10 de outubro, de 2025 | 08:45

No Dia Internacional da Saúde Mental, profissional fala sobre correlação de transtornos mentais e violência

Enviada ao Diário do Aço
Vinícius faz parte do grupo Loucos por você, de Ipatinga, que desenvolve atividades terapêuticasVinícius faz parte do grupo Loucos por você, de Ipatinga, que desenvolve atividades terapêuticas


O Dia Internacional da Saúde Mental é celebrado nesta sexta-feira (10). A data é lembrada em um contexto em que há casos em que pessoas em surto acabaram envolvidas em crimes que causaram comoção social. Em um dos casos mais marcantes e recentes, no dia 11 de setembro um homem de 33 anos assassinou a mãe, de 68 anos, no alto do bairro Iguaçu, em Ipatinga. Ele fazia acompanhamento psicossocial. Para refletir a respeito da data, o Diário do Aço entrevistou Vinícius Ferreira, psicólogo clínico, coordenador de serviços técnicos socioassistenciais e professor universitário do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Ipatinga. Vinícius falou sobre a situação de pessoas envolvidas em práticas de violências, mas que possuem diagnóstico de algum transtorno mental. O profissional tem experiência em saúde mental e atuação junto a serviços públicos de atenção psicossocial e proteção social.

Vinícius pontuou que o transtorno mental não é sinônimo de violência, visto que a maioria das pessoas que convivem com algum transtorno não representa perigo, sendo muitas vezes elas as que mais sofrem violência e exclusão. “Quando acontecem situações extremas, costumam estar relacionadas a crises mais agudas, geralmente sem o tratamento adequado e sem uma rede de suporte estruturada. Às vezes, há também o uso associado de substâncias, o que potencializa a desorganização psíquica”, afirmou.

Por essa razão, esclareceu que não é o transtorno em si que “leva ao crime”, mas uma combinação de fatores clínicos, sociais e contextuais que precisam ser olhados com muito cuidado.

“Os transtornos mentais têm origens multifatoriais. Isso significa que envolvem fatores biológicos, como predisposição genética, fatores psicológicos, como traumas e experiências difíceis, e também fatores sociais, como exclusão, pobreza, violências e falta de acesso a cuidados adequados. Esses elementos, somados, criam cenários de sofrimento que, quando não acompanhados, podem se intensificar e gerar crises mais severas”, explicou.

Impacto emocional na família
Segundo ele, muitas vezes um cuidador principal abre mão da sua própria vida para viver em função do cuidado. “É um sofrimento que vai se acumulando, principalmente quando a família não tem informações, apoio técnico e nem acesso a serviços adequados. A família também precisa ser vista, acolhida, orientada e cuidada”.

O terapeuta acrescentou que a ideia não é criminalizar a pessoa em sofrimento, mas garantir segurança para todos os envolvidos e acesso ao cuidado adequado, trazendo responsabilização e viabilização dos direitos em saúde mental.

“Quando há risco real de desorganização psíquica intensa ou de violência, é essencial acionar os serviços de urgência como o Samu, Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou hospitais de referência. Nos casos em que há ameaça ou agressão, a rede de proteção como Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Defensoria e Polícia também podem ser acionadas”.

Internação
Vinícius informou que a internação ainda é um recurso possível, mas pontual e deve ser usada com muito critério. “No Brasil, a política de saúde mental prioriza o cuidado em liberdade, garantido o respeito, a valorização da vida e a subjetividade do indivíduo, por meio do Caps e outros serviços comunitários, como por exemplo, instituições como a Loucos por Você, de Ipatinga, que desenvolve atividades terapêuticas que visa trazer equilíbrio e leveza para os usuários e suas famílias”.

A internação é indicada apenas quando há risco para a própria pessoa ou para terceiros, e tem como objetivo estabilizar o quadro, nunca isolar ou excluir, complementou o psicólogo, enfatizando que o paciente deve receber acompanhamento multiprofissional com psicoterapia, atendimento psiquiátrico, atividades terapêuticas e suporte social.

“Cuidar de alguém em sofrimento mental não é e nem pode ser uma tarefa individual. É responsabilidade compartilhada entre serviços, comunidade e família e principalmente um dever do Estado”, finalizou.
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