26 de outubro, de 2025 | 07:30

''Olha, meu amor, cafona, cafoníssimo''

Carlos Alberto Costa *

Divulgação Alesp (SP)
Lucas Bove é deputado estadual pelo PL de São PauloLucas Bove é deputado estadual pelo PL de São Paulo

Na semana que passou, uma discreta notícia foi estampada em alguns jornais com a seguinte manchete: “Ministério Público pede prisão preventiva do deputado Lucas Bove (PL-SP)”. Seria só mais um caso de violência doméstica, se não envolvesse um deputado direitista, acusado de violência doméstica contra a ex-esposa, a influenciadora Cíntia Chagas, que tem um canal nas mídias sociais em que se apresenta como uma personagem que dá dicas de elegância feminina e uso da língua portuguesa formal. Cíntia tornou-se conhecida por um bordão sincero sobre situações consideradas ridículas: “Olha, meu amor, cafona, cafoníssima”.

O pedido do MP saiu depois da acusação de que o ex-deputado descumpriu medidas protetivas, o que ele nega. O MP destacou que o caso corre em segredo de Justiça e não detalhou o teor do pedido.

Bove já foi alvo de pedido de cassação de mandato, mas o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), para surpresa geral, negou e arquivou o caso no mês de agosto.

Nas redes sociais, o parlamentar se manifestou sobre o pedido de prisão. Em seu perfil no Instagram, onde se apresenta orgulhosamente como “bolsonarista”, compartilhou a manchete da notícia sobre a manifestação do Ministério Público e reclamou que ficou sabendo pela imprensa. Lucas referiu-se à ex como “a outra parte” e criticou “a militância feminina que alcançou o poder público”. Também disse que foi Cíntia quem descumpriu medidas impostas pelo Judiciário ao se manifestar publicamente sobre o tema. O deputado também nega que tenha agredido fisicamente Cíntia Chagas. O parlamentar afirmou que está em paz, com a consciência limpa, diz confiar na Justiça e ter fé de que tudo será resolvido pelo Judiciário.
“Como diz o ditado, a ‘terra plana’ não dá voltas, capota”


Já a ex foi aos seus perfis e cobrou o presidente da Assembleia Legislativa paulista, deputado André do Prado (PL-SP): “A Alesp continuará a abrigar um parlamentar indiciado pelo Ministério Público e pela polícia por agredir uma mulher?”, indagou. “Recebo a decisão com serenidade e inabalável confiança na Justiça. Trata-se de um homem público, e é moralmente inaceitável que agressores de mulheres permaneçam investidos em funções de poder. A violência contra a mulher não se circunscreve à esfera privada: constitui crime e afronta à dignidade humana. Que a lei siga o seu curso e que, como sempre, a verdade prevaleça”, escreveu a influenciadora.

As acusações contra Bove vieram a público após o fim do relacionamento entre os dois, em 2024. O casamento, oficializado em uma cerimônia na Itália, durou apenas três meses. Em um dos episódios de violência doméstica, há um boletim de ocorrência com o relato de que, em uma discussão, Bove teria jogado uma faca na direção da ex-esposa, ferindo-a na perna. Também ameaçou “queimar o corpo dela”.

Bem, depois de detalhar todo esse fato, cabe lembrar um aspecto curioso nessa história. Como toda boa direitista, Cíntia Chagas sempre foi muito crítica em relação ao movimento feminista. E foi justamente o movimento feminista e seu poder de divulgação desse caso que agora podem levar à punição do agressor da influenciadora. Como diz o ditado, a “terra plana” não dá voltas, capota.

* Professor aposentado.

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