06 de novembro, de 2025 | 16:53
Devoção e história fazem de Bom Jardim de Minas destino de fé
Centro histórico e tradição do Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos fortalecem o turismo religioso no município do Sul de Minas
Bruno Figueiredo/Secult-MG
O simpático e charmoso centro histórico e a primeira residência da cidade
O simpático e charmoso centro histórico e a primeira residência da cidadePor Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
A fé e a história caminham juntas em Bom Jardim de Minas, cidade da região da Serra da Mantiqueira, que tem se destacado pelo potencial para o turismo religioso e histórico. O município foi emancipado apenas em 1938, mas sua história, ainda como arraial, começou há quase 300 anos, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal. Com aproximadamente 7 mil habitantes, a bucólica cidade é conhecida por abrigar um dos jubileus mais antigos de Minas Gerais, o do Bom Jesus de Matosinhos. O município tem atraído cada vez mais visitantes interessados em vivenciar tradições que atravessam séculos e continuam a moldar a identidade local.
Recentemente, conforme informado pelo prefeito José Francisco Matos e Silva, mais conhecido como Chiquinho (MDB), Bom Jardim de Minas passou a integrar o circuito turísticos de Cidades Históricas da Mantiqueira, além de criar uma pasta específica de Cultura e Turismo antes era vinculada à secretaria de Educação e Esporte justamente para desenvolver os potenciais do município.
Dentre os charmes da cidade, destaca-se centro histórico que ainda preserva casarões coloniais, ruas de paralelepípedo e a primitiva Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, construída no século XVII. O prefeito destacou a importância de manter preservado o local.
Se nós perdermos isso aqui, a gente perde a nossa identidade. A gente perde a identidade colonial, a identidade portuguesa, a raiz africana que nós temos aqui. Antes de o português chegar, conta a história que era um lugar de tribo dos indígenas Puris. Aqui [centro histórico] está o coração da história de Bom Jardim, do desenvolvimento social econômico, e depois que foi aberto o Real Caminho do Comércio em 1811, Bom Jardim passou a ser o centro dessa rota que fazia a importação e exportação dos produtos da corte para o interior do país, e do interior do país para corte. Aqui os tropeiros do interior do Brasil e os que vinham do Rio, encontravam em Bom Jardim esse espaço que nós temos aqui. Então aqui foi desenvolvido os atos de mercantilismo e dos escambos”, contou o prefeito.
Bruno Figueiredo/Secult-MG
Dentro do casarão histórico são preservados objetos que ajudam a contar a história de Bom Jardim de Minas
Dentro do casarão histórico são preservados objetos que ajudam a contar a história de Bom Jardim de MinasChiquinho também disse que grandes casarões foram demolidos para a construção de imóveis mais modernos, devido a cidade não compreender a importância de preservar patrimônios históricos. No entanto, as edificações que sobraram foram inventariadas e tombadas pelo governo local. Também foi desenvolvido, com o passar do tempo, um senso sobre a necessidade de manter viva a história local.
A antiga matriz de Bom Jesus do Matozinhos, construída em 1770, infelizmente passou por um processo de descaracterização. De construção em três estágios: capela primitiva que recebeu a imagem de Bom Jesus do Matozinhos; nave central, em 1840; e por último a torre, construída em 1905. Chiquinho revelou que Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde, teceu sua arte na capela, que também recebeu objetos banhados a ouro próximo ao altar. No entanto, em determinado momento, os vigários que administravam a igreja entenderam que era necessária uma reforma e retiraram as pinturas históricas do templo. Também foram vendidas imagens e outros objetos entre as décadas de 60 e 80. No século XX, foi feita ainda uma pintura que remete a original, numa tentativa de reconstituir as inigualáveis obras de Mestre Ataíde.
Fé, devoção e economia
Bruno Figueiredo/Secult-MG
Bom Jardim de Minas tem uma grande devoção ao Bom Jesus do Matozinhos e a mais de 200 anos promovem um jubileu em sua homenagem
Bom Jardim de Minas tem uma grande devoção ao Bom Jesus do Matozinhos e a mais de 200 anos promovem um jubileu em sua homenagemO conjunto arquitetônico forma um cenário de fé e cultura, que representa o enraizamento da religiosidade mineira. Nós temos aqui o jubileu, a gente chama festa de agosto porque tem 245 anos que a gente celebra em agosto a festa do padroeiro do município, o Senhor Bom Jesus do Matozinhos, que teve origem nessa vinda do português [Coronel Antônio Corrêa de Lacerda] para Bom Jardim. Ele trouxe uma imagem pequenina que ficava na capelinha feita em sua fazenda. Com o desenvolvimento do arraial, isso aqui ficou pequeno para abraçar a família dele, os escravizados, os catequizados, o povo todo que passava por aqui, ele mandou fazer a igreja lá em cima e esculpiu uma imagem do Senhor Bom Jesus de Matozinhos. E esse movimento religioso nos séculos XVIII, XIX e XX moldou a própria cidade. As ruas eram abertas conforme o giro da procissão, se era giro longo ou giro curto. O processo de capitalização da região em torno da economia foi em função dessa festa. Há 200, 300 anos a única festa que você tinha era da quermesse da igreja, que o povo vinha, saía da zona rural, celebrava, fazia leilão, então isso fez o desenvolvimento social da cidade. Tudo que é muito forte o Bom Jardim está ligado à devoção do Bom Jesus de Matozinhos, que nos remete a essa história portuguesa, muito antiga, e você consegue ver isso muito enraizado na nossa gente”, detalhou Chiquinho.
