
03 de outubro, de 2025 | 08:55
Profissionais da saúde alertam para os riscos do metanol em bebidas adulteradas
Substância tóxica pode estar presente em bebidas clandestinas e causar cegueira, coma e até a morte
Divulgação
Nutricionista Winder Sant'Ana detalha os impactos metabólicos e neurológicos da intoxicação por metanol

Por Dani Roque - Estagiária sob supervisão
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é um composto químico tóxico, incolor e inflamável, amplamente utilizado na indústria para a fabricação de solventes, tintas, adesivos, plásticos e combustíveis sintéticos, como o biodiesel. Produzido principalmente a partir do gás natural, o metanol representa um grave risco à saúde humana quando ingerido, podendo causar cegueira, acidente vascular cerebral (AVC), coma e até morte. Os efeitos nocivos decorrem da formação de substâncias tóxicas no organismo, como o formiato.
Casos de intoxicação têm sido registrados em diversas regiões do Brasil, geralmente associados ao consumo de bebidas destiladas adulteradas, produzidas de forma clandestina e sem fiscalização adequada. Apenas uma morte foi confirmada pelo Ministério da Saúde no estado de São Paulo. Mais sete óbitos estão em investigação, sendo dois em Pernambuco e os outros cinco também em São Paulo. Até a tarde de quinta-feira (2), um total de 43 casos de intoxicação eram investigados no Brasil.
Para aprofundar o tema, a reportagem do Diário do Aço ouviu dois profissionais da saúde que atuam no Vale do Aço: o nutricionista Winder SantAna e o médico Emílio Ferrer, que explicam os riscos do metanol no organismo e reforçam a importância da conscientização da população.
Segundo o nutricionista, não há forma de identificar visualmente se uma bebida contém metanol. Por isso, ele alerta para os riscos do consumo de produtos sem procedência: Evite bebidas com preços muito abaixo do mercado, garrafas sem selo de controle ou de origem desconhecida. O risco é real e perigoso”, afirmou.
Os sintomas iniciais da intoxicação costumam surgir após algumas horas e incluem dor de cabeça, tontura, náusea, vômito, dor abdominal, visão turva ou embaçada e confusão mental - sinais que podem ser confundidos com os da intoxicação por etanol. A evolução pode ser rápida, levando a convulsões, insuficiência respiratória e falência de órgãos.
Mesmo pequenas doses podem causar alterações neurológicas, visuais e metabólicas. Os principais órgãos afetados são os olhos e o nervo óptico, o sistema nervoso central, o fígado e os rins, que ficam sobrecarregados ao tentar eliminar as toxinas”, explicou.
O nutricionista também faz um alerta sobre a natureza silenciosa da intoxicação: Ela pode não apresentar sinais imediatos, mas a exposição repetida, mesmo em pequenas quantidades, acumula toxinas no corpo e aumenta o risco de danos irreversíveis. Em outras palavras, não existe consumo seguro de metanol”.
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O médico Emílio Ferrer alerta que, em alguns casos, os danos ao organismo provocados pelo metanol podem ser irreversíveis

Dano irreversível
O médico Emílio Ferrer destaca que os danos ao organismo são irreversíveis em determinados casos. Infelizmente, as lesões causadas pela ingestão do metanol não são reversíveis na maioria dos casos. Pacientes que tomaram uma determinada cerveja em Belo Horizonte e sobreviveram tiveram lesões permanentes. No caso da atual situação, o que assusta é que essas destilarias clandestinas estão estruturadas em todo o Brasil há anos. Ano passado, a Anvisa diminuiu as regras de fiscalização, enfraquecendo mais ainda o pouco controle que já possuía”, pontuou o médico.
A respeito de como lidar com a contaminação, o médico dá algumas dicas. Não provoque vômito, a menos que orientado por um profissional de saúde; não ofereça líquidos, como água ou leite, sem orientação médica. Apenas profissionais podem indicar o que deve ser ingerido, se for o caso. Não dê medicamentos ou remédios caseiros; não tente um 'antídoto' ou método para neutralizar a substância. Posicione a vítima deitada de lado (posição lateral de segurança) para evitar que ela aspire o vômito, caso ocorra. Aqueça a pessoa, cobrindo-a com um cobertor, para prevenir o estado de choque”, concluiu Ferrer, destacando a importância de procurar um serviço de saúde.
Em caso de identificação dos sintomas, buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar pelo menos uma das instituições: Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001; CIATox da sua cidade para orientação especializada (veja lista aqui); Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo 0800-771-3733.
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