05 de setembro, de 2025 | 07:00

O conhecimento liberta, a ignorância aprisiona

Miguel dos Santos *

O crescimento dos líderes políticos de extrema direita em vários países tem gerado espanto. Os indícios mostram que o Brasil virou um laboratório desses experimentos. Quase dinamitaram a jovem democracia nesse país sulamericano. E você imagina como começa um regime autoritário? Com tanques? Com censura? Com violência? Nem sempre. Às vezes começa com algo mais simples: com o medo e com o tédio. Adorno e Horkheimer (filósofos da primeira metade do século XX) já haviam alertado. O fascismo não precisa gritar. Primeiro, precisa que você pare de pensar.

O sujeito ideal para o autoritarismo não é o violento, é o obediente, o que repete. O que busca segurança, não verdade. A indústria cultural, a propaganda e a repetição formam um tipo de pessoa funcional ao poder. Uma pessoa passiva, impressionável, em busca de um líder que prometa ordem. O fascismo moderno não vem vestido de ditador, vem disfarçado de salvador. Promete limpeza, eficiência, unidade. Mas, para conseguir isso, precisa eliminar a diferença, o pensamento, a crítica.

Como se fabrica esse tipo de cidadão? Primeiro, pela repetição sem análise. Segundo, pela distração permanente. Terceiro, pela saturação emocional: medo, raiva, orgulho patriótico. Quarto, pela simplificação extrema: eles contra nós. Em vez de pensar, em vez de perguntar, seguimos. E assim se abrem as portas do autoritarismo. Hoje não é necessário um campo de concentração. Basta que você acredite que o outro é o inimigo. Basta que você não confie em ninguém. Basta que você aceite que tudo está perdido - a não ser que o líder chegue. E quando isso acontece, quando entregamos a liberdade pela ilusão de ordem, já não é necessário o golpe. O poder já está dentro. O fascismo moderno se constrói em silêncio, com o seu consentimento.

Não é por acaso que políticos da extrema-direita façam tantos ataques aos professores, às universidades, e à ciência. As ciências humanas são o alvo preferido de pessoas que se identificam com esse lado do espectro político.
São contra o conhecimento e ao pensamento crítico porque isso desafia dogmas e verdades absolutas. A filosofia ensina a questionar, a duvidar, a investigar. Pensadores como Sócrates, Kant ou Paulo Freire incentivam a autonomia intelectual. Já a extrema direita costuma se apoiar em narrativas rígidas, nacionalistas ou religiosas, que não toleram contestação.
“O sujeito ideal para o autoritarismo não é o violento, é o obediente, o que repete”


A filosofia promove a empatia e a diversidade. O pensamento crítico leva à compreensão de diferentes perspectivas, culturas e modos de vida. Isso entra em choque com visões ultraconservadoras que rejeitam pluralidade e promovem exclusão — seja racial, de gênero, religiosa ou ideológica.

A filosofia valoriza o debate público, a justiça e os direitos humanos. A extrema direita, por outro lado, frequentemente deslegitima instituições como a imprensa, o judiciário e a universidade, pois vê nelas obstáculos ao seu projeto autoritário.

Há uma tendência de glorificar a ignorância como virtude - algo que já foi chamado de “elogio da ignorância”. Isso se manifesta em ataques à ciência, à educação e à cultura, substituindo conhecimento por crenças simplistas e polarizadas.

É lamentável que no Brasil, após as eleições de 2018, houvesse um crescimento da retórica anti-intelectual, com cortes em programas educacionais, ataques a universidades e tentativas de censura a professores. A liberdade de cátedra foi colocada à prova. Isso foi interpretado por muitos estudiosos como parte de um projeto que busca enfraquecer o pensamento crítico e consolidar o poder por meio da desinformação.

* Economista.

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