02 de novembro, de 2025 | 07:30

Sustentabilidade: O custo invisível da corrida humana

Mauro Falcão *

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Vivemos em um tempo em que o relógio parece girar mais rápido do que nossa capacidade de perceber o que realmente importa. O instante escorre pelos dedos como areia, e a pressa se tornou o novo oxigênio da existência moderna. A competitividade, antes uma força saudável de superação, hoje é o combustível que alimenta uma corrida sem linha de chegada - um movimento de massa que confunde progresso com aceleração.

A “sustentabilidade”, palavra tantas vezes pronunciada com orgulho corporativo, foi sequestrada por um discurso que a esvazia de sentido humano. Sustentar o quê, afinal? Carreiras, lucros, status? Sustentar a aparência de uma vida bem-sucedida enquanto a essência se desintegra silenciosamente? Tornamo-nos especialistas em preservar a imagem, mas analfabetos em conservar o espírito.

A vida, reduzida a um gráfico de desempenho, perdeu a delicadeza das pausas. Esquecemos que o tempo não é apenas um recurso econômico, mas um território existencial. A pressa de chegar - onde quer que seja - nos distancia de nós mesmos. E nessa busca por “sustentabilidade” profissional e financeira, sacrificamos as relações, a saúde e o simples prazer de existir com significado.

O drama é sutil: confundimos o “ter mais” com o “ser mais”. A vaidade moderna não exibe apenas bens, mas também conquistas travestidas de felicidade. Vivemos a era do ego ecológico, que consome energia emocional em nome de uma ilusão: a de que acumular é prosperar. Mas o verdadeiro desenvolvimento humano é aquele que preserva o solo interno - a mente, o coração e as conexões que nos mantêm vivos por dentro.
“A competitividade, antes uma força saudável de superação, hoje é o combustível que alimenta uma corrida sem linha”


O preço da pressa é alto. A juventude se dissolve em metas, a vitalidade se esvai em trocas de e-mails e reuniões intermináveis. E quando, finalmente, conquistamos o que tanto queríamos, percebemos que o troféu é leve demais para o peso da alma cansada.

Sustentabilidade, em sua essência mais profunda, não é manter o ritmo — é reencontrar o compasso. É o retorno à harmonia entre o que fazemos e o que somos. É compreender que nenhum sucesso vale a ruína interior. A verdadeira sustentabilidade é espiritual: nasce do equilíbrio entre o propósito e a serenidade, entre o trabalho e o amor, entre o mundo que construímos e o que deixamos existir dentro de nós.

* Pesquisador e escritor brasileiro. E-mail: [email protected].

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