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07 de dezembro, de 2025 | 08:00

Estamos entregando nossa liberdade sem lutar, com uma tela na frente do rosto o tempo todo

Carlos Alberto Costa *


Gostaria de aproveitar esse espaço que o Diário do Aço me cede, gentilmente, para recomendar a urgente leitura de 1984, de George Orwell, um romance distópico que retrata a Oceânia, um superestado totalitário onde o Partido, liderado pelo onipresente Grande Irmão, controla tudo, inclusive pensamentos e história, por meio de vigilância (teletelas), propaganda e manipulação da linguagem (Novilíngua).

O protagonista, Winston Smith, trabalha no Ministério da Verdade reescrevendo o passado, mas começa a duvidar do regime, buscando liberdade e amor com Júlia, o que o leva à perseguição pela Polícia do Pensamento, tortura no Ministério do Amor e, por fim, à submissão total, amando o Grande Irmão.

A obra critica regimes autoritários e explora temas como poder, controle, verdade, manipulação e a perda da individualidade, alertando para os perigos do totalitarismo. É exatamente o que está acontecendo nos dias atuais. Quem já leu 1984 não se espanta, mas, conversando com pessoas da nova geração, pasmem, senhores e senhoras, há quem acredite que esse controle não só é aceitável, como “normal”.

O que era ficção, tornou-se uma dura realidade. Caminhamos a passos largos rumo ao controle totalitário. É fácil perceber que as pessoas ainda não entenderam o buraco em que a humanidade está se enfiando neste momento. Todas as fotos que tiramos com nossos celulares, todos os vídeos de família, todas as nossas atividades online, compras, encontros com amigos, encontros de negócios, estão sendo monitorados. Silenciosamente.
“As pessoas ainda não entenderam o buraco em que a humanidade está se enfiando”


Chegaremos em breve a um ponto em que qualquer comportamento ou decisão nossa, que contrarie o governo do momento, que vá de encontro ao que o governo do momento gostaria que fosse, você não conseguirá mais sair de casa, não conseguirá sair no carro porque ele estará bloqueado na garagem (os Teslas já podem ser bloqueados à distância), não vai conseguir embarcar em ônibus, avião ou trem, ou estará limitado, sem poder fechar contratos com “empresas aliadas” do governo.

Todas essas coisas estão sendo cada vez mais criadas, programadas e decididas por algoritmos. E esses algoritmos são alimentados justamente pelos dados “inocentes” que nossos dispositivos monitoram o tempo todo, constantemente, invisivelmente, silenciosamente, agora mesmo, enquanto você lê esse artigo. Nossos dispositivos estão registrando todos esses dados que não vemos sendo criados, que, no geral, parecem muito inocentes.

Se você estava na cafeteria, escutando uma música, o algoritmo capta seu gosto musical. Se foi ao hospital, ele sabe do que se tratou lá. Se foi ao supermercado, ele sabe suas preferências alimentícias e de marcas que mais consome. Se teve um conflito familiar, os algoritmos captam. Se fez uma chamada de telefone ou de vídeo a sua mãe, esposa ou amante, tudo é registrado. O governo e as empresas chamam esse conjunto de informações de metadados. Não se trata de coleta de informações inteiras, mas apenas de recortes ao longo do dia, de sua vida.

Se alguém ainda tem dúvidas, basta perceber quantas vezes conversamos com amigos e familiares sobre situações como produtos, serviços, viagens, um medicamento, um veículo, e, instantes depois, quando se entra em uma mídia social, aparecem postagens e sugestões sobre o que se tinha falado minutos antes?

É necessário entender que esses registros de atividade estão sendo criados e compartilhados, coletados e interceptados constantemente por empresas e governos. Esses dados têm valor de mercado e são comercializados. O que eles estão vendendo, na prática, não é informação, estão vendendo a nós, nosso poder de escolha, nosso passado e nosso futuro. Estão roubando nosso poder de escolha e fazendo nossas histórias funcionarem de acordo com o interesse deles. As pessoas precisam entender que objetos técnico-informacionais já nascem como ideologia.
“Algoritmos são alimentados pelos dados ‘inocentes’ que nossos dispositivos monitoram o tempo todo, silenciosamente”


Por fim, o cerceamento dos atos da vida civil estilo “1984” ainda está iniciando, ainda dá tempo de combater. Ocorre que, do jeito que a coisa está indo, é questão de tempo para se instaurar de vez para todas as camadas da população.

Corremos o risco de, em algum momento, alguém em alguma posição de poder começar a decidir quem pode ser, estar ou fazer seja lá o que for. Mas a paranoia gerada por esse tipo de pensamento pode levar a desastres como a eleição de supostos salvadores da pátria que, na verdade, representam justamente os interesses dos que querem o totalitarismo. Exemplos não faltam, seja no Brasil, Argentina, Estados Unidos, El Salvador, Hungria, Venezuela e tantos outros lugares. Todo tipo de totalitarismo deve ser evitado e combatido. Os espantalhos “antissistema” têm se aproveitado muito da manipulação de dados.

Acredito que, da mesma forma como olhamos para o passado histórico e nos questionamos como a humanidade suportou a Idade Média com o feudalismo ou aceitou situações como o regime Nazista alemão na primeira metade do século XX, daqui a algum tempo vamos olhar para trás e nos questionar “como a gente ficava tanto tempo em smartphones?”, “Como deixávamos crianças utilizarem smartphones?”, como aceitamos o Tecnofeudalismo?. Ainda há tempo. Acordemos.

* Professor aposentado.

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