16 de outubro, de 2025 | 07:00
Qual a satisfação dos professores com o trabalho e os salários?
William Passos *
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional com sede em Paris, França, que reúne 38 países membros, entre os quais as economias mais ricas do planeta, com exceção da China, e que se dedica à promoção de padrões internacionais. No plano da formulação de políticas educacionais, a OCDE implementa o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e a TALIS (Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem).
Realizada desde 2008, a TALIS é a maior pesquisa internacional sobre as condições de trabalho dos professores e diretores escolares. No Brasil, a pesquisa é coordenada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que levanta, por amostragem, entre outras informações, a satisfação de professores e líderes escolares com o ambiente escolar e as condições de trabalho. Neste Dia dos Professores de 2025, este artigo divulga, em primeira mão, resultados inéditos da TALIS 2024.
De acordo com a pesquisa, um dos elementos mais importantes para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem é a satisfação dos professores com o trabalho. Nos Anos Finais do Ensino Fundamental, porém, a TALIS 2024 revela um quadro de contrastes. Isso porque enquanto uma expressiva maioria do professorado brasileiro (93,3%) afirma gostar de trabalhar em sua escola atual, com 89,0% recomendando a própria escola como local de trabalho para outros professores (índices, cabe destacar, acima da média da OCDE, que são de 90,1% e 83,2%, respectivamente), apenas 62,3% consideram que as vantagens de ser professor no Brasil superam claramente as desvantagens, um percentual bem abaixo da média internacional (73,9%).
Quanto aos indicadores de arrependimento com a profissão, na TALIS 2024, 86,6% dos professores dos Anos Finais do Ensino Médio afirmaram que, de modo geral, estão satisfeitos com o trabalho, com 70,2% revelando que, se pudessem decidir novamente, ainda optariam pelo magistério, um percentual próximo à média de 72,4% da OCDE. Por sua vez, somente 13,5% dos docentes dos Anos Finais se arrependem da escolha pelo magistério, um índice levemente acima da média internacional, de 11,1%.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o percentual de docentes satisfeitos com o trabalho chega a 91,3%”
Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, onde o vínculo afetivo com o local e os colegas de trabalho confere maior peso à satisfação com a profissão, o percentual de docentes satisfeitos com o trabalho sobe para 91,3%, o que, surpreendentemente, ante os problemas e desafios com a profissão, supera a média internacional, de 87,5%. Além disso, 77,2% dos professores dos Anos Iniciais afirmaram que, se pudessem decidir novamente, ainda escolheriam ser professores, um índice também superior aos 71,1% da média internacional, no universo dos países da OCDE.
Além da maior satisfação com o trabalho, quando comparados aos seus pares dos Anos Finais, o arrependimento com a profissão também é menor entre os docentes dos Anos Iniciais, caindo para 11,1% dos licenciados que exercem a profissão, patamar inferior aos 12,9% da média internacional. Entretanto, isso não significa uma percepção menos crítica dos problemas e desafios da profissão. Pelo contrário: o percentual de docentes dos Anos Iniciais que consideram que as vantagens da carreira superam as desvantagens é de 64,8%, índice inferior à média internacional da OCDE, situada em 70,9%.
Ainda de acordo com a TALIS 2024, quanto à satisfação com o salário, 22,3% dos professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental se sentem satisfeitos com seus salários, o que posiciona o país abaixo da média da OCDE (39,2%). A título de comparação, no Chile, a satisfação com a remuneração é de 45,7%, enquanto na vizinha Colômbia é de 63,1%.
No Anos Iniciais, a satisfação salarial é levemente maior (25,0% no Brasil em 2024, contra 39,1% na média da OCDE).
Entretanto, nesse aspecto, cabe ponderar que a satisfação do professorado na Coreia do Sul e no Marrocos são de apenas 20,8%, enquanto Turquia (21,1%) e mesmo a França (21,6%) apresentam percentuais inferiores aos do Brasil. Esses resultados lançam luz para o fato de que a remuneração insatisfatória dos profissionais que alfabetizam a população é um problema internacional, posicionando Holanda (83,8%), Arábia Saudita (74,9%) e Bélgica (72,0%) em situações de exceção.
86,6% dos professores dos anos finais do Ensino Médio afirmaram que estão satisfeitos com o trabalho”
Por outro lado, os resultados da TALIS 2024 também ajudam a explicar por que 20,2% dos professores brasileiros dos Anos Finais e 22,1% dos docentes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental têm interesse em deixar o magistério nos próximos 5 anos. Entre os docentes dos Anos Finais com menos de 30 anos, a intenção é de 14,2% nos Anos Finais e de 14,9% nos Anos Iniciais. Na faixa dos 30 aos 49 anos, o interesse cai para 12,3% e 13,3%, mas dispara para, respectivamente, 47,0% e 48,0% entre os mestres com mais de 50 anos.
Naturalmente, os resultados da TALIS 2024, que são muito pouco usados pelo Ministério da Educação e pelas Secretarias de Educação estaduais e municipais, merecem maior reflexão e aprofundamento, impossíveis de serem realizados dentro dos limites deste artigo, mas ajudam a iluminar algumas linhas mestras que devem ser seguidas pela política educacional brasileira. E, dentro delas, a satisfação dos Professores, diretores, equipes pedagógicas e demais profissionais da Educação com o trabalho e os salários deve ocupar posição privilegiada.
* Geógrafo, estatístico, cientista de dados e colaborador do Diário do Aço. E-mail: [email protected]
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