28 de agosto, de 2025 | 14:17

Polícia Civil detalha investigação que levou à prisão do cantor sertanejo Relber André

As equipes da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Ipatinga apresentaram os detalhes da investigação que resultou na prisão do cantor sertanejo Relber André Pereira Costa, de 44 anos, detido na noite de terça-feira (26) em Belo Horizonte, momentos antes de subir ao palco de uma casa de shows. O artista, que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Ipatinga, está atualmente recolhido no Sistema Prisional do Vale do Aço.

A prisão está relacionada a um acidente ocorrido em 6 de julho, na conhecida “Ponte Metálica” da BR-458, entre Santana do Paraíso e Caratinga. Na ocasião, segundo as investigações, Relber conduzia uma caminhonete VW Amarok em alta velocidade, sob efeito de álcool, forçou uma ultrapassagem e, na contramão sobre a ponte, colidiu contra um Chevrolet Spin com três ocupantes.

No total, quatro pessoas foram vítimas desse acidente, incluindo o passageiro que acompanhava o cantor. O passageiro perdeu parte de uma das orelhas. Um ocupante do carro atingido saiu com fratura no fêmur. Apesar da gravidade, não houve mortes, mas o caso passou a ser tratado como tentativa de homicídio doloso, diante da configuração do dolo eventual (o condutor sabia do risco de causar acidente com o resultado morte).

Histórico de imprudência
A delegada regional Talita Martins destacou que o histórico de imprudência do cantor foi determinante para o pedido de prisão preventiva. Em 2020, Relber já havia sido conduzido por embriaguez ao volante e porte de arma. Dois anos depois, voltou a ser investigado pelo mesmo crime de trânsito, o que levou à suspensão e posterior cassação da carteira de habilitação.

“Apesar de não ter havido morte no acidente, a forma como ele conduzia o veículo, somada às reincidências em dirigir embriagado, evidenciam o risco assumido de provocar um resultado letal. Por isso entendemos que se trata de dolo eventual e não de mera infração de trânsito”, afirmou.

Talita também confirmou que Relber já esteve envolvido em outro caso grave, em que um motociclista foi atingido pelo carro de Relber e morreu.

Além das passagens recentes por dirigir embriagado, ele já esteve ligado a um acidente fatal em 2016, nas proximidades do Distrito de Vale Verde de Minas, em Caratinga, na BR-458, quando um motociclista morreu ao ser atingido pelo Honda Fit que pertencia a Relber.

No acidente ocorrido no dia 13 de março, morreu o autônomo Alberone Martins de Oliveira, de 32 anos. Ele estava na moto e foi atingido pelo Honda Fit que entrou na contramão para escapar de um radar que existia no trecho. Na época, Relber procurou a polícia e alegou que não era ele o motorista e sim, outra pessoa que pegou o veículo dele sem sua autorização. O caso atualmente está em segredo de Justiça, na Comarca de Caratinga. A íntegra da entrevista pode ser assistida neste vídeo:

Prisão em Belo Horizonte, sem resistência

A operação para a captura do cantor foi planejada em conjunto com a Polícia Civil de Belo Horizonte. Sem apresentar resistência, Relber foi surpreendido no camarim do estabelecimento em que se apresentaria.

A delegada Talita Martins explicou que a equipe já monitorava a movimentação, mas teve dificuldades em localizá-lo após a expedição do mandado de prisão, uma vez que o cantor reduziu sua exposição em mídias sociais e a realização de shows. O receio de uma possível fuga, inclusive para o exterior, acelerou as diligências. “Foi uma oportunidade precisa. Ele não reagiu, colaborou durante todo o procedimento e não houve necessidade de algemas”, pontuou Talita.

Investigação de bar em bar
O delegado Alexandro Caetano, responsável pelas investigações da Delegacia de Santana do Paraíso, detalhou o trabalho que levou à comprovação da embriaguez e da condução perigosa do veículo. Segundo ele, Relber admitiu ser o condutor da caminhonete Amarok e testemunhas também confirmaram sua presença ao volante.

Para consolidar a apuração, a Polícia Civil reuniu provas do trajeto percorrido naquela noite. Na tarde de quarta-feira (27), conforme noticiado pelo Diário do Aço, policiais percorreram vários estabelecimentos.

Comandas recolhidas em bares da região revelaram consumo elevado de bebidas alcoólicas pouco antes do acidente, chegando a aproximadamente R$ 400, pagos em nome da mãe do cantor.

“As notas confirmam que houve ingestão significativa de álcool. Somado a isso, analisamos imagens de câmeras que mostram o veículo trafegando em alta velocidade, chegando a passar em sinal vermelho na avenida Brasil (bairro Iguaçu). Estimamos que ele conduzia a cerca de 80 km/h, de forma agressiva, até a colisão com outro veículo na ponte, local já reconhecido pela periculosidade”, relatou o delegado.

Estabelecimentos alvo de mandados de busca e apreensão

Durante as diligências, a Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão em bares que o investigado frequentou na noite do acidente e em sua residência. Alguns estabelecimentos não colaboraram espontaneamente, o que exigiu a apreensão de equipamentos e documentos. Na casa de Relber foram encontradas munições, cuja legalidade ainda será analisada, já que o cantor já teve registro válido de arma de fogo.

Segundo Alexandro Caetano, a investigação agora entra em sua fase final. O delegado explicou que o inquérito deve ser concluído e relatado em até dez dias, sendo encaminhado ao Ministério Público e ao Judiciário. “Esse caso não é tratado como crime de trânsito, mas como crime contra a vida. Diante das circunstâncias do acidente, do consumo de álcool e dos antecedentes do investigado, o entendimento é de que ele responderá no Tribunal do Júri por quatro tentativas de homicídio doloso”, afirmou.