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15 de outubro, de 2025 | 08:45

Dia do Professor: em tempos de desestímulo ao ensino superior, educador aborda outros desafios da carreira

Divulgação/Unileste
Marcelo Vieira é pró-reitor acadêmico do Unileste e avaliador de cursos de graduação do Inep Marcelo Vieira é pró-reitor acadêmico do Unileste e avaliador de cursos de graduação do Inep

Nesta quarta-feira (15), Dia do Professor, uma reflexão a respeito dos desafios dos educadores na atualidade. Para abordar o tema, o Diário do Aço entrevistou o professor e doutor Marcelo Vieira Corrêa, que tem 34 anos de experiência como professor no ensino superior. É pró-reitor acadêmico do Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais (Unileste) desde 2015 e avaliador de cursos de graduação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) desde 2006. Ele falou sobre os desafios de ser professor no século XXI, no momento em que os “coaches” desestimulam a formação escolar, além das dificuldades de lecionar para uma geração acostumada a ficar em frente às telas.

Marcelo pontua que a presença das telas introduziu uma dinâmica paradoxal na forma como nos relacionamos com o saber. Do lado positivo, o acesso ao conhecimento nunca foi tão democrático e imediato. O conhecimento está acessível, literalmente "a um palmo da mão". Hoje, um estudante pode ver os melhores especialistas do mundo falando sobre qualquer tema, o que é um ganho incalculável. Além disso, em um mundo conectado, o desenvolvimento de ciência e conhecimento é fundamental para extrair valor e dados, e isso passa pela educação.

“No entanto, essa mesma tela trouxe consigo um grande desafio: o desvio da atenção. Historicamente, desviar a atenção nunca foi novidade na educação, mas a tecnologia adicionou um elemento poderoso: o processo de recompensa imediata. Jogos e plataformas são projetados para prender a atenção, e isso provoca um transtorno no jovem”, informou. Acrescentou, ainda, que essa mecânica tecnológica reforça a cultura do imediatismo. “O jovem é estimulado pela resposta imediata e passa a desmistificar a relação de que é preciso estudar e se sacrificar hoje para ter um resultado no futuro. Tudo tem que ter resposta imediata”.

Desvalorização da formação escolar
O professor no século XXI enfrenta uma transformação profunda de seu papel, somada a um desafio histórico no Brasil. Para Marcelo, em primeiro lugar, o papel tradicional do professor como "dono do saber" acabou. Com o conhecimento acessível a todos, a função do educador passa a ser muito mais a de estimular e mediar a absorção do conhecimento por parte do estudante, do que simplesmente transmiti-lo. Isso exige uma mudança profunda no processo de ensino.
“Em segundo lugar, a desvalorização da formação escolar não é um fenômeno isolado, mas tem raízes profundas na cultura brasileira. O Brasil, historicamente, nunca valorizou a educação - fomos um dos últimos países da América Latina a ter uma universidade - e isso criou uma cultura de não investimento que ainda persiste. Portanto, a desvalorização não é apenas um ‘problema da tecnologia’, mas um impacto de fatores históricos”, alegou.

Marcelo destacou que a saída para esse cenário, como dizia o Papa Francisco, é que para educar um jovem, é preciso uma "aldeia inteira", ou seja, uma sociedade inteira que compartilhe a visão de que a educação realmente transforma.
“O questionamento sobre o valor da faculdade nasce de uma convergência de fatores que alimentam a crença em caminhos mais fáceis e imediatos. O risco mais evidente reside na atração por ‘soluções fáceis’. Hoje, a ideia de ganhar dinheiro rapidamente é vendida pelo papel dos influencers e Youtubers, que parecem ter sucesso sem o longo sacrifício dos estudos. Embora muitos ganhem fortunas, é um universo para poucos”, esclareceu o educador.

Esse risco é agravado pela oferta excessiva de educação de baixa qualidade. O professor detalhou que tivemos uma proliferação de formações a custo baixo, mas com qualidade questionável, que não desenvolvem competências. “O jovem estuda, mas sua situação de trabalho não melhora, o que, logicamente, faz com que ele e sua família questionem a utilidade da formação formal. Isso reforça a busca pela resposta imediata, que é a marca dessa geração”.

Para o pró-reitor acadêmico, a oportunidade está em focar na educação que de fato agrega valor. “O país precisa desenvolver conhecimento e ciência para agregar valor à matéria-prima e aos produtos, em vez de apenas vender commodities. Esse é o caminho que os países mais desenvolvidos economicamente seguiram, e é o que deve guiar a visão de que a educação, de alta qualidade é o motor da transformação social e econômica”, finalizou.

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