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08 de dezembro, de 2025 | 17:45

Fotógrafo mostra o “real maravilhoso” presente no Congado do Ipaneminha

Divulgação
Rodrigo Zeferino abre a exposição ''Galangos'' no Museu Estação MemóriaRodrigo Zeferino abre a exposição ''Galangos'' no Museu Estação Memória
A história, muitas vezes silenciada, encontra a sua voz e a sua cor em grandes formatos. É com essa premissa que o artista visual Rodrigo Zeferino lança a exposição fotográfica “Galangos - Centenário do Congado do Ipaneminha”, um projeto que transcende o registro documental para se firmar como “um manifesto estético e histórico”. O vernissage será nesta terça-feira (9), às 18h, no Museu Estação Memória Zeza Souto - rua Belo Horizonte, 272, Centro de Ipatinga.

O Congado do Ipaneminha, fundado em 1925 como um grupo de “marujos” por José Gonçalves, é um pilar da identidade cultural de Ipatinga. Em 2019, o grupo foi o primeiro bem imaterial a ser registrado como Patrimônio Cultural da cidade, um reconhecimento formal dos saberes, das habilidades e das crenças passados de geração em geração.
A comunidade do Ipaneminha, um bairro rural que viu a cidade de Ipatinga nascer e crescer impulsionada pela siderurgia do Vale do Aço, mantém viva essa tradição, resistindo à força do modus vivendi urbano e cosmopolita que a cerca. É nessa encruzilhada entre o passado ancestral e o presente industrial que a arte de Zeferino se insere.
“Quando descobri que os primeiros movimentos de criação de um grupo de congado aqui na região remontam a um tempo anterior à ocupação de Ipatinga propriamente dita, fiquei muito impressionado com o poder de resistência dessa tradição local e me comprometi a realizar algo que pudesse exaltar a força desse povo”, afirma o artista.

Galangos
O título da exposição evoca a lenda fundadora das congadas: Galanga, o Rei do Congo, capturado e trazido ao Brasil, rebatizado como Francisco, que se tornaria o lendário Chico Rei. A narrativa de Galanga, que compra a liberdade de seus súditos e constrói uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Vila Rica (atual Ouro Preto), é a semente de devoção e resistência que floresce nas congadas.

Rodrigo Zeferino é natural de Ipatinga, com uma trajetória que se iniciou no fotojornalismo, mas que se aprofundou nas artes visuais. Seus trabalhos anteriores, como “O Grande Vizinho” e “Veia Aberta” demonstram um olhar atento às paisagens transformadas pela mineração e pela siderurgia, elementos centrais na história do Vale do Aço. Em “Galangos”, o artista e sua equipe multidisciplinar mergulharam em uma pesquisa histórica para criar retratos de elevado padrão de produção. A proposta é ir além do registro: são construídos cenários, figurinos e iluminação para conferir aos integrantes da guarda uma vigorosa carga conceitual, elevando-os à condição de obras de arte em painéis de grandes dimensões.

A diretriz estética do projeto é o conceito de ''lo real maravilloso'', cunhado pelo escritor cubano Alejo Carpentier A diretriz estética do projeto é o conceito de ''lo real maravilloso'', cunhado pelo escritor cubano Alejo Carpentier
Para isso, o artista contou com a parceria da produtora cultural Shirley Maclane, do artista plástico Rafael Cabral, na direção de arte, e com o artista visual Nilmar Lage. Zeferino ainda destaca o apoio do educador comunitário Elias Ferreira, a quem carinhosamente define como “um herói na missão da renovação do Congado”, e Keila Alves, vice-diretora da Escola Municipal Professor Mário Casassanta, do Ipaneminha.

Diretriz estética
A diretriz estética que guia o projeto é o conceito de “real maravilhoso” (lo real maravilloso), cunhado pelo escritor cubano Alejo Carpentier e amplamente explorado por autores como o colombiano Gabriel García Márquez. “Este conceito literário propõe que a realidade latino-americana, com sua carga histórica de absurdos, violências e resiliência, já é, por si só, mágica e fantástica”, informa a assessoria do projeto.

Ao aplicar o conceito ao Congado do Ipaneminha, “Zeferino não fantasia a tradição, mas revela a magia intrínseca de sua existência. O martírio da diáspora africana, a fé inabalável e a persistência cultural em um contexto de modernidade industrial são a ‘realidade desaforada’ que Gabriel García Márquez descrevia, e que agora se materializa em imagens que honram a coroa e a ancestralidade dos congadeiros”, descreve a produção.

“A exposição é um convite à redescoberta de uma paisagem cultural. É a fotografia que, fundamentada na história da arte e na literatura, presta a devida reverência a um século de batuque, dança e fé”, conclui o artista, destacando a alegria ter tido seu projeto aprovado em um dos editais da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), o que possibilitou a realização do projeto justamente em 2025, ano do centenário do Congado do Ipaneminha.

SERVIÇO
Exposição: Galangos - Centenário do Congado do Ipaneminha
Artista: Rodrigo Zeferino
Abertura: 9/12 (terça-feira), a partir das 18h.
Local: Museu Estação Memória - R. Belo Horizonte, 272 - Centro, Ipatinga - MG, 35160-034.
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