As celebrações em homenagem ao Bom Jesus, feitas anualmente, reúnem milhares de devotos e turistas, movimentando o comércio, a rede hoteleira e o setor gastronômico.
Durante o Jubileu do Bom Jesus, o município se transforma. Missas, procissões e apresentações culturais preenchem o calendário de festas. A celebração é mais do que um ato de fé, é um encontro entre o sagrado e o cotidiano, entre o passado e o presente de uma cidade que busca, também no turismo religioso, uma forma de desenvolvimento sustentável.
Nova igreja
Na rua Padre Francisco Rey, no Centro da cidade, uma nova igreja foi erguida e hoje sustenta o título de matriz de Bom Jesus do Matozinhos. Mais ampla e moderna, com desenhos em seus vitrais que chamam a atenção, haverá em um futuro próximo, a solicitação para que ela seja elevada a Santuário.
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Prefeito Chiquinho explicou a história da cidade aos jornalis e os planos para desenvolver o turismo na região
Prefeito Chiquinho explicou a história da cidade aos jornalis e os planos para desenvolver o turismo na regiãoHospitalidade mineira
Com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG) e da Codemge, Bom Jardim de Minas vem sendo divulgado como destino integrante do roteiro Cidades Históricas da Serra da Mantiqueira. O prefeito da cidade elogiou a iniciativa.
Além da gente vender a nossa cidade, que é muito importante, a gente compartilha informação. Minas Gerais tem um Brasil todo desenhado aqui dentro. Trazer o Brasil para cá, é levar um pouco do Brasil para vocês também, porque aqui teve uma história. E não é uma cidade de 30 anos, é uma cidade que já está caminhando para os seus 300 anos. Você tem uma procissão de 245 anos ininterrupta, você tem um núcleo que ajudou a desenvolver toda essa região, porque daqui saiu várias pessoas, nesse período colonial, para fundar outras vilas, outros povoados. A questão do ouro, que era muito forte naquela época, a questão devocional, a questão dos escravizados, dos índios que foram dizimados.
Aqui, é um pouco da história do Brasil que hoje nos mostra a necessidade de não repetir os erros, principalmente, mas de trilhar um caminho para o futuro”, afirmou o prefeito.
O turismo religioso, segundo representantes locais, tem gerado novas oportunidades econômicas. Produtores de alimentos típicos e empreendedores da área de hospedagem têm se beneficiado do aumento no fluxo de visitantes.
O restaurante João Boquinha era um pequeno e hoje ele já expandiu, também tem o Rancho Mineiro. Eu mesmo sou secretário, mas sou um empreendedor do turismo, tem minha pequena pousadinha no meu sítio. Um rapaz daqui também investiu lá na propriedade dele. Já tem aqui o fluxo turístico que acontece, e nós, como poder público, vem fomentando também, com criação de novos eventos. A gente desenvolveu todos os agentes culturais aqui do município com uma festa maravilhosa que envolveu desde a criação até o idoso, atraiu turistas, e isso divulga e valoriza o povo local”, reforçou Felipe Faria Teixeira, secretário municipal de Cultura, Lazer e Turismo.
Bruno Figueiredo/Secult-MG
A primeira capela em Bom Jardim de Minas foi construída na fazenda do Coronel Antônio Corrêa de Lacerda
A primeira capela em Bom Jardim de Minas foi construída na fazenda do Coronel Antônio Corrêa de LacerdaBom Jardim de Minas, conforme os gestores públicos, também carrega uma marca registrada dos mineiros: a hospitalidade. Nós temos uma característica que é muito própria do bom jardinense, que é o acolhimento. Isso é decorrência da nossa raiz tropeira. Porque se os nossos pais, nossos avós, bisavós, tataravós não tivessem as portas abertas para acolher, nós não sobreviveríamos, porque nós precisávamos escancarar o que nós éramos, acolher para receber o pano de seda que vinha do Rio e vender o nosso torresmo aqui para levar para o Rio de Janeiro. Essa característica está no nosso DNA”, garantiu Chiquinho.
Trabalho com as crianças
Felipe também disse que os alunos do ensino integral têm uma disciplina específica para desenvolver o espírito de empreendedorismo e olhar atento para o setor de turismo.
O ensino integral hoje tem a disciplina do turismo, para as crianças já crescerem com essa mentalidade, que a cidade tem o potencial de desenvolvimento, que aqui é um destino turístico”, revelou o secretário. Ao todo, 60 crianças do 5º ano participam da iniciativa.
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Os vitrais da nova matriz de Bom Jesus do Matozinhos acrescentam charme a igreja
Os vitrais da nova matriz de Bom Jesus do Matozinhos acrescentam charme a igreja"Semana passada nós levamos os nossos alunos a Ouro Preto. Eles conheceram o Museu da Inconfidência, o centro histórico, algumas igrejas, para eles verem como é importante preservar, receber bem, ter mecanismos de produção, para trazer isso para cá e eles crescerem com uma mentalidade diferente da nossa, que não tivemos esse feeling", completou o prefeito.
Série especial
Essa é a terceira reportagem da série especial: Encantos da Mantiqueira Mineira, que aborda as experiências que integraram o roteiro da Press Trip Cidades Históricas da Serra da Mantiqueira, promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG) e pela Codemge.
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