24 de setembro, de 2025 | 08:00

Meio ambiente e corrupção

Antônio Nahas Júnior *


Com meus 70 anos, pensei que não poderia me indignar com mais nada. Mas me enganei. A Operação da Policia Federal que desmantelou esquema de corrupção que favorecia algumas empresas mineradoras em Minas Gerais - acertadamente chamada Operação Rejeito -, me deixou indignado; perplexo, surpreso. Como não posso utilizar palavras de baixo calão no artigo, prefiro dizer: sem palavras para expressar o que senti.

Vamos lá. Sempre que mantive contato com os técnicos do meio ambiente, encontrei pessoas responsáveis; conscientes da importância do seu trabalho; zelosas, que aplicavam seu conhecimento com equilíbrio e sabedoria: defesa do meio ambiente sem prejudicar as atividades que trazem bem-estar à comunidade. Infelizmente, a Operação revelou uma rede de bandidos infiltrados em órgãos como o IPHAN - Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional, que é responsável pela preservação e fiscalização do patrimônio Cultural do Brasil; no IEF - Instituto Estadual de Florestas; no Copam - Conselho Estadual de Política Ambiental -,que é responsável por normas e deliberações sobre questões ambientais. Além de outros órgãos públicos como a Feam - Fundação Estadual do Meio Ambiente -;na Agência Nacional de Mineração e Secretaria de Estado e Meio Ambiente. São mais de sessenta pessoas envolvidas. 23 empresas, vinte mandados de prisão.

Trata-se de uma rede de corrupção imensa; enraizada no Estado, perpassando todas as fases do licenciamento ambiental. Não se tratava de nenhum fato isolado ou ação deste ou daquele técnico de forma individual, mas de uma quadrilha com um único propósito: enriquecer custe o que custar, e que funcionou por décadas. O meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural, que se danem. Quem paga, licencia. Quem não paga, que vá para a fila.

As decisões tomadas são de uma desfaçatez espantosa. Basta vermos a liberação da exploração mineral na Serra do Curral, em Belo Horizonte. BH chamava-se Curral Del Rey. A serra do Currral faz parte da paisagem e da história da cidade. Enfeita seu horizonte e lá existe um belo parque e um mirante.

Aos seus pés, inicia-se a avenida Afonso Pena, principal artéria de Belo Horizonte, cujo nome homenageia o ex-governador de Minas e ex-presidente do Brasil. Há bairros próximos; parques; empresas situadas nas suas fraldas. Ali, bem próximo de BH, foram aprovados dois projetos: Taquaril, para exploração mineral em áreas tombadas e o Projeto Rancho do Boi. O lucro previsto seria de quase hum bilhão de reais.

Para defender a mineração na região, os bandidos montaram uma Associação Ambiental. Isso mesmo: Associação Ambiental e Cultural Zeladoria do Planeta, que recebia repasse financeiro da Prefeitura de Belo Horizonte. Fizeram isto para defender a mineração na região, como se fosse ambientalistas.
“A participação do Estado deve vir nesta direção. Seu aparelhamento por bandidos, que agem à luz do dia, tem que ter um fim”


Guardadas as devidas proporções, minerar na serra do Curral equivaleria autorizar mineração na área de amortecimento do Parque Florestal do Rio Doce.

Além da sua extensão e profundidade, choca também a liberdade e a impunidade com que estes bandidos agiam. A Operação Rejeito, que está acontecendo agora é a continuidade Operação Poeira Vermelha, de 2020.

Ou seja: após a primeira operação, o esquema continuou do mesmo jeito. E afinal, para que serve o Ministério Público; a Controladoria Geral do Estado; os Fiscais do Meio ambiente, vereadores e deputados? Ninguém percebeu que havia alguma coisa errada? No caso da Mineração da Serra do Curral, a Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, já havia se manifestado, concedendo liminar para suspender ampliação da mineração na região, atendendo pedido do Município de Belo Horizonte. Infelizmente, os órgãos de controle internos do Governo Estadual não funcionaram.

Ressalte-se que a mineração responsável existe. As grandes empresas de mineração que atuam em Minas não estão neste esquema de corrupção. Os representantes do setor mineral, como o Sindicato da Industria Mineral do Estado de Minas Gerais, presidido por Luis Márcio Viana, já vinham reclamando há tempos sobre a morosidade do licenciamento ambiental. Os processos dormitavam nas gavetas; o trâmite demorava anos. E, agora, a razão está clara.

A mineração é fundamental para o desenvolvimento do país. A exportação de recursos minerais gera recursos cambiais dos quais o país precisa. Minas Gerais possui recursos minerais importantes, que podem ser explorados ainda por décadas.

A regulação desta exploração; o controle desta atividade pela sociedade e a utilização dos recursos gerados em projetos de desenvolvimento do Estado podem alavancar nosso desenvolvimento.

A participação do Estado deve vir nesta direção. Seu aparelhamento por bandidos, que agem à luz do dia, tem que ter um fim. Que a Operação Rejeito leve para o esgoto esta malta.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.

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