
17 de setembro, de 2025 | 08:00
Siderurgia pede ajuda
Antônio Nahas Júnior *
No Congresso Aço Brasil, realizado recentemente, representantes do setor siderúrgico afirmaram sua preocupação com o duplo movimento que vem pressionando o setor: de um lado a elevação das tarifas para exportação de aço impostas pelo governo Trump ao Brasil e, do outro, o avanço das importações de aço da China.
Segundo estes representantes, em 2024, o Brasil exportou 4,08 milhões de toneladas para os Estados Unidos, o que significa quase a metade das exportações de aço do país.
A partir deste ano, as exportações devem cair, o que prejudicará a produção siderúrgica e a geração de empregos pelo setor. Não há ainda previsão de novos destinos para a produção que seria exportada para os EUA.
Mas a maior ameaça ao aço brasileiro vem da China. A projeção do Instituto Aço Brasil é que em 2025 as importações do aço chinês sejam superiores a seis milhões de toneladas. Vão crescer mais de trinta e cinco por cento relativamente ao ano passado.
O efeito somado destas variáveis já se faz sentir no mercado interno. A tendência é que a produção de aço e as vendas internas caiam em 2025. Enquanto isso, o consumo interno aumenta cinco por cento, devido às importações. O setor prevê para este ano a produção de 34 milhões de toneladas, muito abaixo das possibilidades da siderurgia. Prevê-se 35% de capacidade ociosa. E diversas empresas, entre elas a Usiminas, cogitam a realização de demissões.
É uma briga muito difícil com a China. Este país é o maior produtor mundial de aço, sendo que a sua produção supera um bilhão de toneladas. E tem seus problemas: produção excedente de 150 milhões de toneladas, procurando vende-las de todo jeito, mesmo que seja abaixo do seu custo.
Além disso é o maior parceiro comercial do Brasil, para onde é dirigida boa parte das comandities aqui produzidas.
E, nos tempos de hoje, impactados pelas profundas mudanças na relação entre países imposta pelo governo Trump, a China surge como nosso maior aliado. Sendo assim, é uma relação comercial e política em transformação e evolução, neste momento de profundas mudanças geopolíticas em todo mundo.
Nosso país lutou por décadas, ao longo do século XX, para conseguir sua industrialização”
Segundo relatório do Conselho Empresarial Brasil-China, divulgado pelo MDIC, entre os anos 2000 e 2024, as exportações do Brasil para a China evoluíram de forma exponencial. Hoje, 28% das nossas vendas externas vão para aquele país, totalizando 94 bilhões de dólares/ano. São poucos os produtos exportados relevantes, destacando-se soja; petróleo bruto e minério de ferro. E importamos 63 bilhões de dólares. Tivemos então um saldo comercial expressivo: mais de trinta bilhões de dólares.
E aconteceu uma coisa inesperada: exportamos matérias primas para a China e importamos bens industriais. Pode uma coisa desta? Em muitos casos, vendemos minério de ferro para importar depois o mesmo minério, transformado em carros; TVs; máquinas.
Esta realidade tem que mudar. Nosso país lutou por décadas, ao longo do século XX, para conseguir sua industrialização e deixar de ser fornecedor de matérias primas para o resto do mundo. E, agora, estamos voltando atrás. É importante agregarmos valor aos produtos que exportamos, transformando as matérias primas em bens semi industrializados, ou mesmo já prontos para o consumo.
E neste contexto enquadra-se a siderurgia. Esta indústria, que foi vital para nossa industrialização e emancipação econômica, não pode retroceder. Sua modernização rumo à sustentabilidade e agregação de valor aos produtos siderúrgicos é importante para o Vale do Aço, para Minas e para o Brasil.
O BNDES, com o programa Brasil Soberano, projetado para ajudar empresas prejudicadas pelo tarifaço dos EUA está aberto a sugestões e discussões. São 70 bilhões de reais. Foi o que vimos no Seminário realizado na Fiemg nesta semana em que o BNDES detalhou as linhas de crédito oferecidas.
Bom momento para que a indústria, parlamentares, governadores dialoguem e estruturem ações construtivas, que sejam boas para a siderurgia e para o Brasil. Para quem quiser acessar o relatório: www.cebc.org.br.
* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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