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23 de setembro, de 2025 | 09:00

Educação inclusiva: aumento de alunos com TEA desafia escolas do Vale do Aço

Matheus Valadares
Prefeito Sadi Lucca ao lado do secretário Carlos Alberto Serra Negra e da analista do Sebrae Gabriela DeboniPrefeito Sadi Lucca ao lado do secretário Carlos Alberto Serra Negra e da analista do Sebrae Gabriela Deboni

Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
A cada ano cresce o número de diagnóstico de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, consequentemente, o número de crianças e adolescentes neurodivergentes nas escolas. De tal forma, é necessário que sejam criadas políticas públicas, bem como constante qualificação dos educadores e investimento em infraestrutura.

Conforme os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 2.558 alunos com seis anos ou mais matriculados nos ensinos fundamental e médio nas cidades da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA).

No âmbito nacional, aproximadamente 760,8 mil estudantes com seis anos ou mais estão matriculados na rede pública de ensino. Apenas no ensino fundamental regular, encontram-se 508 mil alunos com TEA, o equivalente a 66,8% desse grupo.

Embora os números revelem avanços significativos no acesso, os dados também evidenciam que a permanência e a continuidade ao longo da trajetória escolar ainda enfrentam barreiras. Isso se reflete nos índices de escolaridade, que permanecem mais baixos entre pessoas com autismo quando comparados à população em geral.

Individualidade
O professor Luís Vicente Ferreira, doutor em Educação pela USP, médico com especialização em Saúde Pública e em Neurociências Aplicadas à Aprendizagem, argumenta que a inclusão escolar continua a ser um dos maiores desafios da educação brasileira na atualidade.

“Colocar todos iguais no mesmo espaço, não é inclusão. Inclusão é conhecer a história de cada aluno. Então, quando se fala de inclusão, é entender que todos os alunos são diferentes e que cada um precisa ser enxergado na sua individualidade, garantir a sua integração, ou seja, o direito, o acesso, romper barreiras pedagógicas e metodológicas.
Eu penso que o metodológico é o principal e isso não é culpa do professor, porque se você for a qualquer curso de licenciatura, os dois milhões e cem mil professores não têm uma formação para lidar com tantos casos”, enfatizou o especialista em entrevista ao Diário do Aço.

Capacitação
Recentemente, casos de ameaças e violências envolvendo alunos autistas vieram à tona no Vale do Aço. O médico acrescenta que os profissionais ainda não sabem lidar com as atitudes extremas. “De cada 36 pessoas, 1 é autista, então é um fato, é uma necessidade de que os professores tenham atualizações baseadas em evidências científicas, que possam ser traduzidas em práticas reais para melhoria do cotidiano, do desenvolvimento. O que nós precisamos ter hoje? Precisamos entender a importância do diagnóstico preciso, do trabalho de uma equipe multiprofissional, o apoio dessa equipe aos professores, precisamos de espaços inclusivos e precisamos também a questão pedagógica, metodológica, porque na formação inicial nem sempre nós, professores, temos essas ferramentas, como, por exemplo, a questão do som, da luminosidade, dos materiais adaptados, dos métodos TEACCH, ABA, e como fazer intervenções em caso de birras, em casos de agressividade, quem eu chamo, o que que faço”, detalhou.
Matheus Valadares
Luís Vicente Ferreira foi um dos palestrantes do congresso de educação inclusiva Luís Vicente Ferreira foi um dos palestrantes do congresso de educação inclusiva


Metodologias ativas
Nesta segunda-feira (22), o professor esteve no Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, e foi um dos palestrantes do congresso “Todos os saberes e todos os olhares para a Educação Inclusiva”, voltado aos profissionais da rede municipal de ensino de Coronel Fabriciano. O evento foi promovido pelo Sebrae Minas e a administração municipal. O especialista abordou o tema “Metodologias Ativas: desmitificando teorias e práticas baseadas em evidências científicas”.

“A metodologia ativa significa colocarmos a criança no centro do processo, a criança como parte autônoma. Então, onde entra a inclusão? Inclusão é garantir a equidade, justiça, autonomia, interdependência e isso requer o que? Buscar ferramentas, buscar práticas em que eu coloque essa criança, não apenas como um espectador, mas como um participante, construtor do seu processo”, afirmou.

Para o médico, a inclusão integral de estudantes será possível com processos contínuos, não apenas esporádicos. “Para você conhecer o ser humano, o cérebro em sua questão de aprendizagem, você precisa de pelo menos 10 anos, que é o que a neurologia faz, então nós temos alguns subsídios, nós viemos aqui e trazemos pílulas, mas eles precisam de cases, reflexões, trazer as suas próprias práticas, discutir essas práticas para que nós tenhamos de fato a efetividade, isso acontecer, uma mudança, um crescimento”, finalizou.

Comprometidos com a educação inclusiva
Gabriela Deboni, analista do Sebrae Minas, disse o que é esperado como resultado deste congresso “Que cada vez mais a sala de aula seja um ambiente inclusivo, um ambiente acolhedor, onde todos os alunos possam ter ali o ensino e a educação, de uma forma acessível a todos”, resumiu.

De acordo com o secretário de Governança Educacional e Cultura, Carlos Alberto Serra Negra, o tema é de grande relevância para toda a rede municipal de educação de Coronel Fabriciano e o congresso marca um avanço importante na política educacional do município. “A gente tem que capacitar profissionais, criar políticas públicas e depois partir para ação, para garantir a efetividade da educação inclusiva na aprendizagem”, pontuou.

Ainda conforme Serra Negra, no município fabricianense há uma experiência colocada em prática para proporcionar mais inclusão aos estudantes.

“Principalmente professores e monitores têm que estar capacitados para entender os aspectos multifacetados da educação inclusiva. Por que eu falo multifacetados? Porque envolve educação, saúde, assistência econômica, família, envolve muito. E dentro das escolas, no ensino fundamental, nós temos uma sala de AEE, que é a educação especializada, justamente para proporcionar a esses alunos da educação, inclusive, uma condição de melhor aprendizagem”, concluiu.
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