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11 de outubro, de 2025 | 07:00

Presentes passam e a educação fica: por que o Dia das Crianças é o melhor momento para falar de dinheiro?

Olívia Resende *


O Dia das Crianças deve movimentar cerca de R$ 6 bilhões em 2025, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), consolidando-se como uma das datas mais fortes do varejo brasileiro. Mas, em meio a tanta expectativa por presentes, vale uma pausa: o que realmente estamos ensinando às crianças sobre o valor do dinheiro? Tradicionalmente associada ao consumo, a data também pode e deve ser uma oportunidade para algo muito mais duradouro: a formação de valores e hábitos financeiros saudáveis. Em vez de restringirmos o 12 de outubro à entrega de brinquedos ou à ida ao shopping, que tal aproveitarmos o momento para ensinar sobre escolhas, planejamento e paciência?

A infância é o terreno fértil para o desenvolvimento de comportamentos que moldarão a vida adulta. E quando falamos de dinheiro, isso não é diferente. Uma ampla meta-análise conduzida por Kaiser, Lusardi, Menkhoff e Urban (2022), reunindo 76 experimentos randomizados com mais de 160 mil participantes, mostrou que programas de educação financeira têm efeitos positivos e significativos tanto sobre o conhecimento financeiro quanto sobre os comportamentos relacionados ao uso do dinheiro. Esses efeitos são comparáveis aos obtidos em áreas como matemática e leitura, e estão associados a decisões mais conscientes e sustentáveis ao longo da vida. Isso reforça que aprender sobre finanças desde cedo consolida hábitos saudáveis e previne comportamentos problemáticos, como o endividamento impulsivo e a ansiedade financeira.

A neurociência e a psicologia do desenvolvimento também indicam que os hábitos financeiros formados na infância tendem a se manter na vida adulta. Quando as crianças participam de conversas e experiências que envolvem o valor do trabalho, do tempo e do esforço por trás das conquistas, constroem uma relação emocional equilibrada com o dinheiro, entendendo-o não como fonte de poder ou status, mas como ferramenta de liberdade e realização.

Mas falar de dinheiro com as crianças não significa retirar a leveza do Dia das Crianças. Pelo contrário: é uma chance de ressignificar o presente, transformando a data em um momento de conexão familiar, aprendizado e memória afetiva. Em vez de acumular brinquedos que logo se perdem, as famílias podem investir em vivências que ensinam, fortalecem laços e constroem histórias.
“A infância é o terreno fértil para o desenvolvimento de comportamentos que moldarão a vida adulta”


Vamos pensar em experiências que valem mais do que presentes:

- Planejar um dia em família especial: montar juntos um piquenique no parque, uma tarde de jogos ou uma sessão de cinema em casa. A criança aprende que felicidade também se planeja.

- Dar experiências, não objetos: ingressos para um passeio cultural, uma oficina de arte ou uma visita ao planetário. O valor está no aprendizado e na descoberta.

- Construir algo em conjunto: preparar uma receita, montar uma horta ou criar um brinquedo artesanal. Envolver a criança no processo ensina sobre esforço e recompensa.

- Fazer um balanço das conquistas: conversar sobre o que a criança aprendeu, o que realizou e o que quer alcançar no próximo ano. Isso estimula o pensamento de longo prazo.

- Criar rituais familiares: escrever juntos uma carta de gratidão, montar um álbum de fotos ou registrar sonhos no livro das metas da família. São gestos simbólicos que fortalecem laços e propósito.
“Hábitos financeiros formados na infância tendem a se manter na vida adulta”


Essas experiências substituem o consumo imediato por algo que realmente permanece: o vínculo, a memória e o aprendizado. A criança entende que o valor do presente não está no preço, mas na intenção e no tempo compartilhado.

Falar de dinheiro é, também, falar de valores humanos: de paciência, responsabilidade, generosidade e propósito. Ao transformar o Dia das Crianças em uma ocasião para ensinar sobre escolhas e planejamento, os pais ajudam a formar adultos mais conscientes, confiantes e empáticos.

Neste 12 de outubro, a proposta é simples e poderosa:
em vez de apenas dar, ensine a construir. Porque, no fim das contas, o melhor presente não é o que se compra é o que se vive.

* Especialista em Educação Financeira, Economista e mestre e doutora em Administração. Professora na Uninter.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço

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