09 de dezembro, de 2025 | 17:23

Rigidez do modelo de trabalho estaria empurrando a geração Z para a informalidade

Divulgação/Guilherme Dardanhan
Para a Superintendência do Ministério do Trabalho em Minas Gerais, a sociedade caminha para um impasse nas relações de trabalhoPara a Superintendência do Ministério do Trabalho em Minas Gerais, a sociedade caminha para um impasse nas relações de trabalho

Com informações da ALMG
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no País foi de 5,6% no último trimestre, a menor da série histórica. No entanto, uma parcela significativa da população ocupada está na informalidade, sem acesso a direitos trabalhistas.

Diante dessa realidade, representantes dos empregados e dos empregadores debateram nesta terça-feira (9/12/25), em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a necessidade de incentivo ao trabalho regulamentado e sua importância para setores essenciais da economia, como a construção civil e o comércio.

A reunião foi solicitada pelo deputado Mauro Tramonte (Republicanos), preocupado com a dificuldade crescente das empresas em preencher vagas, mesmo em um mercado aquecido. Ele citou dados como o indício de escassez de mão de obra em 57% das principais ocupações do comércio, a dificuldade de contratação de 71% dos empregadores da construção civil e o déficit de pessoal no setor hoteleiro e de alimentação.

Mauro Tramonte observou que a informalidade é um obstáculo para o crescimento do País e afeta a segurança econômica das famílias, sem proteção previdenciária e a estabilidade que a carteira assinada proporciona.

Representantes do governo e da Associação Mineira de Supermercados (Amis) destacaram, entre as causas da ocupação informal, os programas assistenciais, de transferência direta de renda para as famílias mais vulneráveis. A lógica é que, com uma renda mínima garantida, parte dos trabalhadores prefeririam complementar seus rendimentos com bicos, fechando o mês com mais dinheiro do que se tivessem fixos em um trabalho regulamentado.

Katya Duarte, da Amis, ressaltou que o orçamento para o assistencialismo, que se multiplicou ao longo dos anos, é bancado por quem produz. O principal programa, o Bolsa Família, pagava cerca de R$ 70 para 1,1 milhão de famílias quando foi criado, em 2003, enquanto o orçamento projetado para 2026 é de R$ 158,6 bilhões.

Ela defendeu uma porta de saída para os beneficiários, tendo em vista que 94 milhões de brasileiros dependem de algum programa social. A Amis representa 50 mil estabelecimentos, responsáveis por mais de 500 mil empregos diretos.

Mudança geracional
Bárbara Abras, assessora da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), e Marco Antônio Gaspar, superintendente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, também defenderam atualizações nas leis que regulam o mercado de trabalho.

“As regras trabalhistas não contemplam a realidade das pessoas, que precisam de maior flexibilidade. As leis precisam se adaptar ao que as pessoas demandam.”

Marco Antônio reforçou que o governo Zema atraiu R$ 500 bilhões em investimentos para o Estado, com a geração de 1 milhão de empregos, mas que é preciso pensar adaptações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para atrair a geração Z, menos inclinada ao modelo de trabalho tradicional.

Jornadas flexíveis, rejeição à hierarquia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e menor preocupação com o futuro são características dessa geração que a tem direcionado para trabalhos autônomos, principalmente em plataformas digitais como Uber e iFood.

“Aprendi com meu pai a importância da CLT. Essa maior flexibilidade é uma armadilha, o trabalhador fica desassistido”, pontuou Shirley Oliveira, advogada da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-MG).

Segundo o superintendente do Ministério do Trabalho em Minas, Carlos Calazans, apenas 30% dos 1,9 milhão de pessoas que trabalham por aplicativos contribuem para o INSS. Ele acredita que a sociedade caminha para um impasse: de um lado a informalidade pode inviabilizar o pagamento de aposentadorias e pensões no futuro; por outro lado, o setor produtivo precisaria repensar os baixos salários e a realidade dos empregos oferecidos para reter a mão de obra disponível.

Ainda de acordo com Calazans, 85% dos trabalhadores com carteira assinada, 45 milhões pessoas, recebem até dois salários mínimos por mês. Como forma de viabilizar maiores rendimentos para atrair a classe trabalhadora, ele sugeriu que o governo abra mão de algum tipo de arrecadação em benefício dos empregadores e a reversão de parte dos lucros das empresas para salários e benefícios, como plano de saúde e vale alimentação.

Capacitação


Outro aspecto observado pelos participantes da audiência como determinante para a informalidade foi a carência de formação técnica dos trabalhadores. Nesse sentido, Bárbara Abras, da Sedese, destacou três programas prioritários do governo. O Trilhas de Futuro, com a oferta gratuita de cursos técnicos aos jovens; o Minas Forma, que oferece capacitação para pessoas em situação de vulnerabilidade social; e o Trajeto Moda, com o ensino de corte e costura para mulheres.

Mauro Tramonte salientou a relevância da participação da iniciativa privada e da sociedade civil organizada nesse processo de formação profissional.
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