09 de novembro, de 2025 | 07:00
Meio ambiente ao nosso redor
Marli Gonçalves *
Fiquei emocionada em assistir uma reportagem local sobre a reunião que um grupo de coreanos faz todas as sextas-feiras aqui em São Paulo, no Bairro Bom Retiro, onde vivem, para limpar as ruas. Muitos idosos, coletes amarelos, nas mãos a vara de pegar lixo no chão, recolhem o que encontram. Cuidam das árvores, dos jardins. É a ação real em prol do meio ambiente para todos, o melhor exemplo em tempos de COP30 e suas discussões que ainda parecem tão longe de nós.
De lá de Belém do Pará vemos e ouvimos as autoridades de todo o mundo, com direito a príncipe, sorriem para fotos, prometem mundos e fundos, discutem o que há tempos sentimos na nossa pele, nossa saúde, a crise climática, as emergências e destruições cada vez mais frequentes no planeta. Ano que vem tem mais.
Cada vez mais estou segura e convencida de que ações reais como as do grupo de coreanos, como as que podemos fazer no nosso dia a dia, nos alertas que podemos emitir, na atenção, será fundamental e de resultados. Que a educação, desde o básico, as crianças, e em todos os níveis, trará gerações mais conscientes, até obrigatoriamente. O cenário macro enchentes, queimadas, derretimento polar, calor e frio extremos, estações desequilibradas são o resultado distante. Especialmente nas zonas urbanas temos o nosso redor, nossas malcuidadas árvores, ou mesmo a falta delas, a maldita poluição sonora a qual se dá tão pouca atenção, a poluição visual, a poluição do ar, tanto a se fazer. O lixo jogado nas ruas, a falta de lixeiras.
Já contei algumas vezes as encrencas em que já me meti por conta do hábito que não sei de onde vem de jogarem lixo de todos os tipos - no pé das árvores. Inclusive lixos visivelmente propositais para assassiná-las, como óleo quente. Olham feio e costumam ainda justificar com o caminhão vai passar”, o que você tem com isso?”. Tem quem ainda justifique o crime, reclame da sujeira” que fazem, que a árvore atrapalha a visão de seu estabelecimento”. Já ouvi de um tudo. Criei a hashtag #ArvoreNaoELixeira. Uma luta.
De lá de Belém do Pará vemos e ouvimos as autoridades de todo o mundo, com direito a príncipe, sorriem para fotos”
Sozinha, cansa. Essa semana mesmo vi e fiquei triste que só restaram tocos de duas árvores que costumava observar. Fora a Prefeitura de São Paulo onde você pode enumerar protocolos, fazer um colar com os números que ficam sem resposta. Pior, cada dia mais autorizam a derrubada de centenas para a construção de condomínios sempre muito esquisitas aprovações, acima e contra a opinião da comunidade. As podas, quando ocorrem, são barbeiragens. A única vez que fui atendida com presteza em uma reclamação foi quando acionei a Guarda Florestal. Nesse caso planejavam derrubar uma árvore sã. Salva!
Daí me emocionar com a ação dos coreanos e os resultados visíveis. O diplomata coreano disse na reportagem que a ação é baseada na gentileza e na teoria das janelas quebradas”. Essa teoria foi desenvolvida em 1982, pelo cientista político James Q. Wilson com o psicólogo criminologista George L. Kelling. Distinguiram uma relação de causalidade entre desordem e até a criminalidade: a janela quebrada, se mantida, mostra desleixo, impunidade, desordem, e favorece ainda mais desleixo, impunidade, desordem, em um ciclo terrível. Teoria aplicada ainda às questões de violência e crimes: a falta de atenção a pequenas infrações transmite a mensagem de que ninguém se importa.
Tem toda uma lógica. Podemos fazer muito. O momento é agora, e ao nosso redor. Inclusive enquanto eles lá em cima falam e discutem se vão abrir a carteira, deixar cair umas moedas para nos salvar a todos.
* Jornalista, cronista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo. [email protected] / [email protected].
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