26 de setembro, de 2025 | 07:30
Convivência Consciente: construindo uma escola de relações saudáveis
Daniela Degani *
O título deste artigo é exatamente o assunto de uma das minhas palestras de 2025 e é, também, uma conversa necessária para o ambiente escolar. O ponto de partida do tema Convivência Consciente: Construindo uma Escola de Relações Saudáveis” é, entretanto, desmistificar o que são relações saudáveis. Como podemos determinar que tais relações sejam construídas, ensinadas e mantidas dentro da escola (e da vida) se não respondermos a essa simples, mas fundamental, pergunta:” o que são relações saudáveis”?
Muitas vezes esperamos e idealizamos que as relações saudáveis sejam aquelas em que não haja conflito, em que as pessoas se gostem e se admirem mutuamente, que elas concordem umas com as outras, nos mais diversos pontos de vista.
Este cenário idealizado, porém, muitas vezes se choca com a realidade. Afinal, todos nós sabemos que na rotina escolar, no ambiente educacional, nós temos diversos atores, e é muito difícil que eles concordem o tempo todo, se admirem em todas as relações ou se gostem sempre. Dessa forma, vemos que há um conflito entre o que idealizamos e a realidade.
Ao meu ver, e é isso que levo para a reflexão em minhas abordagens, as relações saudáveis são aquelas em que há respeito e escuta. Elas não pressupõem concordância, não pressupõem ausência de conflito. As relações saudáveis pressupõem respeito, escuta ativa, e uma disposição de encontrar um lugar onde as partes consigam trocar esses pontos de vista de maneira construtiva.
Em um mundo cada vez mais desafiador, é urgente que as escolas olhem para além do ensino tradicional e se tornem espaços de aprendizado emocional, inclusão e empatia. Meu convite é para que tenhamos um espaço de reflexão sobre como promover relações mais saudáveis e conscientes entre alunos, professores, famílias, englobando, portanto, toda a comunidade escolar.
O ambiente escolar é um espelho da sociedade e, como tal, reflete suas adversidades: conflitos, preconceitos, isolamento e, infelizmente, muitas vezes, violência. Entretanto, também é na escola que temos a oportunidade de construir as bases de uma convivência mais harmônica, democrática e afetiva. Quando trabalhamos a consciência relacional nos ambientes educativos, ajudamos a criar não apenas alunos mais engajados, mas cidadãos mais empáticos e preparados para viver em sociedade.
A convivência consciente parte do princípio de que as escolas podem ser verdadeiros laboratórios de convivência, respeitando, claro, o ponto de partida que iniciei neste texto, com as expectativas alinhadas de que não há perfeição e ausência de conflitos. É neste ambiente que estudantes aprendem a escutar, dialogar e respeitar diferentes perspectivas.
"As relações saudáveis pressupõem respeito, escuta ativa, e uma disposição de encontrar um lugar onde as partes consigam trocar esses pontos de vista de maneira construtiva"
E, para isso, é indispensável implementar ferramentas que promovam a escuta ativa, diversidade e mediação de conflitos. Assim, uma das minhas propostas quando o assunto é relações saudáveis é explorar a integração de duas abordagens poderosas para melhorar a convivência consciente nas escolas: Mindfulness e a Comunicação Não-Violenta (CNV).
Mindfulness (atenção plena): essa prática ajuda a desenvolver presença, regulação emocional e autoconsciência, elementos centrais para que alunos e professores lidem melhor com situações de conflito ou ansiedade no dia a dia escolar.
Comunicação Não-Violenta (CNV): oferece reflexões e técnicas para dialogar de forma empática, deixando de lado acusações e julgamentos, e focando nas necessidades humanas e na busca por soluções colaborativas.
Ao combinar essas ferramentas com experiências práticas, que apresento nas estratégias desenvolvidas nas escolas, por meio da Mindful Schools by MindKids, estabelecemos uma abordagem acessível e transformadora para educadores e gestores com uma proposta que visa gerar reflexões profundas e sugestões práticas capazes de transformar preocupações em ações concretas.
A convivência consciente é mais do que um conceito; é um caminho para transformar a escola em um espaço democrático, inclusivo e de pertencimento para todas as pessoas que ali convivem. Quando os vínculos são fortalecidos e as relações cuidadas, podemos prevenir e ter um olhar atento a problemas como casos de bullying, discriminação ou violência. Mais do que isso, promovemos um sentimento de segurança e valorização pessoal.
Uma escola centrada na convivência consciente é aquela que, com expectativas alinhadas, escuta, valoriza a diversidade e trabalha coletivamente para resolver conflitos. Esse ambiente saudável e conectado reflete diretamente no aprendizado e no bem-estar de todos seja de alunos ou professores. Afinal, construir uma convivência consciente é construir um futuro inclusivo, acolhedor e com relações saudáveis para todos.
* Palestrante, instrutora de Mindfulness e fundadora da Mindful Schools by MindKids (2015).
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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