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01 de outubro, de 2025 | 08:00

Quando o celular não existia

Antônio Nahas Júnior *


Esta semana tive a oportunidade de visitar a exposição sobre os anos 1980, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Logo de início, tomei um susto. Lá no pátio do CCBB tinha uma Banca de jornal, daquelas antigas, que não existem mais. Chegando mais perto, entendi tudo. A banca estava coberta, por dentro e por fora, por revistas e jornais que retratavam os principais personagens e eventos daquela década. Entrei lá e fiquei pensando sobre como tudo mudou, e com que rapidez. Cada revista ali exposta, hoje corresponderia a um site, ou a uma rede social, onde desfilariam notícias, personagens, acontecimentos diversos, fatos chocantes. Naquela época, quando computadores ainda engatinhavam e a internet ainda não se popularizara, as bancas de jornal faziam este papel. Ali estavam os fatos, os acontecimentos, os personagens, as mulheres famosas; os crimes, nas capas de revistas que já não existem mais: Manchete; Cruzeiro; MAD; Placar; Quatro Rodas. Havia também IstoÉ e Veja, que resistiram ao tempo.

As revistas mostravam no Cinema o filme o Extraterrestre, que conquistou gerações com seu enredo fascinante. Nas doenças, despontava a AIDS, prenunciando uma tragédia que ceifaria vidas de tanta gente importante.

Procurando absorver aquela torrente de imagens, comecei a distinguir os personagens. Dei de cara com Airton Senna, no apogeu da sua carreira. Senna, para quem não se lembra, foi um dos maiores pilotos de Fórmula I do mundo. Faleceu num acidente em 1994, em plena corrida.

Mais à frente, vi a capa de um LP – Long-play -, como eram os chamados discos de vinil. Na capa estavam, ainda jovens, Zezé de Camargo e Luciano; com seus chapéus de abas largas, sorridentes, exibindo o sucesso que a música sertaneja começava a fazer junto à classe média.

Mas havia também Kid Abelha; Engenheiros do Hawaii; RPM; Marina; Beto Barbosa; Eduardo Dusek. E até Roberta Miranda, fazendo pose.

Como não podia deixar de ser, em seguida, as capas das revistas e jornais mostravam fotos dos políticos que marcaram a década: Tancredo Neves; José Sarney; João Batista Figueiredo; Fernando Collor e Itamar Franco.

De repente veio à minha memória a campanha das diretas, onde todo o Brasil se mobilizou para que houvesse eleição direta à Presidência da República. Estávamos ainda sob uma ditadura e o Brasil era presidido por um General, João Batista Figueiredo. Havia crise econômica; desemprego. E a inflação subia muito.
“Voltar ao passado nos ajuda a refletir sobre a nossa vida e o destino das sociedades humanas”


Lembrei dos comícios; dos shows; da intensa mobilização ocorrida durante todo o ano de 1984 e do trágico final: o Congresso não aprovou. Houve eleição indireta à Presidência, que foi realizada no chamado Colégio Eleitoral, que reunia parlamentares e alguns representantes indicados pelos militares. Tancredo Neves, então Governador de Minas, ganhou de Paulo Maluf, que era candidato dos militares.

Ganhou, mas não levou. Morreu antes da sua posse, em março de 1985, e foi substituído pelo vice, José Sarney, político tristemente vinculado aos grupos políticos e econômicos que sustentaram a ditadura. Uma frustração enorme para os milhões que foram às ruas.

Saindo da banca, olhando com cuidado, vi outro quiosque que fazia parte da exposição. Lá, havia roupas que eram usadas à época; uma máquina de datilografar marca Olivetti, do tipo que eu usei muito; um toca-discos, rodando um vinil muito bonito; muitos outros LPs e, para minha surpresa, ao lado, num cantinho, bem discreto, um aparelho de telefone fixo, destes que a gente enfia o dedo nos buracos correspondentes aos números para discar. Aparelho que tanto usei e, hoje é peça de museu.

Lembrei imediatamente que, naquela década, não havia microcomputadores. Nem Internet, muito menos celulares. Num relance, comecei a pensar em como a nossa vida se transformou...Como nosso dia a dia foi inteiramente revirado. Que enorme distância de conhecimento, atitudes, modo de vida, separam as gerações.

Quanto a mim, esta década também foi de grandes transformações. Fui contratado como economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e vim para Ipatinga assessorar dois sindicatos. Fazia minhas contas e construía minhas tabelas utilizando uma calculadora de mão e, depois, construía as tabelas na máquina de escrever...

Logo em seguida, eu me vinculei ao mandato de Chico Ferramenta e acabei na Prefeitura de Ipatinga, onde havia os terminais de computadores vinculados ao CPD (Centro de Processamento de Dados). O Vale do Aço estava em pleno processo de transformação política.

Para nós que vivemos a década de 1980, voltar ao passado nos ajuda a refletir sobre a nossa vida e o destino das sociedades humanas. Como diz o poeta, Mundo, mundo. Vasto mundo.... mais vasto é o meu coração.

Por fim, fica a recomendação: quando for a BH, visite a Praça da Liberdade, o CCBB e os outros Centros Culturais que lá existem. Vale a pena, como lazer e cultura.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.

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