01 de novembro, de 2025 | 07:00

Da caverna ao caos digital

Wanderson R. Monteiro *


A tecnologia mudou não apenas como nos comunicamos, mas como percebemos a realidade e os valores que sustentam nossas relações. A internet, que prometia democratizar o conhecimento, tornou-se um catalisador da dissolução das metanarrativas, conforme descrito por Lyotard, intensificando o relativismo moral. Redes sociais, com seus algoritmos, criam bolhas que reforçam crenças individuais, dificultando o diálogo e a busca por verdades compartilhadas. Como na caverna de Platão, as telas projetam sombras que confundem a realidade, e o avanço das inteligências artificiais só amplifica esse fenômeno.

O relativismo tornou-se o dogma da sociedade atual, onde a ideia de que não há absolutos guia indivíduos que julgam o mundo por visões deturpadas. Essa mentalidade fragmenta a sociedade, como observava Bauman, transformando-a em um conjunto de vontades egoístas. Relacionamentos tornam-se superficiais, e a busca por validação online, medida por curtidas, substitui conexões reais, gerando ansiedade e depressão. A verdade, questionada por “fatos alternativos”, perde espaço para o apelo emocional, corroendo laços de afeto e responsabilidade. O egoísmo, amplificado pelo ambiente digital, dissolve o senso de coletividade, levando ao caos moral.

Instituições enfrentam desafios sem precedentes. Sistemas educacionais lutam contra a dispersão causada pelos meios digitais, enquanto sistemas jurídicos lidam com manipulações de evidências. Democracias vacilam em um espaço público fragmentado por bolhas algorítmicas, onde o emocionalismo supera a verdade. A grande mídia, manipulando “sombras” digitais, reforça o relativismo, moldando percepções de forma enganosa. Sem valores compartilhados, a sociedade se desintegra, e o imediatismo prevalece sobre a responsabilidade mútua.
“Redes sociais, com seus algoritmos, criam bolhas que reforçam crenças individuais, dificultando o diálogo e a busca por verdades compartilhadas”


Essa desconstrução moral não se dá por acaso — ela é resultado de uma cultura que abandonou o esforço pela verdade em nome do conforto da opinião. Hoje, a prioridade não é mais compreender o mundo, mas reafirmar convicções pessoais, ainda que distorcidas. O confronto com ideias diferentes não desperta reflexão, mas agressividade; o outro é visto como ameaça, não como interlocutor. Nesse cenário, o debate se esvazia, a escuta desaparece, e o diálogo é substituído por gritos digitais. A radicalização de posições é o sintoma visível de uma sociedade que, ao perder seus fundamentos comuns, torna-se incapaz de construir qualquer futuro coletivo.

Para reverter essa crise, é essencial resgatar valores como empatia, justiça e integridade. A cultura, negligenciada por governos que subestimam sua importância, é um pilar para formar gerações conscientes. A mudança deve começar no interior do ser humano, com princípios que promovam o bem comum. Sem essa reconstrução moral, nenhuma regulamentação das redes sociais será suficiente. O desafio é rejeitar o relativismo e construir uma sociedade baseada em valores sólidos, antes que o vazio seja ocupado por interesses egoístas. O tempo para agir é agora, pois o futuro das próximas gerações está em jogo.

* Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros. (São Sebastião do Anta – MG).

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