
04 de outubro, de 2025 | 08:45
Baixa vacinação e novas cepas fazem elevar as internações por síndrome respiratória no Vale do Aço
Arquivo DA
Casos de SRAG crescem 34% na região em 2025; Uso de máscara por contaminados pode evitar a disseminação dos vírus

Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
A Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) tem experimentado um aumento vertiginoso de notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 2025, comparado ao mesmo período do ano passado. Até o fim de setembro, foram registradas 751 hospitalizações, contra 560 em 2024, o que representa um crescimento de 34,11%.
Quanto aos óbitos, até o mês de outubro de 2024 foram 16, enquanto neste ano, 29 morreram de SRAG, 81,25% a mais. Este cenário se dá por dois motivos: duas novas cepas virais e o baixo índice de vacinação.
Dados contidos na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), administrados pelo Ministério da Saúde (MS), revelam que até 1/10 apenas 1.482 doses de vacina contra a covid-19 haviam sido aplicadas em 2025, juntando os municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo.
Já contra o vírus influenza, da gripe, foram aplicadas 130.812 doses, atingindo uma cobertura vacinal de 50% em gestantes, idosos e crianças, que são os grupos prioritários.
Carmelinda Lobato, médica infectologista de Ipatinga, explicou ao Diário do Aço que em adultos e idosos o vírus influenza foi o principal causador de SRAG, enquanto em crianças foi o vírus sincicial respiratório.
Neste ano o comportamento da síndrome respiratória aguda grave foi bastante atingido pela circulação de uma cepa de influenza mais agressiva. Durante o período do inverno, nós realmente observamos uma circulação maior de casos, com maior número de internações”, destacou.
Somando-se a isso, infelizmente, temos uma baixa taxa de vacinação com relação à influenza e à covid. E, na atualidade, a gente, de fato, está muito preocupado, porque agora, em setembro, nós começamos a observar um aumento de casos de covid, com a circulação desta cepa, que está sendo apelidada de variante da Rouquidão, e a nossa cobertura vacinal se encontra baixa”, alerta a médica, temendo um novo crescimento de SRAG, visto que o pico de casos foi entre maio e junho.
Características
A especialista explica que a SRAG é caracterizada principalmente por uma falta de ar muito grande”, geralmente causada por influenza, covid-19, entre outros vírus respiratórios.
Aquela pessoa que tem sintomas gripais, principalmente relacionados aos vírus respiratórios, e de repente, começa a ter uma falta de ar muito importante, uma baixa saturação de oxigênio, deve procurar imediatamente uma unidade de emergência para ser atendida”.
Conforme a especialista, a SRAG tem o índice de letalidade de 25%, o que é considerado alto, mas a vacinação adequada pode reduzir a periculosidade em quase 80% das vezes.
Vacinação
Quanto à vacinação, Carmelinda faz um apelo à população para que busquem as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) mais próximas de suas residências e atualizem o cartão de vacina, pois a imunização é a forma mais eficaz de evitar o surgimento de casos graves, óbitos e colapso no sistema de saúde. Ela ainda lembra que é necessário vacinar contra a covid de forma anual.
Tem muita gente que fala eu tomei quatro doses, cinco doses, não preciso tomar mais vacina de covid, e não é assim. A vacina de covid, assim como a vacina de influenza, deve ser atualizada anualmente. A cepa da covid muda todos os anos, e a vacina, de fato, é a principal arma que a gente tem para poder evitar a evolução dos casos para síndrome respiratória aguda grave”, afirma.
A médica frisa que a imunização não evita que a pessoa contraia o vírus, mas evita a forma mais grave da doença. Nós estamos observando surtos de covid dentro de asilos, e nós não tivemos nenhum caso de síndrome respiratória, apesar dos idosos estarem contaminados pelo SARS-CoV-2, porque eles estão adequadamente vacinados. Se eles não tivessem se vacinado, seria um desastre”, revela a infectologista.
Para Carmelinda, é necessário que os profissionais de saúde também reforcem a população sobre a necessidade de manter o ciclo vacinal em dia, mas também, é preciso que a população tenha senso de coletividade.
Se a pessoa está com sintomas gripais, com tosse, com coriza, dor de garganta, e febre, tudo isso associado, ela não tem que ficar saindo de casa. Ela tem que ficar dentro de casa, acompanhando as medidas de isolamento pelo menos durante cinco dias para evitar contaminar outras pessoas. Se for sair de casa, use máscara para evitar estar contaminando outras pessoas”.
Vacina de covid
Por fim, a médica lembrou que houve um abastecimento irregular por parte do Ministério da Saúde, que permitiu que algumas UBSs ficassem sem os imunizantes contra a covid, devido a um problema com fornecedores, mas que, sobretudo, os grupos de risco precisam se proteger. Para Carmelinda, é necessário que o Brasil recupere a forte cultura de vacinação, até porque, o país detém o mais amplo programa de vacinação do mundo.
A pandemia de covid só foi contida por causa da vacinação. Isso é fato, está documentado e eu observei isso plenamente na prática, porque eu estava dentro dos hospitais atendendo a população arduamente no município de Ipatinga que é referência e vi o que aconteceu de diferente com a introdução da vacinação”, conclui.
Regional
A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Coronel Fabriciano, que abrange 35 municípios, também experimentou o aumento de hospitalizações. Em 2024 foram 962 notificações, enquanto neste ano, comparados ao mesmo período, de janeiro a setembro, foram 1.058, crescimento de 9,98%.
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