11 de setembro, de 2025 | 07:30

Setembro Amarelo e a urgência da prevenção ao suicídio

Odete Reis *


O mês de setembro é marcado pela cor amarela, símbolo de uma campanha que busca jogar luz sobre um tema sensível, mas que precisa ser debatido: a prevenção ao suicídio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que mais de 700 mil pessoas morrem, todos os anos, em decorrência do suicídio, enquanto um número vinte vezes maior tenta interromper a própria vida. No Brasil, são cerca de 44 mortes por dia. Trata-se, portanto, de uma questão de saúde pública que não pode mais ser ignorada.

O suicídio é um fenômeno multicausal, resultado da interação entre fatores individuais, sociais, culturais e ambientais. Nesse contexto, o mundo do trabalho tem um papel de destaque. Ainda que o trabalho seja fonte de reconhecimento, pertencimento e identidade, ele também pode se tornar um espaço de sofrimento, adoecimento e violência. O psicanalista francês Christophe Dejours nos lembra que “não há neutralidade do trabalho diante da saúde mental”, pois ele pode ser tanto mediador de autorrealização quanto causador de alienação e doença.

Estudos apontam que de 10% a 12% dos suicídios são relacionados ao trabalho. Não é difícil entender por quê: jornadas extenuantes, sobrecarga de demandas, pressões por resultados, insegurança quanto à permanência no emprego e práticas de assédio moral e sexual são fatores frequentemente associados ao comportamento suicida. Soma-se a isso a realidade de grupos mais vulneráveis, como desempregados, trabalhadores informais, pessoas negras, indígenas, migrantes e população LGBTQIAPN+, que enfrentam condições ainda mais desafiadoras e discriminatórias. O suicídio, como já definido há décadas, é um “fato social”, atravessado pelas desigualdades e pelas características do modelo de sociedade que escolhemos.
"A OMS alerta que mais de 700 mil pessoas morrem, todos os anos, em decorrência do suicídio, enquanto um número vinte vezes maior tenta interromper a própria vida"


O tema exige uma visão ampla, que vá além das questões individuais. A precarização das relações de trabalho, a falta de políticas públicas de proteção e a ausência de ambientes laborais saudáveis são elementos que precisam ser enfrentados coletivamente.

Outro desafio é a presença dos mitos, estigmas e preconceitos que rondam esse tema. São fatores que dificultam e limitam a abordagem e a prevenção, devendo ser desconstruídos. Como exemplo, o mito de que falar sobre suicídio aumenta os riscos de ocorrência, quando, na verdade, o silêncio é que potencializa o sofrimento e dificulta o acesso à ajuda. É fundamental quebrar barreiras, tratar o assunto com responsabilidade, ética e sensibilidade, e incentivar que trabalhadores e trabalhadoras busquem apoio sem medo de julgamentos.

O Setembro Amarelo nos lembra que a vida deve estar no centro das nossas escolhas — inclusive das escolhas institucionais e políticas. Investir em ambientes de trabalho mais humanos e saudáveis é parte essencial dessa luta. Prevenir o suicídio é também defender a dignidade do trabalho.

* Auditora-Fiscal do Trabalho e representante da Delegacia Sindical em Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (DS/MG – SINAIT).

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