 e 2023. O grupo com idade mais avançada, de 50 anos ou mais, representou 56,6% da amostra total, enquanto os mais jovens (18 a 49 anos), 43,4%. De acordo com os resultados do estudo, praticamente 90% do grupo 50+ apresentaram carga viral indetectável, frente a 83,3% dos mais jovens, e uma taxa de falha virológica (quando o vírus volta a se multiplicar no sangue) quatro vezes menor (2,5% vs. 10,1%).
A medicação evoluiu, mas a prevenção ainda é um caminho a ser mantido para evitar a infecção”
Os 50+ também mostraram melhor recuperação imunológica, medida pela contagem de linfócitos T CD4, células essenciais para a defesa do organismo e alvos diretos do HIV. Apenas 7% dos pacientes acima de 50 anos tinham menos de 350 células/mm³, contra 13,3% dos mais jovens, indicando resposta imunológica mais robusta e menor vulnerabilidade a infecções.
Os dados utilizados pelo estudo foram obtidos no Serviço de Atendimento Especializado em Infectologia Domingos Alves Meira (SAEI-DAM), da Faculdade de Medicina do câmpus de Botucatu da Unesp, um centro de referência que acompanha há mais de duas décadas pessoas vivendo com HIV. Os medicamentos antirretrovirais, introduzidos a partir de 1996 pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, asseguraram a longevidade da primeira geração de pessoas vivendo com HIV, lançando desafios que gravitam em torno do cuidado com a saúde das pessoas que estão envelhecendo com o vírus.
A pesquisa adotou o marco de 50 anos para definir os adultos mais velhos vivendo com HIV”. Isso porque, mesmo sob tratamento eficaz, o HIV mantém o corpo em um estado contínuo de inflamação e ativação imunológica, levando a um desgaste precoce do sistema imune e favorecendo o surgimento antecipado de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares.
O uso prolongado de antirretrovirais e o risco de interações entre medicamentos também contribuem para esse envelhecimento celular acelerado. Assim, uma pessoa com HIV aos 50 anos costuma ter um perfil clínico, em termos de comorbidades, semelhante ao da população em geral dez anos mais velha. Esse critério é aceito globalmente pela comunidade científica.
Uma pessoa com HIV aos 50 anos costuma ter perfil clínico, em termos de comorbidades, semelhante aos de 60 anos”
O entendimento do infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Faculdade de Medicina do câmpus de Botucatu (FMB/Unesp), chefe do Departamento de Infectologia e médico de referência em genotipagem do HIV do Ministério da Saúde, é que o vírus HIV, antes associado a pessoas jovens, tornou-se uma condição crônica que exige um olhar geriátrico. O envelhecimento da epidemia já altera o perfil dos atendimentos: as pessoas fazem acompanhamento há muitos anos, mantêm adesão ao tratamento e convivem com outras doenças associadas à idade, como hipertensão, diabetes e aterosclerose, que surgem mais cedo devido a um estado de inflamação crônica provocado pela infecção, mesmo controlada
* Professor aposentado.
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