31 de agosto, de 2025 | 10:00

Sem ideologia, sem projeto para o país, apenas focado no interesse pessoal

Carlos Alberto Costa *

Saí cedo neste sábado para ir à feira comprar produtos de uns produtores rurais, na esperança de trazer algo um pouco mais saudável para casa e acabei voltando com uma inquietação. O cidadão comum, aquele que trabalha duro para dar o mínimo de conforto para a sua família, não passa mesmo de uma massa de manobra. Levam a vida de gado, sem entender o que ocorre à sua volta, principalmente com os crápulas que conduzem o destino da nação. Pois foi na manhã de sábado que, ao me encontrar com dois antigos conhecidos, conversa vai, conversa vem, um deles pergunta o que é o Centrão da política. E o outro também disse que gostaria de saber. Pois vejam que situação. Há um bom tempo é impossível ler qualquer noticiário sobre a política sem ver citado o tal "centrão". Afinal, o que é esse tal de Centrão, que virou quase um sinônimo de corrupção? E pasmem, a maioria não sabe mesmo o que é, a exemplo dos dois conhecidos da feira. Então vamos lá.

Em resumo, o Centrão trata-se de um grupo de políticos de variados partidos que está sempre no poder, ora na Câmara dos Deputados, ora no Senado, às vezes nas Assembleias Legislativas.

E não importa se o governo é de esquerda ou de direita, eles se adaptam e a corrupção deles também se adapta. É importante entender que o Centrão não tem projeto de país. Eles têm projeto de poder, querem cargos, verbas, influência. E vocês sabem onde todo esse poder se concentra? Na presidência da Câmara dos Deputados. Quem comanda a Câmara decide o que vai para a votação e o que é engavetado, se o presidente continua ou é impitimado, e até quem controla bilhões no orçamento público. Ou seja, se até vota, o presidente até muda. Entra direita, entra esquerda, mas quem tem muito poder nas mãos continua firme e forte. Você sabe por quê? Por causa do nosso modelo político: o presidencialismo de coalizão. Ou seja, o presidente precisa se aliar a vários partidos no Congresso. E isso faz com que o Congresso vire um balcão louco de negócios. Cargos, verbas e influência em troca de apoio político. E, no centro desse jogo, está o Centrão.

“Não importa se o governo é de esquerda ou de direita, eles se adaptam e a corrupção deles também se adapta”

Lembram-se da famigerada Operação Lava Jato, que investigou um esquema de corrupção envolvendo contratos bilionários na Petrobras? Os parlamentares do PP, um dos partidos do Centrão, representaram mais da metade do número total de investigados. Dos 34 congressistas investigados, 18 eram do PP. Por incrível que pareça, o PT, partido do governo na época, e o MDB, da base de apoio, tiveram apenas dois cada um. Abri esse parêntese só para exemplificar mesmo por onde navega o barco dessa banda do espectro político brasileiro.

A ideologia deles não é de direita e nem de esquerda. A ideologia deles é: quem paga mais. Enquanto isso, o povo briga nas redes sociais como se só o presidente do governo X ou Y decidisse tudo sozinho. Sem perceber quem está articulando e tem poder dentro da Câmara. Hoje, por exemplo, eu perguntei a dois conhecidos, cidadãos comuns, se eles sabiam quem é o presidente da Câmara. Eles não se lembraram do nome de Hugo Mota, do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Só para vocês terem uma noção, o Republicanos já foi base aliada do governo Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. O Republicanos esteve no pedido de impeachment da Dilma e hoje está no poder da Câmara durante o governo Lula. Essa é a política brasileira.

Também é fácil perceber que todo mundo abre a boca pedindo mudanças. Mas, se queremos alguma mudança temos que buscar conhecimento e saber olhar o todo. Principalmente, tem que olhar para quem controla o Congresso, para quem faz chantagem com o orçamento público, para quem se mantém no poder governo após governo, para quem decide até qual presidente do Brasil fica e qual presidente sai. Não é à toa que estamos vendo neste momento, partidos se mobilizando para garantir as maiores bancadas possíveis, no Congresso. É lá que está o verdadeiro comando do país. Então, quando for escolher o deputado ou senador em 2026, lembre-se que estará escolhendo o futuro do seu país, senão para você, será por seu filhos e netos, ou isso não te importa mais?. O maior medo do sistema é um cidadão consciente que sabe até onde vai a toca do coelho.

* Professor aposentado.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço