25 de novembro, de 2025 | 07:00
Minas reconhece o som que nos forma
Carlos Alberto Costa *
O gesto simbólico anunciado no dia 22 de novembro - o reconhecimento das Bandas de Música de Minas Gerais como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado - é mais do que um título honorífico. Trata-se de uma reafirmação de identidade, de memória e de pertencimento. Minas Gerais não apenas preserva seu passado ao registrar os saberes e as formas de expressão dessas corporações; o Estado aponta para o futuro ao garantir que essa tradição continue pulsando nas ruas, praças e celebrações de centenas de cidades.
O reconhecimento aprovado por unanimidade pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), durante reunião no Iepha-MG, ocorre em um contexto especialmente simbólico: o 1º Encontro Estadual de Bandas de Música, que reuniu mais de 40 corporações na Praça da Liberdade. Não poderia haver cenário mais apropriado. Em meio ao cortejo que tomou o coração da capital, ficou evidente que, em cada dobrado entoado, havia também a confirmação de que essas bandas são parte essencial da formação cultural mineira.
Instrumentos afinados, partituras compartilhadas e olhares atentos aos maestros revelam algo que vai além da música. Como destacou a secretária de Estado de Cultura e Turismo, Bárbara Botega, ao reconhecer essas bandas como patrimônio, preservamos a memória e valorizamos a mineiridade. Minas celebra, assim, uma tradição que não se deixa dissolver pelo tempo: ela se fortalece justamente por ser comunitária e intergeracional.
A fala do presidente do Iepha-MG, Paulo Roberto do Nascimento, sintetiza esse sentimento ao lembrar o papel das bandas nos dobrados festivos e nos cortejos solenes da Semana Santa. São sons que atravessam séculos e que, mesmo diante das transformações sociais, continuam presentes como linguagem coletiva. Também é relevante o registro do diretor de Proteção e Memória, Adriano Maximiano, ao afirmar que as bandas são parte da alma mineira - e alma, como sabemos, não se arquiva: se vive.
Minas Gerais abriga hoje mais de 700 bandas ativas, muitas centenárias”
Desde o período colonial, essas corporações acompanhavam festas religiosas, atos cívicos e manifestações populares. Foram - e seguem sendo - uma das principais portas de entrada para a educação musical e para a vida comunitária. Não por acaso, o processo de reconhecimento envolveu entrevistas, registros audiovisuais, levantamento de repertórios e um dossiê técnico que comprova a robustez histórica e social dessa manifestação.
A conquista, celebrada por músicos e regentes, tem um significado ainda mais profundo quando ecoa pelas palavras do maestro Frederico Teixeiras de Freitas: cada banda é uma pequena orquestra de afetos e tradições. E é exatamente isso. Uma banda de música carrega consigo a história de um distrito, a memória de uma festa, o orgulho de uma comunidade. É projeto social, formação cidadã e elo entre gerações.
Minas Gerais abriga hoje mais de 700 bandas ativas, muitas centenárias. Ao assegurar seu registro como Patrimônio Cultural Imaterial, o Estado não apenas reconhece a grandiosidade desse legado, mas assume o compromisso de mantê-lo vivo, forte e presente. Em tempos em que tanto se perde - e em que tanto se esquece -, registrar aquilo que nos constitui é um ato de responsabilidade histórica. E que bom que Minas ouviu seus próprios sons para lembrar disso.
* Professor aposentado.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]













